18/10/2010
Ana Flora Caminha
Restrito ao estado do Rio Grande do Sul, o bioma
Pampa não era reconhecido oficialmente como
bioma até 2004, quando entrou para o Mapa
de Biomas Brasileiros, uma parceria do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística e do
Ministério do Meio Ambiente. Pastagens, campos,
pecuária e agricultura são imagens
comumente identificadas com o bioma Pampa. Poucos
sabem, no entanto, que a área de 700 mil
km2, dividida em quatro países - Argentina,
Brasil, Paraguai e Uruguai -, guarda uma grande
e rica biodiversidade, com flora e fauna próprias.
Estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies
vegetais, mais de 100 mamíferos e quase 500
espécies de aves.
Com uma área original no
território brasileiro de 176,5 mil km2 ,
a vegetação nativa do Pampa vem sofrendo
uma supressão sistemática e histórica
pela expansão agrícola, que se iniciou
nos anos 1970, estende-se até os dias de
hoje e se agrava atualmente com os reflorestamentos
de espécies exóticas plantadas para
a fabricação de papel. Segundo dados
do IBGE, de 1970 a 1996, as áreas de campos
diminuíram de 14 para 10,5 milhões
de hectares, uma conversão de 25%. De acordo
com os dados do inédito Projeto de Monitoramento
do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite,
já foi suprimida 54% da área original
do Pampa. Entre os anos de 2002 e 2008, foram perdidos
364 km2 1,23% da área original do bioma.
Representando 2,07% do território
nacional e cerca de 63% da área do estado
gaúcho, o Pampa tem quatro paisagens predominantes,
sendo o planalto da campanha o mais reconhecido:
relevo suave ondulado coberto por gramíneas
e usado como pastagem natural, pastagem manejada
e para atividades agrícolas, principalmente
o cultivo de arroz, que precisou drenar grandes
áreas alagadas.
Outra atividade econômica
característica do Pampa é a pecuária
que, segundo o último Censo Agropecuário
Brasileiro (IBGE, 2006), cobre 44% da cobertura
vegetal do Rio Grande do Sul, o que equivale a 70%
do total da área destinada à pecuária
na região sul. São dois tipos de pastoreio:
o intensivo e o extensivo. O intensivo contribui
para a degradação dos campos, acelerando
o processo de arenização em boa parte
do estado. Já a criação de
gado extensiva, atividade que acontece desde o século
17, é a própria imagem da cultura
gaúcha e contribui para a manutenção
e preservação da vegetação,
ajudando a manter a integridade dos ecossistemas
campestres, com uma linha tênue que separa
o uso sustentável da degradação.
Conservação da biodiversidade
- A conservação da biodiversidade
contribui para a manutenção de áreas
de nascentes nas regiões de campo, dos mananciais
hídricos e das áreas de recarga do
aquífero Guarani. A descoberta recente de
novas espécies de peixes e crustáceos
em corpos dágua inseridos na região
dos campos do Rio Grande do Sul vem corroborar a
importância da manutenção de
tais áreas, uma vez que ainda há organismos
desconhecidos.
Segundo dados da atualização
das Áreas e Ações Prioritárias
para a Conservação, Uso Sustentável
e Repartição de Benefícios
da Biodiversidade, apenas 3,6% das áreas
prioritárias estão sob algum tipo
de proteção - unidades de conservação
ou terras indígenas. Recentemente, MMA e
Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade - ICMBio concluíram estudos
e audiências públicas para criação
de três novas unidades de conservação
de proteção integral nos Campos Sulinos:
Parque Nacional do Campo dos Padres (SC), com cerca
de 56.000 hectares, Refúgio de Vida Silvestre
do Rio Tibagi (PR), com 23.100 hectares; e Refúgio
de Vida Silvestre do Rio Pelotas (RS/SC), com 262.000
hectares. Outras iniciativas importantes para o
uso sustentável do bioma Pampa são
o turismo rural, o turismo de aventura e o turismo
ecológico, assim como a atividade agropecuária,
indissociável da cultura local.
+ Mais
G-77 propõe plano de cooperação
sobre a Biodiversidade para o Desenvolvimento
19/10/2010
No primeiro Fórum de Cooperação
Sul-Sul sobre a biodiversidade para o Desenvolvimento,
realizada em Nagoya, Japão, no dia 17 de
outubro, o Grupo dos 77 e China aprovou por unanimidade
um projeto de Plano Plurianual de Ação
sobre o tema. "O plano define metas e estratégias
de cooperação Sul-Sul, incluindo a
cooperação triangular e programas
para o ano de 2020", disse o presidente do
G-77, Abdullah Alsaidi, representante permanente
do Iêmen na ONU. "Ele reflete a necessidade
de incluir a perda de biodiversidade em outros acordos
Sul-Sul e, consequentemente, serve como apelo por
um maior intercâmbio de conhecimento e tecnologia
entre os Estados-membros", disse.
"A aprovação
do Plano pelo Grupo dos 77 e China é um marco
para o êxito da décima reunião
da Conferência das Partes", afirmou o
secretário-executivo da Convenção
sobre Diversidade Biológica (CDB), Ahmed
Djoghlaf. Representantes do Brasil, Granada e Malauí
destacaram a importância da união de
todas as 131 partes do grupo para o sucesso global
da Conferência das Partes (COP 10), particularmente
em questões-chave, como a adoção
do regime internacional sobre acesso e repartição
de benefícios e o Plano Estratégico
2011-2020, além de mecanismos de financiamento
para apoiar a sua implementação.
"Os países desenvolvidos
são os nossos parceiros, e devemos procurar
a colaboração construtiva com eles",
afirmou Alsaidi, em nome do Grupo dos 77 e China.
"Estamos ansiosos para aprovar o plano na reunião
da Conferência das Partes da Convenção
sobre Diversidade Biológica e pedimos o apoio
dos nossos parceiros para a sua implementação",
disse.
Fonte: CDB.