26 Outubro 2010
Mais de 1.200 espécies novas de plantas e
de animais vertebrados foram descobertas no bioma
Amazônia entre 1999 e 2009. Isso significa
uma nova espécie a
cada três dias e confirma a Amazônia
como um dos lugares mais diversos do planeta, segundo
o relatório Amazônia Viva: uma década
de descobertas 1999-2009, da Rede WWF.
“O relatório demonstra
claramente a incrível diversidade de vida
na Amazônia”, afirmou Francisco Ruiz, coordenador
da Iniciativa Amazônia Viva da Rede WWF. “O
relatório nos faz lembrar quanto ainda temos
que aprender sobre essa região única
e o que pode se perder se não promovermos
a conservação ambiental, garantindo
o fornecimento de benefícios econômicos,
sociais e ambientais para a população
amazônica e também para aquelas que
vivem na zona de influência climática
da Amazônia, que é muito ampla”, acrescentou.
Para Cláudio Maretti, superintendente
de conservação do WWF-Brasil, o relatório
é um grande incentivo para o trabalho de
conservação da biodiversidade no país.
“O Brasil é o país com o maior número
de espécies descobertas nessa década.
Foram 280 novas espécies. Seis das sete espécies
de primatas descobertas estão no Brasil.
Temos que continuar protegendo a Amazônia
e conservando ainda mais essa grande riqueza do
país”, afirmou Maretti.
As novas espécies descritas
no relatório Amazônia Viva: uma década
de descobertas 1999-2009 compreendem 637 plantas,
257 peixes, 216 anfíbios, 55 répteis,
16 aves e 39 mamíferos.
Veja abaixo algumas das fantásticas
descobertas:
A serpente Eunectes beniensis
foi a primeira espécie nova de sucuri identificada
desde 1936. Essa sucuri mede quatro metros de comprimento
e foi descrita em 2002 na Amazônia boliviana.
Ela foi identificada primeiramente na província
de Bení e, mais tarde, foi encontrada também
nas planícies alagadas da província
de Pando. Inicialmente pensou-se que a Sucuri-boliviana
fosse uma espécie híbrida das sucuris
verde (Eunectes murinus) e amarela (Eunectes notaeus),
mas posteriormente foi constatado que se tratava
de uma espécie distinta.
A rã Ranitomeya amazonica
é uma das espécies mais extraordinárias
que existem e se caracteriza por uma incrível
explosão de chamas estampada na cabeça,
que contrasta com o padrão de água
desenhado nas pernas. O habitat principal dessa
rã é a floresta úmida primária
de terras baixas (várzea) nas cercanias de
Iquitos, na região de Loreto, no Peru. Ela
também foi encontrada na Reserva Nacional
Alpahuayo Mishana National Reserve, ainda na Amazônia
peruana.
O Papagaio-de-cabeça-laranja
(Pyrilia aurantiocephala) se caracteriza por uma
extraordinária cabeça careca e seu
impressionante espectro de cores. Ele é conhecido
somente em algumas localidades dos Baixo Rio Madeira
e do Alto Rio Tapajós, no Brasil. Essa espécie
está na lista das “quase ameaçadas”,
pelo fato de sua população ser razoavelmente
pequena e estar em declínio devido à
perda de habitat.
O Boto-cor-de-rosa foi registrado
pela ciência na década de 1830 como
Inia geoffrensis. Em 2006, encontrou-se evidência
científica da existência de outra espécie
de Boto-cor-de-rosa na Bolívia, o Inia boliviensis.
Alguns cientistas, no entanto, consideram que se
trata de uma subespécie do Inia geoffrensis.
A diferença da espécie boliviana é
que ela tem um número maior de dentes, uma
cabeça menor e um corpo também menor
-- embora mais largo e mais redondo -- do que os
demais botos-cor-de-rosa conhecidos há mais
tempo.
O peixe Phreatobius dracunculus,
uma espécie de bagre cego e minúsculo,
de cor vermelho vivo e que vive principalmente em
águas subterrâneas, foi encontrado
no estado de Rondônia, no Brasil. A espécie
surgiu no vilarejo Rio Pardo, quando, acidentalmente,
alguns espécimes ficaram presos dentro dos
baldes usados para retirar a água de um poço
recém aberto. Desde então, essa espécie
já foi encontrada em 12 de um total de 20
poços da região.
Infelizmente, as ameaças
contra a Amazônia crescem com rapidez. Nos
últimos 50 anos o ser humano provocou a destruição
de pelo menos 17% da floresta tropical úmida
da Amazônia – isso equivale a uma área
maior do que a da Venezuela e o dobro da Espanha.
Uma das principais causas dessa transformação
é a rápida expansão dos mercados
regional e mundial para a carne, soja e biocombustíveis,
o que provoca o aumento da procura pela terra. Estima-se
que 80% das áreas desmatadas na Amazônia
estejam ocupadas por pastagens para o gado.
Além disso, a Amazônia
sofre o impacto dos modelos de desenvolvimento não-sustentável,
do rápido crescimento econômico na
região e da crescente demanda energética.
As florestas da Amazônia
abrigam não somente a maior diversidade de
vida do planeta como, também, estocam entre
90 e 140 bilhões de toneladas de carbono.
A liberação de até mesmo uma
pequena porção desse carbono, como
resultado da perda florestal e da mudança
no uso da terra, iria acelerar o aquecimento global
de forma significativa e comprometer a vida no planeta
assim como nós a conhecemos.
“É preciso agir com urgência
e imediatamente se quisermos evitar esse cenário
assustador”, destacou Francisco Ruiz. “O destino
da Amazônia – e de suas espécies, sejam
elas conhecidas ou ainda a serem descobertas – depende
de uma mudança significativa no atual modelo
de desenvolvimento adotado em todos os países
amazônicos”, concluiu Ruiz.
A Rede WWF, por meio da Iniciativa
Amazônia Viva, desenvolve uma abordagem abrangente
para trabalhar com os governos, a sociedade civil
e o setor privado para promover o processo transformador
necessário para produzir um cenário
alternativo que permita conservar melhor a biodiversidade
da Amazônia.
O objetivo é desenvolver
uma visão compartilhada da conservação
da natureza e do desenvolvimento que seja sustentável
do ponto de vista ambiental, econômico e social;
onde os ecossistemas naturais sejam valorizados
adequadamente pelos bens ambientais que eles fornecem;
os direitos de propriedade e uso da terra e dos
recursos naturais sejam planejados; a agricultura
e a pecuária sejam realizadas de acordo com
as melhores práticas; e o planejamento da
infraestrutura para energia e transportes seja feito
de forma a minimizar os impactos ambientais e o
empobrecimento da diversidade cultural.
Uma parte da solução
para que os países amazônicos possam
salvaguardar a diversidade de habitat e as espécies
da Amazônia está em apreciação
pelos governos reunidos na Convenção
sobre Diversidade Biológica das Nações
Unidas, que ocorre em Nagoia, Japão: trata-se
de uma abordagem plurinacional para criar um sistema
de áreas protegidas na Amazônia que
seja bem completo e tenha gestão eficaz.
“Muitas das descobertas de novas
espécies aconteceram na rede de áreas
protegidas da Amazônia”, observou Yolanda
Kakabadse, presidente da Rede WWF. “Este ano – em
que se comemora o Ano Internacional da Biodiversidade
– é uma excelente oportunidade para que os
chefes de Estado ajudem a proteger ainda mais a
biodiversidade da Amazônia, para garantir
a sobrevivência de espécies que vivem
nessa região, assim como o fornecimento continuado
de bens e serviços ambientais que beneficiam
a todos nós”, concluiu Kakabadse.
Fatos sobre a Amazônia
Essa região abrange a maior
floresta úmida e o maior sistema fluvial
do planeta. A Amazônia é composta de
mais de 600 tipos diferentes de habitat terrestre
e aquático, que vão desde pântanos
e pastagens naturais até florestas montanas
e de terras baixas (várzea e igapó).
A Amazônia abriga 10% das espécies
conhecidas em todo o mundo, o que é incrível,
inclusive flora e fauna endêmicas e que estão
ameaçadas (de extinção).
O rio Amazonas é de longe
o maior rio do mundo em termos do volume de descarga
d’água no oceano. Com apenas duas horas de
fluxo do Rio Amazonas seria possível satisfazer
todas as necessidades de água dos aproximadamente
7.5 milhões de habitantes da cidade de Nova
Iorque durante um ano inteiro.
Mais de 30 milhões de pessoas
que vivem na Amazônia dependem de seus recursos
(naturais) e serviços – e outros tantos milhões
de pessoas que vivem bem longe dessa região,
como na América do Norte e na Europa, também
estão dentro da zona de influência
climática da Amazônia, que é
extremamente ampla.