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ZERAR O DESMATAMENTO É POSSÍVEL

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Outubro de 2010

Ao contrário do que pensam Dilma e Serra, zerar o desmatamento não é um sonho. É uma política para tornar o Brasil um exemplo e garantir sua prosperidade futura.
Na quarta-feira, dia 21 de outubro, depois de se recusar a assinar um pedido do Greenpeace de comprometimento com o desmatamento zero, a candidata à Presidência pelo PT, Dilma Rousseff, chamou a proposta de demagógica. No dia seguinte, José Serra, do PSDB, imitou sua adversária e negou-se a assinar o pedido do Greenpeace. Afirmou que precisaria analisar o documento, que não tem mais do que quatro linhas.

Dilma, depois de olhar o papel e não assiná-lo, disse que está empenhada em reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% (não mencionou os outros biomas) e reiterou que não assina “qualquer compromisso que botam na minha frente”. Achou, aliás, a atitude das ativistas do Greenpeace desrespeitosa. Não houve qualquer intenção de desrespeito. Apenas a defesa de um ponto de vista – como a própria candidata reconheceu ao pedir aos militantes do seu partido que deixassem as ativistas se manifestarem.

Exigir o compromisso do país com o desmatamento zero também não tem nada de demagógico e não é uma coisa qualquer. Trata-se de uma visão que tem todas as condições de virar realidade. Ela transformaria o Brasil de uma vez por todas num país do século 21, capaz de servir de exemplo para outras nações em todo o mundo. A política de desmatamento zero protegeria definitivamente o muito que ainda temos de biodiversidade e recursos naturais.

Também contribuiria de maneira fundamental para reduzir as emissões brasileiras de gases que causam o aquecimento global. De quebra, geraria renda e emprego de qualidade nas atividades de conservação, vigilância e uso sustentável dos produtos florestais. O próprio governo, aliás, conhece o lado ruim da destruição das florestas (basta ler seu próprio plano de combate ao desmatamento, o PPCDAM).

Salvar floresta garante economia

A recusa de Dilma e Serra em assinar o compromisso contraria ainda o entendimento de importantes setores da economia nacional, como a indústria da soja e os maiores frigoríficos do país, que já incorporaram o esforço de acabar com o desmatamento em suas cadeias de produção. Afinal de contas, já existem áreas desmatadas suficientes no Brasil para que a produção agropecuária se expanda sem que seja necessário avançar sobre as florestas.

Os setores mais avançados do agronegócio sabem muito bem que o Brasil tem todas as condições de consolidar sua atual posição de potência agrícola – e conquistar cada vez mais mercados externos – sem precisar derrubar mais uma árvore. Para tanto, bastam respeito à lei e investimentos em produtividade.

O desmatamento zero busca assegurar a conservação das nossas florestas devido a sua crucial importância na manutenção do equilíbrio climático, da conservação da biodiversidade e da preservação do modo de vida de milhões de pessoas que dependem dela para sobreviver. Uma política de desmatamento zero não impede que árvores sejam cortadas e utilizadas. O que ela se propõe a acabar é com o corte raso e a degradação de grandes extensões de mata, um problema que acompanha o país desde o descobrimento e que ainda assola a Amazônia e o cerrado.

O objetivo de uma política de desmatamento zero é dar corpo a uma gestão cuidadosa da floresta que ainda existe, com o estabelecimento de todo o remanescente como reserva florestal nacional, com exceção dos que se encontram em propriedades particulares e em casos que envolvam populações tradicionais e indígenas. A meta de obter uma redução de 80% do desmatamento até 2020, com relação à média do corte registrado entre 1996 e 2005, prometida pelo presidente Lula e endossada pela sua candidata, é insuficiente.

Reduzir emissões

À luz da atual crise climática global, permitir a derrubada de 20% de mata em relação à média do período significa muito mais do que “ter sempre alguém cortando alguma coisa”. O presidente precisa botar seus assessores para fazer contas. Estima-se que em cada quilômetro quadrado da floresta amazônica, para ficarmos apenas em um exemplo, existam entre 45 mil e 55 mil árvores com mais de dez centímetros de diâmetro.

A lógica presidencial, que admite que o Brasil continue derrubando cerca de 3.900 km2 da Amazônia em 2020, significa que o país perderá, apenas naquele ano, entre 175 milhões e 215 milhões de árvores. Isto está longe de ser um pauzinho qualquer. A diferença entre a proposta do Greenpeace de zerar o desmatamento em 2015 e a de Lula e Dilma – Serra não deixa claro qual é a sua – de permitir 20% de desmatamento em 2020, equivale a aceitar que nesse intervalo de cinco anos o Brasil perderá entre 800 milhões e 1 bilhão de árvores na Amazônia.

Francamente, é um número inaceitável. Como por sinal parecia ser inaceitável para o próprio Lula no ano passado. Em junho de 2009, em Alta Floresta (MT), ele disse que “se houve um momento em que a gente podia desmatar, agora desmatar joga contra a gente e vai nos prejudicar no futuro. Hoje, em vez de dizer que não pode cortar árvore, nós temos de incentivar e pagar para as pessoas plantarem árvores", afirmou.

Além de ser a forma mais barata e rápida de combater as mudanças climáticas, zerar o desmatamento é fundamental para o desenvolvimento econômico do país no longo prazo. As chuvas produzidas pelas grandes massas florestais que ainda existem em nosso território e as matas que protegem as margens de rios em todo o país nos defendem de enchentes e são importantes para a geração de energia, a produção de alimentos e o abastecimento de água no Brasil.

Ter como meta resguardar o que ainda nos resta de matas é buscar um futuro melhor para as gerações de brasileiros que virão. O Greenpeace se coloca à disposição de Dilma, e de seu adversário, Serra, para esclarecer quaisquer dúvidas que ambos tenham sobre o conceito de desmatamento zero, a fim de construir um Brasil mais sustentável, justo e de fato inserido no esforço global contra as mudanças do clima.

E, apenas para ajudá-los na sua reflexão sobre esse futuro, não custa lembrar que o Brasil já perdeu mais de 700 mil quilômetros quadrados de floresta amazônica nas últimas quatro décadas. Nessa área, entre 33 bilhões e 41 bilhões de árvores viraram fumaça, ajudando a transformar o Brasil no quarto maior emissor mundial de gases que provocam o aquecimento global.

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Cadê o rio que estava aqui?

Numa década de cheias e secas recordes, Greenpeace alerta candidatos à presidência para os efeitos que o desmatamento e uso de energia suja podem causar ao planeta.

Um ano depois que o Amazonas enfrentou sua maior cheia da história, é a vez do Rio Negro encarar a maior de todas as secas. No último domingo, o leito do Negro, que encontra o Solimões em frente a Manaus para formar o rio Amazonas, atingiu o nível mais baixo já registrado, ficando quase quatro metros abaixo da média. Foi nesse cenário, onde imensos bancos de areia surgiram no meio do rio, largos canais viraram estreitos córregos e embarcações ficaram encalhadas, que o Greenpeace estendeu uma faixa para os candidatos à presidência: “Desmatamento zero e energias renováveis já”.

“Está mais do que provado que o desmatamento e o uso de fontes de energia sujas estão umbilicalmente ligadas ao aquecimento global, que provoca mudanças climáticas”, diz o diretor da campanha Amazônia do Greenpeace, Paulo Adario. “O problema é que um problema alimenta o outro: mais aquecimento – cuja principal causa é o uso de combustíveis fósseis - aumenta a flamabilidade das florestas e tende a converter a Amazônia num grande cerrado; mais desmatamento aumenta o aquecimento global. E num contexto assim, eventos extremos como o que a Amazônia enfrenta agora acontecerão numa frequência cada vez maior”.

Aparentemente, já estão acontecendo. Em apenas cinco anos, o estado do Amazonas assistiu a duas secas dramáticas – em 2005 e agora – e a duas cheias acima da média – em 2008 e 2009. Para especialistas, a expectativa é que esses extremos ocorressem a cada 50 anos. Mas estão aí. E cada vez que acontecessem, dezenas de municípios entram em situação de emergência, com fortes impactos sociais e econômicos.

Na seca atual, os impactos ambientais são visíveis por toda parte, principalmente nos lagos, hoje secos, onde os peixes se reproduzem e na floresta, cada vez mais inflamável.

“Nos últimos 40 anos, o Brasil destruiu mais de 700 mil quilômetros quadrados de floresta amazônica e é hoje o quarto maior emissor de gases de efeito estufa. Zerar o desmatamento até 2015 é o caminho mais rápido que o Brasil deve tomar para ajudar a frear o aquecimento global”, afirma Adario. “Mas o esforço de derrotar o desmatamento pode ser insuficiente se política energética brasileira continuar a andar na contramão da tendência global, ao incentivar fontes sujas e finitas que jogam toneladas de CO2 na atmosfera”.

Há uma década, a matriz energética brasileira era 92% baseada em fontes renováveis. Hoje, esse índice caiu para 80%, graças principalmente à participação de térmicas a óleo que sujam a matriz e a imagem do país. O Greenpeace tem estudos que comprovam ser factível construir uma matriz energética 100% renovável no fim deste século, sem afetar o crescimento econômico do país, com uma gama maior de fontes como eólica, biomassa, solar e pequenas centrais hidrelétricas.

Porém, os candidatos à presidência, Dilma e Serra, não parecem realmente preocupados com o futuro do país. Durante a campanha eleitoral, nenhum dos dois deu um pio sequer sobre o incentivo às fontes renováveis. Em relação à Amazônia, após pressão da sociedade civil ambos resolveram se dizer a favor do desmatamento zero. Mas não assinaram qualquer compromisso, e tampouco disseram como chegariam lá. Enquanto os dois preferem ficar no discurso, na vida real o rio Negro parece começar a subir de novo.
Será para uma nova cheia recorde?


 

Fonte: Greenpeace-Brasil
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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