Banco BNP Paribas, por trás
do financiamento de Angra
3, ignora potencial das renováveis e só
investe em nuclear. Nós fomos pedir para
mudarem a letra em evento na França.
Em plena final do torneio French
Masters de tênis, ativistas do Greenpeace
dançaram um "samba de uma nota só",
em homenagem às avessas ao banco BNP Paribas,
patrocinador do evento, que só sabe investir
em nuclear e ignora o potencial das energias renováveis.
O BNP Paribas é o maior
financiador do mundo de energia nuclear. Está
por trás, inclusive, da construção
de Angra 3, no Rio de Janeiro.
Quatro ativistas do Greenpeace,
com faixas dizendo "BNP, pare os investimentos
radioativos", levaram a mensagem aos espectadores
do jogo, muitos clientes do banco, antes de serem
levados pelos seguranças. Ontem, outro protesto
também realizado durante o torneio passou
a mesma mensagem.
"O banco está brincando
com a segurança dos brasileiros. Ao utilizar
o dinheiro de seus clientes para financiar a construção
de Angra 3, o BNP investe em um programa nuclear
perigoso e obsoleto", afirma André Amaral,
coordenador da campanha de nuclear do Greenpeace
no Brasil. "O Brasil não precisa de
um reator nuclear. O país tem bastante potencial
para basear-se em fontes de energia renováveis.
A construção de Angra 3 tem de ser
cancelada."
A construção de
Angra 3 começou em 1984 e foi interrompida
em 1986, depois do desastre nuclear de Chernobyl,
quando os bancos retiraram seu financiamento de
projetos do tipo. A maioria dos equipamentos que
serão usados para finalizar o reator é
anterior a Chernobyl e mofa no local há 25
anos. Na França, por exemplo, país-sede
do BNP, eles não poderiam ser usados - mas
no Brasil nada é questionado.
Outros problemas demonstram que
a construção de Angra não deveria
sair do papel. Só existe uma estrada de acesso
ao local, que é frequentemente bloqueada
devido a deslizamentos de terra. O Brasil ainda
não apresentou uma solução
permanente e segura para a estocagem dos rejeitos
nucleares, assim como nenhum outro país do
mundo.
Não houve nenhuma análise
adequada de segurança da usina, com violação
de normas internacionais. Em julho, um promotor
público brasileiro chegou a recomendar à
Eletronuclear e à Comissão Nacional
de Energia Nuclear (CNEN) que brecassem o projeto.
"Os clientes do BNP deveriam
exigir que o banco use seu dinheiro para apoiar
uma corrida na direção de um futuro
energético seguro e renovável, ao
invés de ressuscitar um artefato perigoso",
afirma Jan Beránek, coordenador da campanha
de nuclear do Greenpeace Internacional. "O
Brasil não precisa de mais energia nuclear,
pois tem recursos hídricos, eólicos
e de biomassa abundantes para gerar energia – todas
as opções são mais baratas
e não trazem passivos ambientais e de segurança."
+ Mais
Prateleiras fora da lei
Apesar das promessas, supermercados
continuam vendendo carne ilegal, tornando seus clientes
cúmplices do desmatamento e da invasão
de terras indígenas.
Há 40 anos, os Xavantes, tribo do Mato Grosso,
lutam pelo direito de ocupar sua própria
terra. Expulsos na década de 60 pelo governo,
ganharam o direito de voltar na década de
11000 e encontraram seu território tomado
por fazendas de gado. Na outra ponta desta ocupação
ilegal, estão clientes de produtos pecuários
no mundo todo, incluindo os supermercados brasileiros,
que compram a carne vendida por estas fazendas,
transformando seus consumidores patrocinadores involuntários
de um crime humano e ambiental.
Uma equipe do Greenpeace foi convidada
pelos Xavantes para conhecer a situação
da terra indígena Maraiwatsede, palco da
disputa. “Vimos invasão, desmatamento e o
desrespeito total à lei” diz Márcio
Astrini, da Campanha da Amazônia. Um pouco
do que encontramos lá pode ser visto no vídeo
abaixo. No último mês, a repórter
do jornal O Globo, Liana Melo, também conheceu
de perto a realidade local. Seu relato saiu em reportagem
no último domingo.
Na aldeia, grande parte das crianças
está doente, a população bebe
água contaminada e os conflitos violentos
são uma constante. Devido ao desmatamento,
não há caça, nem madeira para
fabricação dos produtos essenciais
para a vida dos indígenas. Até mesmo
o peixe, antes abundante, hoje tem que ser comprado.
É neste cenário que se desenvolve
a pecuária. “A realidade é que esta
carne, vinda de fazendas dentro de terras indígenas
como a de Maraiwatsede, podem estar tranquilamente
expostas nas prateleiras de qualquer supermercado
no Brasil, ou em qualquer parte do mundo”, diz Astrini.
O caso dos índios Xavantes
é só um exemplo do que acontece em
tantas outras terras indígenas e unidades
de conservação na Amazônia e
mostra as consequências da falta de governança,
aliada ao descontrole do mercado. A Amazônia
já perdeu aproximadamente 730 mil quilômetros
quadrados, 80% fruto do desmatamento para pecuária.
É uma área maior que países
como Holanda, Alemanha e Inglaterra juntos. "É
possível alcançarmos o desmatamento
zero, produzindo mais e melhor sem derrubar mais
nenhum hectare de floresta”, conclui Astrini.
Enquanto isso na Terra Indígena
Marawãtsede
Após a divulgação do relatório
Farra do Boi, do Greenpeace, e pela sua repercussão
na mídia, em dezembro de 2009, a Associação
Brasileira dos Supermercados (Abras) anunciou, com
a presença do então ministro do Meio
Ambiente Carlos Minc, um acordo para frear o desmatamento
da Amazônia estimulado pela pecuária.
Para enfrentar a ameaça de perder mercado,
comprometiam-se a eliminar das prateleiras qualquer
carne com origem em áreas recém desmatadas
na Amazônia, com trabalho escravo e em terras
indígenas e áreas protegidas. Ficaram
só na promessa.
Os três gigantes do setor
Wal-Mart, Carrefour e Pao de Açúcar
também se comprometeram em não comprar
mais de fazendas envolvidas nessas mesmas condições
na Amazônia, mas até agora não
apresentaram nenhuma ação concreta
sobre como irão implementar esse compromisso.
Para atestar que cumprem sua palavra,
os supermercados precisam ter controle sobre quem
fornece a carne de suas prateleiras e apresentar
estes dados com transparência. Para isso,
é fundamental somente comprar carne que venha
de fazendas com Cadastro Ambiental Rural (CAR),
primeira etapa do licenciamento ambiental de uma
propriedade, com o qual é possível
cruzar os dados com mapas de satélite da
floresta e identificar o responsável pelo
desmatamento.