30/11/2010
Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A matriz energética brasileira
pode chegar a 2050 com 93% de fontes renováveis,
produzindo o triplo do que é ofertado hoje
e considerando a tendência de crescimento
econômico. A expansão de fontes de
energia eólica, solar, de biomassa, hidrelétrica
e oceânica pode garantir
1.197 terawatts-hora, com menor custo de produção
e redução significativa das emissões
nacionais de gases de efeito estufa.
O cálculo é do Greenpeace,
que apresenta hoje (30) o relatório [R]Evolução
Energética: Perspectivas para uma Energia
Global Sustentável, durante a 16° Conferência
das Partes da Organização das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-16),
em Cancun, no México.
A organização projetou
dois cenários para a matriz energética
em 2050: no primeiro, o governo mantém o
ritmo atual de investimentos em combustíveis
fósseis – que abastecem a maioria das termelétricas
– e no segundo, o de “revolução”,
os recursos seriam canalizados para a expansão
das fontes renováveis e ganhos em eficiência
energética.
Se a trajetória de investimentos
for mantida, em 2050, 72% da energia brasileira
virão de fontes renováveis – a maior
parte de hidrelétricas –, 5,3% serão
produzidos em usinas nucleares e 21,8% ainda virão
dos combustíveis fósseis. No cenário
proposto pelo Greenpeace, o percentual de fontes
renováveis chegará a 92,6% da matriz,
não haverá geração nuclear
e o único fóssil utilizado na geração
de energia será o gás natural – considerado
um combustível de transição
– com 7,3% de participação.
“É possível aumentar
a oferta de energia, acompanhar o crescimento do
PIB [Produto Interno Bruto] com uma matriz mais
limpa. Mas uma evolução não
seria suficiente, por isso propomos uma ruptura
[do modelo atual], não só na produção
como na utilização da energia”, disse
o coordenador do relatório e da Campanha
de Energias Renováveis do Greenpeace, Ricardo
Baitelo.
A opção pelas fontes
renováveis pode resultar em uma redução
drástica das emissões de dióxido
de carbono (CO2) equivalente (medida que considera
todos os gases de efeito estufa) do setor energético
previstas para 2050, de 147 milhões de toneladas
para 23 milhões de toneladas.
Além do benefício
ambiental, o esverdeamento da matriz poderia reduzir
custos de produção de energia no Brasil.
Até 2050, a economia pode chegar a R$ 1 trilhão,
com o aumento da eficiência energética
e a instalação de projetos em áreas
distantes do sistema interligado de distribuição.
Além disso, apesar do alto custo de implantação,
os projetos de energias renováveis não
dependem de combustíveis caros para produzir
calor e eletricidade.
“Uma vez que você construiu,
o custo de combustível é zero. Diferentemente
das térmicas fósseis, em que o custo
de construção é de R$ 150 por
megawatt-hora (MWh), mas a parte variável,
que é a de combustível, pode chegar
a R$ 400 MWh. É uma variação
muito grande para dizer que ela [a termelétrica]
é barata. Ela é barata para construir
e deixá-la parada”, comparou Baitelo.
A geração de empregos
verdes e a diminuição dos problemas
socioambientais causados pela construção
de hidrelétricas também entram na
conta dos benefícios da geração
por fontes como a eólica e a solar, de acordo
com o relatório.
A transição para
uma matriz praticamente 100% renovável é
possível, segundo o Greenpeace, e a estratégia
para viabilizar essa “revolução” pode
ser a mudança na legislação
do setor elétrico. Baitelo aposta na aprovação
do Projeto de Lei 630/2003, que está em tramitação
na Câmara e que prevê, por exemplo,
a realização obrigatória de
leilões anuais de energia eólica e
de biomassa e a criação de um fundo
para financiar pesquisa e tecnologia para energias
limpas.
“A legislação abre
a sinalização econômica para
as indústrias que ainda não vieram
para o país, para que a gente passe a produzir
equipamentos [de produção e transmissão
de energias renováveis] aqui. E há
alternativas, como a criação de fundos
e mais pesquisa e desenvolvimento, para que a gente
domine a tecnologia”.