23/11/2010
A lenha e carvão são os principais
produtos oriundos da Caatinga, mas a obtenção
dessas fontes energéticas está longe
de ser sustentável. O desmatamento origina
em torno de 80% desses produtos
florestais no Nordeste.
Ter lenha e carvão sem
impactar a vegetação é possível
com o manejo florestal, tema do livro "Uso
sustentável e conservação dos
recursos florestais da Caatinga", que o Serviço
Florestal Brasileiro lançou nesta terça-feira,
23, em Recife (PE).
A publicação de
367 páginas traz artigos de 28 pesquisadores
que mostram a potencialidade de aplicação
do manejo para a produção energética,
os resultados do uso dessas técnicas sobre
a biodiversidade e a possibilidade de conciliar
o uso econômico do bioma com a sua conservação.
Existem técnicas sustentáveis
de exploração desse recurso florestal
que são viáveis tecnicamente, fáceis
de serem aplicadas no campo e que já estão
normatizadas pelos órgãos ambientais
competentes, afirma a engenheira florestal da Unidade
Regional Nordeste do Serviço Florestal, Maria
Auxiliadora Gariglio, uma das organizadoras do livro.
Baixa participação
- As vantagens do manejo, só 6% da matéria-prima
para a produção de lenha e carvão
vem dessa fonte, um valor ainda baixo para uma região
que tem uma alta participação da biomassa
- em torno de 30% - na matriz energética.
Segundo o diretor-geral do Serviço
Florestal, Antônio Carlos Hummel, a grande
presença dos produtos florestais como fonte
de energia na região torna fundamental a
existência de políticas públicas
concretas para o uso dos recursos do bioma.
"O livro dá indicativos
reais das possibilidades do manejo, mas é
preciso medidas fortes de comando e controle para
impedir a competição da lenha manejada
com aquela que não é e que é
muito forte na região", afirma Hummel.
De acordo com Maria Auxiliadora
Gariglio, o manejo das florestas da Caatinga, se
adotado em escala regional poderia contribuir inclusive
"para as questões do desmatamento evitado
(REDD), para a conservação da biodiversidade
de um bioma raro e exclusivamente brasileiro e para
a manutenção do homem no campo".
A adoção de técnicas
de uso racional da vegetação é
mais urgente principalmente nas cercanias de grandes
centros industriais, como a Chapada do Araripe que
tem o maior pólo gesseiro da América
Latina e os diversos pólos cerâmicos
como Açu e Seridó (RN), Russas (CE),
Cariri Paraibano (PB). "A divulgação
e a prática do manejo deveria ser intensificada
nesses lugares, já que essas regiões
estão mais pressionadas pelo consumo",
diz Maria Auxiliadora.
Biodiversidade - A pesquisadora
tem a expectativa de que a difusão de informações
sobre o manejo com base científica dê
mais subsídios para que a técnica
seja ampliada e dirima as dúvidas sobre a
viabilidade e a influência ambiental da sua
aplicação.
"Os resultados desses estudos
mostram que o manejo como um sistema fechado tem
um impacto praticamente nulo na biodiversidade e
na conservação dos solos e que o impacto
observado imediatamente após o corte é
minimizado ao longo dos anos", completa.
O estudo dos grupos de fauna mostra
inclusive que a biodiversidade encontrada na área
do plano de manejo é bastante parecida com
aquela de algumas Unidades de Conservação
situadas em regiões próximas.
Os organizadores da publicação,
que inclui outros três pesquisadores, esperam
que os caminhos apontados no livro para pesquisa,
extensão e políticas públicas
sejam trilhados pelos diferentes atores ligados
ao manejo. "Só assim os recursos florestais
poderão continuar contribuindo, em todo o
seu potencial, com o desenvolvimento econômico
e social da região Nordeste", diz a
obra.