A senadora Kátia Abreu
recebeu esta manhã em seu hotel em Cancún
o prêmio Motosserra de Ouro, por sua defesa
ferrenha de mudanças no Código Florestal,
que resultará em mais desmatamentos no Brasil.
Líder da bancada do agronegócio
no Congresso e fiel defensora das propostas de mudanças
no Código Florestal brasileiro, a senadora
Kátia Abreu (DEM-TO) recebeu das mãos
de uma ativista do movimento indígena da
Amazônia, junto com o Greenpeace, o prêmio
Motosserra de Ouro, símbolo de sua luta incansável
pelo esfacelamento da lei que protege as florestas
do país.
A ativista tentou presentear Kátia
Abreu com uma réplica dourada do instrumento
usado para desmatar florestas no lobby do hotel
em que está hospedada em Cancún, onde
participa da 16ª Conferência de Clima
da ONU (COP16). A senadora desprezou o agrado, visivelmente
irritada, e deixou para a ativista apenas os comentários
irônicos de seus assessores. A condecoração
serviu para lembrar aos ruralistas defensores do
relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP),
que prevê alterações na lei,
que essa proposta representa uma grave ameaça
ao ambiente.
O projeto ruralista anistia desmatadores
e reduz o tamanho da área que o proprietário
de terra e o Estado estão obrigados a conservar
para o bem público. Fazendas, dependendo
do tamanho, ou serão dispensadas de ter árvores
ou poderão ter menos do que devem atualmente.
O projeto também diminui as faixas de floresta
em beiras de lagos e rios e em encostas, que além
de servir como corredores de biodiversidade evitam
enchentes, deslizamentos e protegem a qualidade
da água.
Caso a turma da motosserra consiga
mudar a lei nos termos em que pretendem, tornarão
inviável para o Brasil honrar as metas de
queda de desmatamento assumidas em Copenhague, na
COP15, que preveem a redução até
2020 de 36% a 39% de nossas emissões de gases-estufa.
A proposta prejudica também as negociações
sobre Redução de Emissões por
Desmatamento e Degradação (REDD),
que institui o pagamento para a conservação
de floresta para quem vive nela. “Se o Brasil legalizar
mais desmatamentos, o custo da conservação
aumentará muito e pode tornar a aplicação
do REDD no Brasil inviável”, explica André
Muggiati, representante da Campanha Amazônia
do Greenpeace na COP16.
A bancada da motosserra continua
lutando nos bastidores para que um novo e enfraquecido
código seja votado a qualquer preço,
ainda este ano. Querem que algo tão importante
para o Brasil seja decidido já, por uma Câmara
em fim de mandato, e sem a devida discussão
com a sociedade. “As alterações no
Código Florestal representam um retrocesso
em uma das legislações florestais
mais avançadas do mundo”, diz Muggiati.
Este protesto teve o apoio do
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) e a Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (COIAB).
Feliz Natal?
Em um apelo ao espírito
natalino, um grupo de ONGs, entre elas o Greenpeace,
levou Papai Noel até Cancún para ajudar
a impedir que a bancada do agronegócio empurre
suas propostas de mudança no Código
Florestal goela abaixo dos brasileiros.
O bom velhinho ficou nesta manhã
na porta do Cancun Messe, um dos prédios
onde acontece a COP16, entregando mudas de árvores
aos que passam, acompanhado de ativistas com dois
cartazes, em português e inglês, onde
se lia “Mudar o Código Florestal = Um Natal
sem árvores”. Se as alterações
no código forem aprovadas no Congresso, o
Brasil pode se preparar para, no futuro, celebrar
Natais com bem menos áreas de florestas.
O Papai Noel em Cancún
teve como parceiros o Observatório do Clima,
o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) e a Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (COIAB), além
do Greenpeace.