A 16ª Conferência do
Clima terminou em Cancún com resultados ainda
aquém do necessário para que o mundo
possa controlar o aquecimento
global.
Os mais de 190 países reunidos
em Cancún na COP16, deram alguns passos importantes
mas insuficientes para se recuperar do fracasso
da conferência anterior e avançar na
negociação de um acordo global de
redução das emissões de gases
de efeito estufa. Os avanços conquistados
– a criação de um “fundo verde”, voltado
para os países em desenvolvimento, e a manutenção
do processo multilateral de negociação
– não respondem ao desafio maior: reduzir
consideravelmente, e de forma consistente, as emissões.
Foram duas semanas de discussões
e, em alguns momentos, parecia que o barco naufragaria.
Japão, Rússia e outros países
defendiam a proposta de “cada um por si e fora Protocolo
de Kyoto”. Por isso, quando a comunidade internacional
reconheceu enfim a necessidade de seguir negociando
um acordo comum, no último dia de conferência,
o clima de animosidade arrefeceu. As delegações
se congratularam por finalmente deixarem de lado
a longa ressaca causada pelo desatsre que foi a
conferência anterior.
O acordo de Cancún gira
em torno da manutenção do processo
dentro da Convenção do Clima. É
um ponto importante. Mas insuficiente. “A COP16
pode ter salvo o processo mas não salvou
o clima”, afirma o diretor de políticas climáticas
do Greenpeace Internacional, Wendel Trio. Não
se sabe o mais urgente: como e qual será
a natureza do acordo que deverá se seguir
a Kyoto, a partir de 2013.
Dos países desenvolvidos,
aqueles que historicamente mais contribuíram
com o problema, ficou a promessa de que não
haverá um buraco entre o fim do Protocolo
de Kyoto, em 2012, e a implantação
de um novo processo de redução de
emissões de gases-estufa. A discussão
sobre como cada país deverá contribuir
ficou para a próxima conferência, a
COP17, em Durban, na África do Sul.
Sobre os países emergentes,
que hoje emitem um grande volume de gases-estufa,
como Brasil, Índia e China, sobraram palavras
desprovidas de intenção. As metas
de redução de emissões desapareceram
e permaneceu apenas uma indicação
de que esses países levam em consideração
as evidências do IPCC (Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas), que coloca
um aquecimento de 2ºC como perigoso. Espremendo,
nada sai.
O QUE SE DECIDIU
O fundo criado estabelece a transferência
de US$ 28 bilhões em curto prazo e US$ 100
bilhões por ano a partir de 2020 dos ricos
para os pobres lidarem com as mudanças climáticas.
Mas não houve decisão sobre detalhes
cruciais para que o fundo saia do papel. Não
se sabe, por exemplo, como e quando serão
distribuídos os recursos.
Sobre o regime da redução
das emissões pelas florestas, chamado de
Redd, chegou-se a um acordo. O desmatamento e as
queimadas das florestas tropicais respondem hoje
por até 20% das emissões de gases-estufa
no mundo.
O fato de o Protocolo de Kyoto
não ter morrido, a despeito do esforço
de alguns países para fazê-lo, é
uma vitória vazia enquanto números
audaciosos, que respondam ao desafio, não
forem colocados na mesa.
Nessa conferência, quando
o que está em jogo é o futuro do mundo,
prevaleceram a falta de liderança e vontade
política necessárias para que os países
deem um passo além de Kyoto e equacionem
um acordo global. Sem ele, cada nação
continuará a olhar para seu próprio
umbigo, emitindo gases-estufa sem controle, a seu
bel prazer.
Cada ano que passa sem definição
é um passo mais próximo das mudanças
climáticas perigosas. O trabalho dos negociadores,
portanto, se perde no mar de Cancún.
Fica claro que o destino do planeta
está cada vez mais nas mãos da sociedade.
A ela foi jogada a responsabilidade de construir
um futuro sem desmatamento, com energias limpas,
mais justiça e com uma economia verde. A
bola está conosco.