Primata tem o tamanho de um esquilo
e será exibido pela primeira vez em programa
de televisão da rede BBC
Washington, DC / Londres, 13 de dezembro de 2010
— Uma espécie de lêmure forquilha-coroado
potencialmente nova para a ciência foi recentemente
descoberta nas florestas de Madagascar. O animal
será exibido no programa especial “A Década
de Descobertas da BBC” nesta terça-feira,
anunciaram hoje a Conservação Internacional
e a Unidade de História Natural da BBC. Há
atualmente quatro espécies do gênero
Phaner e esta pode ser a quinta.
Russell Mittermeier, presidente
da Conservação Internacional e renomado
especialista em primatas, avistou o animal pela
primeira vez em 1995 durante uma expedição
a Daraina, uma área protegida no nordeste
de Madagascar. “Eu fui inicialmente para esta área
para ver o Sifaca-de-coroa-dourada (Propithecus
tattersali), outra espécie de lêmure
de tamanho maior e hábitos diurnos que havia
sido descrita em 1988. Fiquei surpreso ao ver um
lêmure forquilha-coroado nessa região,
uma vez que esse grupo ainda não havia sido
registrado ali. Eu soube imediatamente que esta
seria provavelmente uma nova espécie para
a ciência, mas só agora consegui dar
continuidade a esse processo” explica.
Em outubro deste ano, Mittermeier
liderou uma expedição de cientistas
nessa mesma área com o intuito de rastrear
o lêmure, que incluiu o geneticista Ed Louis
do Zoológico de Omaha e uma equipe de filmagem
da Unidade de História Natural da BBC.
A equipe começou a busca
logo após o por do sol, hora em que os lêmures
do gênero Phaner costumam ser mais enfáticos
em suas vocalizações. Eles então
ouviram um som vindo de perto do acampamento, do
topo de uma árvore, e passaram a seguir o
animal pela densa floresta, guiando-se pelos chamados
emitidos, na tentativa de capturá-lo. A agilidade
e a destreza com que o animal se movia por entre
as copas as árvores dificultou o processo
e fez com que os pesquisadores tivessem que aguardar
até que ele se movesse para uma área
aberta. Só então puderam tirar as
medidas (ele tem tamanho aproximado de um esquilo)
e amostras de sangue para análise genética,
necessária para confirmar se trata realmente
de uma nova espécie. Também foi colocado
um microchip sob sua pele para identificação
e monitoramento. O animal foi, em seguida, devolvido
à floresta.
“Esta é mais uma marcante
descoberta em Madagascar, o mais prioritário
hotspot de biodiversidade do mundo e um dos locais
mais extraordinários em nosso planeta”, afirma
Mittermeier. “É incrível que continuemos
a encontrar novas espécies de lêmures
e outras plantas e animais neste país tão
impactado, que já perdeu 90% ou mais de sua
vegetação original”.
Devido ao seu alcance muito restrito,
é provável que esta espécie
já esteja ameaçada de extinção,
mesmo que não tenha sido ainda formalmente
descrita.
Como as outras quatro espécies
do gênero Phaner, esta espécie potencialmente
nova possui:
• uma linha preta em forma de
Y que começa acima de cada um dos olhos e
se junta como uma linha única no topo da
cabeça, criando uma forquilha que dá
nome a estes animais;
• mãos e pés grandes
que ajudam para se agarrar às árvores;
• vocalização noturna,
em tom alto, que ajudou a equipe a rastreá-lo;
• comportamento não usual
de balanço da cabeça, que aparece
no feixe da lanterna à noite e é característica
única desta espécie;
• dieta que consiste de uma alta
proporção de gomas produzidas por
árvores e néctar de flores;
• língua comprida própria
para sugar o néctar e dentes incisivos reclinados,
no formato de um pente que serve como ferramenta
de raspagem para morder a casca da árvore.
“Esta quinta espécie tem
um padrão diferenciado de cores, mas as principais
diferenças serão provavelmente genéticas”,
explica Mittermeier. Desde que a descoberta foi
filmada, Louis e sua equipe têm realizado
análises genéticas para confirmar
se esta é de fato uma nova espécie.
Mittermeier e Louis gostariam que ela fosse batizada
com o nome da organização não
governamental conservacionista Fanamby (“desafio”
na língua malgaxe, de Madagascar) que tem
sido fundamental na proteção da floresta
de Daraina, onde o lêmure foi encontrado.
Na última década,
63 novas espécies de primatas, incluindo
42 espécies de lêmures, foram descobertas
no mundo. Louis foi responsável por uma grande
parte das descobertas de novos lêmures. Dois
lêmures foram batizados em homenagem a Mittermeier,
que tem estudado primatas por mais de 40 anos. Eles
também serão exibidos no programa
da BBC: um pequeno “lêmure rato” descoberto
em 2006, chamado Microcebus mittermeieri e um lêmure
descoberto em 2008, chamado Lepilemur mittermeieri.
Madagascar é o único
país onde os lêmures são encontrados.
Eles vivem na floresta e estão sob sério
risco de extinção. Uma vez que quase
todas as florestas de Madagascar foram destruídas,
cresce a urgência em encontrar e catalogar
os lêmures que ainda restam, assim como de
salvar seu habitat, que é a fonte de alimento
e renda para o povo.
“A proteção das
florestas naturais restantes em Madagascar deveria
ser considerada uma das principais prioridades de
conservação do mundo. Essas florestas
são lar para uma gama incrível de
espécies que são um verdadeiro patrimônio
global, e também fornecem um leque incalculável
de benefícios às comunidades locais
na forma de água limpa, comida e fibras,
e outros serviços ambientais”, pontua o cientista.
Mais informações
Na ilha de Madagascar há
apenas cerca de 100 espécies conhecidas,
sendo que mais de 40 foram encontradas na última
década. Alguns cientistas acreditam que eles
foram parar em Madagascar por acaso, viajando pelo
mar em fragmentos de vegetação que
ocasionalmente se deslocam e são levados
pelos rios.
Os lêmures então
evoluíram em isolamento de outros primatas
como macacos, por exemplo, que evoluíram
mais tarde. Também, sua evolução
ocorreu devido à falta de predadores, mas
principalmente para preencher muitos nichos (papéis
ou funções de uma espécie no
ecossistema) disponíveis a eles pela ausência
de ungulados (animais de casco como cavalos, zebras
ou antílopes) assim como preguiças,
pica-paus e certos macacos em Madagascar.
Os lêmures são batizados
com o nome lemurs ( fantasmas ou espíritos)
da mitologia romana devido às suas vocalizações,
olhos que refletem e hábitos noturnos. Uma
das razões pelas quais novas espécies
de lêmures têm sido descritas recentemente
é que os cientistas estão percebendo
que os animais que podem parecer similares aos nossos
olhos são na verdade muito diferentes entre
si. Os lêmures ratos são um bom exemplo
dessas chamadas espécies “secretas” – em
1994 haviam apenas 2 nomes de espécies de
lêmure rato, agora há 18 espécies
distintas. Cada uma tem uma pelagem ou tamanho levemente
diferente, embora algumas pareçam quase idênticas,
ao menos ao olho humano.
Mais informações
sobre o programa
Na última década
cientistas e exploradores descobriram o impressionante
número de 250 mil novas espécies.
“A Década de Descobertas” é um programa
apresentado por Chris Packham, quem selecionou pessoalmente
as dez descobertas mais extraordinárias dos
últimos dez anos. O programa é filmado
ao redor do mundo e também mostra o macaco
mais raro na África, e a descoberta número
um na lista do apresentador– a preguiça anã
do Panamá, filmada nadando pela primeira
vez. A Terra ainda pode nos surpreender.