O BNDES fechou o ano de 2010 com
o anúncio, no dia 30 de dezembro, de um empréstimo
de 6,1 bilhões de reais para a construção
da usina de Angra 3, o correspondente a cerca de
60% do valor total da obra.
A estimativa de custos da obra,
que era de R$ 7,2 bilhões em 2008, pulou
para R$10,4 bilhões, de acordo com a Eletronuclear.
Isso sem contar os R$ 1,5 bilhão já
empregado na construção e os US$ 20
milhões gastos anualmente para a manutenção
dos equipamentos adquiridos há mais de 20
anos.
“O governo brasileiro mostra mais
uma vez que está disposto a bancar a construção
de grandes empreendimentos contraditórios.
O incentivo garantido às nucleares deveria
ser direcionado a outras fontes de geração
de energia, muito mais seguras e limpas, como a
solar e a biomassa”, diz Ricardo Baitelo, coordenador
da Campanha de Energia do Greenpeace.
Apesar de justificarem revisão
de contratos para a correção dos valores,
as novas cifras mostram que os burocratas nucleares
não sabem mesmo fazer contas. Desde 2008,
no relatório “Elefante Branco”, o Greenpeace
anunciava o aumento nos custos de instalação
da usina de Angra 3 por conta de atrasos na construção
e da disparidade entre os custos de empreendimentos
brasileiros e internacionais.
De lá pra cá, o
custo de instalação por kW de Angra
3 subiu 44%, de R$ 5330/kW para R$ 7.700/kW, enquanto
o custo das eólicas caiu de 5 milhões
para valores entre 4 e 4,2 milhões, segundo
o resultado do último leilão de energias
renováveis. E se não fosse a ajuda
da baixa do dólar, a facada poderia ser ainda
maior. Considerando que 46% dos equipamentos e serviços
para a montagem do reator são importados,
a desvalorização da moeda americana,
cotada acima dos R$ 2,20 em 2009 e atualmente abaixo
de R$ 1,70, teve influência no custo final
da usina.
Escolha equivocada
Como prova de que caminha realmente
na direção errada, enquanto tramita
indefinidamente na Câmara dos Deputados uma
proposta de política nacional para renováveis,
o Projeto de Lei 630/03, paralisado desde fim de
2009, o governo acaba de assinar uma medida provisória
– o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento
de Usinas Nucleares – que isenta de impostos equipamentos
e materiais para a construção de usinas
nucleares.
“Um caminho energético
limpo, seguro e mais barato é possível
e está ao nosso alcance”, diz Baitelo. Segundo
a nova edição do relatório
Revolução Energética, que traz
projeções para a geração
de energia para os próximos 40, o Brasil
pode crescer em níveis atuais e chegar a
ser 93% renovável até 2050, eliminando
por completo as usinas nucleares e as termelétricas.