A edição número
7 da revista eletrônica Política Ambiental,
da Conservação Internacional, traz
entrevista com o cientista Philip Fearnside, que
respondeu a perguntas de sete jornalistas brasileiros
sobre a usina hidrelétrica
Brasília, 17 de janeiro
de 2011 — Na iminência da concessão
da licença ambiental pelo Ibama da usina
de Belo Monte, a Conservação Internacional
lança a publicação eletrônica
Política Ambiental: A usina de Belo Monte
em pauta, na qual jornalistas brasileiros experientes,
que atuam em diferentes regiões, entrevistam
Philip Fearnside, pesquisador-titular do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
O objetivo da publicação
é elucidar os leitores, com base nas perguntas
dos jornalistas que refletem os questionamentos
de toda a sociedade brasileira, sobre o contexto,
as implicações e as controvérsias
em torno da construção da usina de
Belo Monte, sob os aspectos econômicos, sociais
e ambientais.
Para entrevistar Fearnside, a
Conservação Internacional convidou
os jornalistas André Trigueiro, da Globo
News; Bettina Barros, do jornal Valor Econômico;
Herton Escobar, do Estado de S. Paulo; Verena Glass,
da ONG Repórter Brasil; Manuel Dutra, professor
de jornalismo da Universidade Federal do Pará
e da Universidade da Amazônia; Ana Ligia Scachetti,
diretora de comunicação da Fundação
SOS Mata Atlântica; e Hebert Regis de Oliveira,
coordenador de comunicação do Instituto
de Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável
do Oeste da Bahia (Bioeste).
‘Mentira institucionalizada’-
A argumentação científica sólida
de Fearnside, um dos cinco pesquisadores brasileiros
da área ambiental mais citados internacionalmente
e integrante do painel de especialistas que analisou
o EIA-Rima de Belo Monte, deixa claro que o projeto
analisado pelo Ibama é economicamente inviável.
“O projeto oficial – no qual haverá
a construção de apenas uma barragem
– mostrou-se totalmente inviável economicamente
pela análise detalhada feita pela ONG Conservação
Estratégica (CSF, da sigla em inglês).
Ou seja, a afirmação de que não
serão construídas outras barragens
a montante de Belo Monte é uma mentira institucionalizada.
A lógica leva à construção
de barragens rio acima, começando com a Babaquara/Altamira,
que ocuparia 6.140 km2, sendo grande parte em terra
indígena”.
Assim como aponta Fearnside na
entrevista, a Conservação Internacional
(CI-Brasil) acredita que o EIA-Rima não reflete
a realidade dos impactos biológicos e sociais
que acontecerão com a construção
da usina. A CI-Brasilacredita que o projeto apresentado
à sociedade neste momento, além de
omitir as barragens a montante que deverão
ser necessárias para dar viabilidade econômica
à obra, não prevê os impactos
da redução dos níveis da água
do rio Xingu e do rebaixamento do lençol
freático, que podem causar extinção
local de espécies, destruição
da floresta aluvial e, principalmente, provocar
a escassez de pesca, a principal fonte de alimentos
para a população indígena da
bacia do Xingu, ameaçando a sua sobrevivência.
“A obra terá impactos em
um raio de 3 mil km de distância da usina,
colocando em risco a segurança alimentar
das populações indígenas, o
que pode provocar a perda da grande diversidade
cultural existente na bacia do Xingu, onde vivem
20 mil índios de 28 etnias que serão
direta ou indiretamente afetados”, afirma Paulo
Gustavo Prado, diretor de Política Ambiental
da CI-Brasil.Outros problemas apontados pela Conservação
Internacional e por Fearnside são a pouca
credibilidade do processo de consultas públicas
e de licenciamento da usina, já que todo
o corpo técnico do Ibama se posicionou contra
a licença. Além disso, a usina alagará
cerca de 50% da área urbana de Altamira e
mais de mil imóveis rurais de três
municípios, num total de 100 mil hectares,
sendo que de 20 a 40 mil pessoas serão desalojadas
pela obra.
Em Política Ambiental:
A usina de Belo Monte em pauta, Fearnside cita uma
série de alternativas que poderiam garantir
a segurança energética do Brasil para
os próximos anos sem a necessidade da construção
de Belo Monte. Dentre elas, ele aponta os investimentosem
eficiência energética e em fontes limpas
de energia, como a solar e a eólica, além
de pequenas usinas hidrelétricas como forma
de evitar grandes impactos em áreas que,
sob os aspectos sociais e ambientais, são
inapropriadas para empreendimentos deste porte.