Gerar energia próximo ao
local de consumo é alternativa
para evitar apagão generalizado.
Oito estados do Nordeste passaram até quatro
horas sem luz na madrugada desta sexta-feira, dia
04, graças a uma falha técnica em
uma subestação de transmissão
de energia no interior de Pernambuco, que provocou
um efeito cascata de falta de energia na região.
O incidente comprova que o Brasil precisa investir
em eficiência de geração e distribuição
de energia.
Grandes usinas hidrelétricas,
em geral distantes dos seus centros de consumo,
dependem de estações intermediárias
de transmissão para distribuir a energia
que produzem. O caso do apagão que atingiu
Bahia, Alagoas, Ceará, Sergipe, Pernambuco,
Rio Grande do Norte e Paraíba mostra que
a segurança no abastecimento passa por minimizar
este efeito em cadeia, produzindo energia de forma
descentralizada.
“Gerar energia mais perto de onde
ela será consumida, o que chamamos de geração
descentralizada, é a maneira mais segura
de garantir que não haverá falta de
eletricidade no país”, diz Ricardo Baitelo,
coordenador da Campanha de Energia do Greenpeace.
“Além de uma alternativa para o problema
de apagões generalizados, a descentralização
evita as perdas de energia que acontecem no processo
de transmissão e pode garantir fornecimento
a um milhão de pessoas que ainda não
têm energia elétrica no Brasil”, diz.
A nova versão do relatório
Revolução Energética, estudo
elaborado pelo Greenpeace, em parceria com especialistas
do setor e lançado no final de 2010, mostra
como o Brasil pode se tornar 93% renovável
nos próximos 40 anos, com investimentos em
energia limpa e eficiência. Pelas projeções
do relatório, 26,4% da energia que consumiremos
será proveniente de solar e eólica.
“O Nordeste é a região do país
onde o sol e o vento podem gerar mais energia. Com
todo este potencial, não faz sentido um defeito
de transmissão ser capaz de cessar o abastecimento
de oito estados”, conclui Baitelo.
+ Mais
A revolução está
na lei
Greenpeace põe no prédio
do Congresso uma torre eólica para lembrar
aos deputados que a Lei de Renováveis, esperando
votação, garante o futuro limpo para
o Brasil.
O dia no Congresso Nacional em
Brasília começou movimentado. Por
volta das 9h ativistas do Greenpeace entraram em
ação para pedir que os deputados federais
votem o Projeto de Lei de Renováveis, paralisado
desde o final de 2009 na Câmara Federal.
Um grupo de dez pessoas “plantou”
uma torre eólica inflável de 25 metros
ao lado da cúpula da Câmara Federal,
onde se lia a frase “Energia limpa. Voto no futuro”.
Por duas horas os ativistas se mantiveram sentados
no local. Quatro pessoas ficaram detidas na Sede
da Polícia Legislativa do Senado. Dois fotógrafos
da imprensa foram agredidos.
A reação intempestiva
dos seguranças é um contraponto às
intenções do Greenpeace: promover
um desenvolvimento limpo e pacífico do país.
O Projeto de Lei 630/03, de autoria do deputado
Fernando Ferro (PT-PE), mais conhecido como Lei
de Renováveis, é considerado a semente
de uma revolução energética
capaz de garantir o futuro de nosso país.
O texto espera há um ano
e meio entrar na pauta de votação.
“Que o projeto seja priorizado pelos parlamentares,
e que eles compreendam seu potencial para incentivar
um setor econômico verdadeiramente verde”,
afirma Ricardo Baitelo, coordenador da campanha
de energia do Greenpeace. No final da manhã,
após a manifestação, ele protocolou
o relatório “Revolução Energética”,
estudo que mostra que um novo cenário energético
baseado em fontes limpas é possível
no Brasil.
A proposta cria um ambiente seguro
para encorajar investimentos em geração
limpa como eólica, solar, pequenas centrais
elétricas (PCHs) e usinas de cogeração
a biomassa. Com sua aprovação, o Congresso
dará início a um ciclo virtuoso capaz
de colocar o Brasil em lugar de ponta no setor de
energia do século 21. A Lei de Renováveis
aloca subsídios para fontes de geração
limpa e assegura a elas prioridade na ligação
com a rede de distribuição de energia
nacional.
Ela também amplia a quantidade
de energia limpa comercializada no país e
abre o caminho para a geração descentralizada,
prevendo inclusive que brasileiros, individualmente,
possam gerar energia em suas próprias casas
e jogar o excedente na rede elétrica. Quando
aprovada, a lei aumentará o volume de energia
limpa na nossa matriz elétrica, empurrando
para baixo o custo de geração para
os consumidores e colocando o Brasil na vanguarda
da luta contra o aquecimento global.
Em nosso país, a queima
de combustíveis fósseis para a produção
de energia figura entre as principais fontes de
gases de efeito estufa. O Brasil está entre
os principais responsáveis pelas emissões
que ameaçam o clima do planeta. O projeto
do deputado Fernando Ferro tira o Brasil do rumo
do passado, evitando que continuemos a ligar térmicas
a óleo, por exemplo, para suprir nossas necessidades
energéticas.
“O potencial de geração
de energia limpa baseado em fontes como solar, eólica,
biomassa e pequenas hidrelétricas é
de 26 vezes a demanda nacional atual. Até
2050, mesmo multiplicando por quatro nossa geração
elétrica, a participação de
renováveis em nossa matriz pode ir de 88%
para 93%”, diz Baitelo.
+ Mais
Oportunidade perdida
Aguardado há meses, o anúncio
de uma moratória do desmatamento das florestas
da Indonésia deve ser feito em alguns dias
pelo governo do país. Mas o que era para
ser uma boa notícia não deve passar
de um plano muito modesto – até demais. O
Greenpeace teve acesso ao documento e, se for anunciado
como o previsto, a moratória vai deixar de
fora 45 milhões de hectares de florestas
tropicais e de turfa que deveriam estar sob proteção.
Uma área duas vezes maior que o Reino Unido.
“A proposta da moratória
é totalmente inadequada. Ela permite que
as indústrias de papel e óleo de dendê
destruam as florestas e a biodiversidade da Indonésia”,
critica Yuyun Indradi, que coordena a campanha do
Greenpeace no Sudeste Asiático. “O governo
tem de tomar medidas que realmente protejam as florestas
e as vidas que dependem delas. Não há
mais tempo a perder”, diz.
No plano que deve ser anunciado
em breve pelo presidente Susilo Bambang Yudhoyono,
o hábitat de orangotangos, tigres e outras
espécies ameaçadas vai permanecer
vulnerável. A moratória vai muito
pouco além do que a legislação
do país já oferece em termos de preservação.
De acordo com mapas produzidos
pelo Greenpeace – com dados do próprio governo
indonésio – a proteção vai
abranger apenas 12 milhões de hectares a
mais, e a maioria dessas áreas está
em regiões de difícil acesso, que
não estão atualmente ameaçadas
pelas indústrias que mais têm devastado
as matas do país.
A melhor notícia do mês,
aliás, veio da própria indústria.
Há algumas semanas, a empresa Golden Agri
– braço da companhia Sinar Mars na produção
de óleo de dendê no país – anunciou
um plano para que sua produção deixe
de significar mais devastação. O plano
da Golden Agri inclui não desmatar mais florestas
de turfa, áreas de alto armazenamento de
carbono e com alto valor de conservação.
E, para isso, uma auditora independente – a organização
The Forest Trust (TFT) – vai acompanhar os passos
da empresa.
O plano da Golden Agri foi recebido
com controlado entusiasmo pelas organizações
ambientalistas, que esperavam uma proposta ainda
mais ousada por parte do governo, e um certo grau
de cuidado. Daqui a alguns dias mesmo essas expectativas
devem ser frustradas, com o programa oficial. “Se
o governo for à frente com esse plano, a
promessa de reduzir mais de 40% de suas emissões
de gases-estufa vai por água abaixo”, conclui
Indradi.