Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília - O investimento de 2% da atual
riqueza mundial em setores que estimulem o desenvolvimento
sustentável pode levar a economia global
a crescer acima do limite máximo imposto
pelo atual modelo econômico, ajudando no combate
à pobreza e ao desperdício. A conclusão
consta de um relatório do Programa das Nações
Unidas para o Ambiente (Pnuma) que contesta o argumento
de que investimentos ambientais retardariam ou impediriam
o crescimento econômico.
O relatório Rumo a uma
Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento
Sustentável e a Erradicação
da Pobreza, divulgado hoje (21) e disponível
na internet, aponta a agricultura, o setor de construção,
de abastecimento de energia, a pesca, silvicultura,
indústria, o turismo, os transportes, o manejo
de resíduos e o abastecimento de água
como áreas fundamentais para tornar a economia
global mais sustentável, ou seja, que contribua
para melhorar o bem-estar das populações
e diminuir as desigualdades sociais, reduzindo também
os riscos ambientais.
Segundo o documento que será
apresentado a ministros do Meio Ambiente de mais
de 100 países durante a abertura do Fórum
Global de Ministros do Meio Ambiente, promovido
pelo Conselho de Administração do
Pnuma, o redirecionamento por meio de políticas
nacionais e internacionais de cerca de US$ 1,3 trilhão
anuais para iniciativas sustentáveis beneficiaria
não apenas os países desenvolvidos,
mas principalmente os em desenvolvimento. Nessas
localidades, em alguns casos, cerca de 90% do Produto
Interno Bruto (PIB) estão ligados à
natureza ou a recursos naturais como a água
potável, que se quer preservar.
O estudo indica que, atualmente,
o mundo gasta entre 1% e 2% do PIB global subsidiando
atividades que, a médio e longo prazo, tendem
a esgotar o recursos naturais, tais como o atual
modelo de agricultura, pesca e de dependência
de combustíveis fósseis. De acordo
com o relatório, grande parte dessas ações
contribui para intensificar os danos ambientais
e ampliar a ineficiência da economia global
e parte dos recursos necessários para os
investimentos em soluções poderia
vir do que seria poupado combatendo os desperdícios.
Ou seja, a transição
para a Economia Verde envolve políticas e
investimentos que desassociam o crescimento econômico
do consumo intensivo de materiais e energia. Como
exemplo, o estudo cita o Brasil, onde a reciclagem
já gera retornos de U$S 2 bilhões
anuais ao mesmo tempo em que evita a emissão
de 10 milhões de toneladas de gases de efeito
estufa.
O Pnuma acredita que, com o estímulo
de políticas públicas adequadas, mais
vagas de trabalho serão criadas em nova atividades
econômicas como as ligadas à produção
de energia renovável e de agricultura renovável,
compensando os empregos que fatalmente serão
extintos devido ao esgotamento do atual modelo,
caso da pesca, setor em que, segundo o relatório,
subsídios de pelo menos U$S 27 bilhões
ao ano acabaram por fazer com que a captura de pescados
superasse em duas vezes a capacidade de reprodução
deles.
+ Mais
Produção brasileira
voltada para exportação gera grandes
impactos ao meio ambiente, diz Ipea
Roberta Lopes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A produção brasileira
de commodities – produtos básicos cotados
internacionalmente – para exportação
gera impactos negativos ao meio ambiente ao usar
de forma intensiva diversos recursos naturais, aponta
estudo do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea).
“Na produção de
cana-de-açúcar, de soja, há
uma grande utilização de parcelas
do solo que pode ter impactos como o deslocamento
de populações rurais, redução
de terra para produção de alimentos,
uso intenso de agrotóxicos que contaminam
o solo e em consequência contaminam a água”,
explicou o pesquisador e um dos autores do estudo
Jorge Hargrave.
Ele disse ainda que falta no Brasil
uma cultura que leve em conta as questões
relativas ao meio ambiente na gestão pública.
Para os gestores, as questões ambientais
são vistas como um entrave ao desenvolvimento.
Hargrave disse ainda que há
soluções que agregam a manutenção
da produção e a redução
de impacto para o meio ambiente. Ele citou, como
exemplo, a produção de alimentos orgânicos
que tem baixo impacto ambiental.
“É possível continuar
produzindo soja sendo uma parte com agrotóxico
e outra sem agrotóxico, por exemplo. Pode-se
ter uma produção tão grande
quanto há hoje em bases sustentáveis.
É uma questão de regular o mercado
dizendo que tipo de produção se que
ter”, analisou.
O estudo faz parte de uma série
de análises cujo tema é Sustentabilidade
Ambiental no Brasil: Biodiversidade, Economia e
Bem-Estar Humano.