Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O Brasil
pode obter mais recursos para financiar o desenvolvimento
sustentável e investir em medidas de combate
à emissão de gases de efeito estufa
por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
A avaliação consta de comunicado divulgado
hoje (23) pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea).
Os mecanismos de desenvolvimento
limpo são derivados do Protocolo de Quioto,
que estabeleceu metas de redução de
emissão de gases poluentes, como gás
carbônico (CO2), para países desenvolvidos.
Assim, o Brasil não precisou cumprir o protocolo,
mas usou estratégias para vender aos países
poluentes sua "cota de não poluição",
os chamados créditos de carbono.
Segundo a técnica de Planejamento
e Pesquisa do Ipea, responsável pelo estudo,
Maria Bernadete Gutierrez, seguido pela China e
a Índia, o Brasil é o país
com mais projetos de desenvolvimento limpo – a maioria
em geração de energia elétrica
e suinocultura. Mas, para a especialista, um potencial
enorme pode ser explorado no setor de tratamento
de lixo e de saneamento básico, por exemplo.
"O Brasil tem uma política
de gestão de resíduos muito fraca
ainda. Pensávamos que a natureza teria condições
de absorver nosso lixo, mas vemos que não",
afirmou. "Com os projetos de MDL, há
uma maneira de, parcialmente, financiar o desenvolvimento
sustentável em diferentes campos como geração
de energia e combate às queimadas e não
colocar tudo na conta do contribuinte".
Por outro lado, Maria Bernadete
lembra que os custos para o desenvolvimento dessa
tecnologia são elevados e podem chegar a
US$ 200 mil somente na fase de preparação
do projeto. Como solução, ela propõe
o consórcio entre municípios, parceria
entre os níveis de governo e com a iniciativa
privada.
Paralelamente, a técnica
do Ipea defende a prorrogação do Protocolo
de Quioto. Sem acordo internacional em favor do
meio ambiente, por meio da redução
da emissão de poluentes, os MDL e seus créditos
de carbono perdem o valor e o países em desenvolvimento
não terão os mesmo recursos para financiar
o desenvolvimento sustentável. "Para
o Brasil, seria uma perda importante", acrescentou.
Como exemplo dos benefícios
da política do MDL, a pesquisa da Gutierrez
cita o Projeto Novagerar. Desenvolvido em Nova Iguaçu,
na baixada fluminense, o projeto aproveita como
fonte de energia limpa o gás gerado pelo
lixo. Segundo a pesquisa, pelo menos 100 municípios
poderiam copiar a ideia, o que geraria uma receita
bruta de 2,7 bilhões de euros.