No coração do maior
bloco de florestas tropicais
protegidas do mundo, pesquisadores do Museu Goeldi
e da Universidade Federal do Pará encontram
uma nova espécie de peixe.
Belém, Pará, 23
de fevereiro de 2011 — Artigo publicado na Revista
Zootaxa em janeiro de 2011 apresenta mais um resultado
positivo das expedições que desbravaram
a Calha Norte da Amazônia desde 2008. Dessa
vez, o destaque da pesquisa científica veio
da área de Ictiologia, que descreve uma nova
espécie de peixe localizada no Igarapé
Curuá, afluente da margem esquerda do Rio
Amazonas (no estado do Pará), na Estação
Ecológica Grão Pará, a maior
unidade de conservação de proteção
integral do mundo, com mais de 4 milhões
de hectares.
“É um peixe muito pequeno,
que foi coletado quase no fim dos trabalhos no igarapé.
Devido ao seu tamanho, acreditamos ser uma espécie
difícil de ser encontrada, tanto que só
conseguimos coletar um único individuo” relata
Wolmar Wosiacki. Wolmar é pesquisador e curador
da coleção ictiológica do Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG), e juntamente
com Luciano Montag, professor da Universidade Federal
do Pará, e Daniel Coutinho, do Programa de
Pós-Graduação em Zoologia,
mantido em parceria pelas duas instituições,
são os autores do artigo que descreve a espécie
Stenolicmus ix.
Esta espécie de peixe difere
das outras pelo comprimento dos barbilhões
(filamento olfativo ou gustativo) nasais e maxilares;
pelo padrão de coloração da
região dorsal do tronco e pelos olhos e comprimento
da cabeça proporcionalmente grandes, entre
outras características descritas no artigo.
Habitat e comportamento - O indivíduo
de Stenolicnus ix foi coletado com uma peneira nas
cabeceiras do Rio Curuá (PA) e, com ele,
outras quinze espécies foram observadas.
Segundo os autores do artigo, não é
possível afirmar o tipo de ambiente utilizado
por S.ix porque não foram realizadas observações
das espécies em seu habitat natural.
No entanto, pode-se sugerir uma
associação a ambientes arenosos considerando
o fato de que a maioria das espécies próximas
à descrita são associados a este tipo
de ambiente. A nova espécie é conhecida
somente pelo exemplar encontrado durante as expedições
à Calha Norte.
A Revista Zootaxa é a principal
publicação sobre taxonomia do mundo,
com mais de 8 mil autores desde 2001. E pode ser
acessada no link http://www.mapress.com/zootaxa/.
Consórcio Calha Norte –
Criadas em 2006 pelo Governo do Pará, as
unidades estaduais da Calha Norte, em conjunto com
o corredor de biodiversidade do Amapá e do
corredor central da Amazônia, formam o maior
corredor de biodiversidade do mundo. Essa região
faz parte do chamado Centro de Endemismo das Guianas.
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Pará
(Sema-PA) formou um consórcio de instituições
– que inclui além do Museu Goeldi e da Conservação
Internacional (CI-Brasil), o Instituto do Homem
e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a Cooperação
Técnica Alemã (GTZ) e o Instituto
de Manejo e Certificação Florestal
e Agrícola (Imaflora) – para prover dados
socioambientais necessários à implementação
das unidades de conservação estaduais
na Calha Norte.
“Descobertas como essa nos fazem
lembrar que ainda temos muito a aprender sobre a
biodiversidade da Amazônia. A ESEC Grão-Pará
é a maior área de proteção
integral do mundo, protegendo espécies importantes,
conhecidas e ainda não descritas pela ciência,
além de serviços ambientais essenciais.
A manutenção de suas fronteiras e
sua implementação efetiva farão
com que a unidade de conservação sirva
seu objetivo maior de conservação
de ambientes nativos”, afirma Patrícia Baião,
diretora do Programa Amazônia, da CI-Brasil.
Organizadas pelo Museu Goeldi,
CI-Brasil e Sema-PA, sete expedições
biológicas, que reuniram cerca de 30 pesquisadores
e técnicos, desbravaram uma imensa região
– mais de 12 milhões de hectares – e produziram
um importante diagnóstico sobre a biodiversidade
da região, até então desconhecida
para a ciência.
A equipe foi coordenada por Alexandre Aleixo, pesquisador
e curador da coleção ornitológica
do Museu Goeldi.