30/03/2011 - 18h59
Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – As usinas nucleares brasileiras
(Angra 1 e Angra 2, em operação, e
Angra 3 em fase de construção) estão
instaladas em Angra dos Reis,
município do litoral sul fluminense, com
uma população de 180 mil pessoas e
que duplica no verão com a presença
de turistas. Hoje (30), uma audiência pública,
promovida em conjunto pelas Comissões de
Defesa do Meio Ambiente e de Minas e Energia da
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro(Alerj),
foi feita para discutir a segurança das usinas
atômicas da região.
O prefeito Tuca Jordão
disse que Angra dos Reis não está
preparada para enfrentar um vazamento nuclear. Para
ele, a experiência do Japão deve servir
de grande reflexão para que acidente semelhante
não ocorra no Brasil. “A gente sabe, dito
pelos técnicos, que o funcionamento das usinas
Angra 1 e 2 é diferente de Fukushima mas,
a gente não é entendido no assunto.
A gente está muito preocupado e focado na
logística e na infraestrutura que a cidade
de Angra dos Reis tem”. Disse que as pessoas já
estão tão condicionadas ao treinamento
periódico, que nem escutam a sirene.
O prefeito sugeriu que a geração
nuclear, bem como o funcionamento das usinas atômicas
e o plano de evacuação façam
parte da grade curricular já a partir de
2012. “Para que as nossas crianças e jovens
entendam o que é uma usina nuclear, entendam
o que é preciso em um plano de evacuação,
aonde eles precisam ir, qual é o ponto de
encontro. Isso é muito vago”.
Tuca Jordão é a
favor da energia nuclear, mas ressaltou a necessidade
de revisão dos procedimentos de segurança,
diante do que ocorreu em Fukushima. Ele é
contrário a qualquer proposta pela diminuição
das atividades da usina. “O que o [Brasil] já
gastou desde a ditadura militar até hoje
nas usinas Angra 1 e 2 e com os equipamentos parados
[para Angra 3] custando US$ 20 milhões por
ano para manutenção, é jogar
muito dinheiro público fora”, afirmou à
Agência Brasil.
A segurança da população,
no caso de um acidente radioativo, preocupa o prefeito
que defende mais investimentos em infraestrutura
na região. “Enquanto a gente não tiver
uma estrada decente, um centro de abrigo fora dos
raios de 3 e 5 quilômetros das usinas, um
hospital, não para tratar de radiação,
mas para dar tranquilidade às pessoas e com
capacidade para absorver toda essa demanda, [a situação
preocupa]”. Tuca Jordão também defende
a transformação do aeródromo
de Angra dos Reis em um aeroporto. “Por que não
aumentar?”, perguntou.
Segundo ele, essas iniciativas
não podem ser de responsabilidade da prefeitura.
“As usinas são do país”. Lembrou que
em 1972, por ocasião do início de
construção do complexo nuclear, a
população não foi consultada
sobre o projeto. “Ela [usina] existe, é uma
realidade. Então, a gente tem que ter a preocupação
de que o plano de emergência, de evacuação,
tem que ser todo revisto”. Observou que em função
da tragédia no Japão, todo o mundo
está revendo os seus projetos. “E aqui no
Brasil, em Angra dos Reis, não pode ser diferente”.
O vice-presidente da Câmara
de Vereadores de Angra dos Reis, Antonio Cordeiro,
defendeu a energia nuclear como fonte limpa para
enfrentar o aquecimento global. Ele representou,
na audiência, o Movimento Sim Para Angra 3,
em prol da construção da terceira
usina nuclear brasileira no município.
Apesar de ser favorável
ao programa nuclear, Cordeiro disse à Agência
Brasil que diante da tragédia no Japão,
os procedimentos de segurança nas usinas
de Angra têm que ser revistos. “Tem que ser
revistos alguns procedimentos e, principalmente,
a questão do plano de emergência”,
disse.
Amanhã (31) ocorrerá
a nova audiência pública na Câmara
de Vereadores para tratar da segurança das
usinas nucleares. Ele considerou normal que, toda
vez que ocorre um acidente com uma usina atômica
em qualquer parte do planeta, os procedimentos e
projetos sejam revistos, “para melhorar a qualidade
deles”.
Edição: Aécio Amado
+ Mais
Para Aben, programa nuclear brasileiro
é estratégico e não pode ser
interrompido
30/03/2011 - 19h10
Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O presidente da Associação
Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto,
disse hoje (30) que o país não deve
promover mudanças no programa nuclear brasileiro
em função da catástrofe que
afetou o complexo de Fukushima, no Japão,
no último dia 11.
“Hoje, não teria sentido
discutir isso porque o emocional está muito
acima do racional. Qualquer decisão que se
tome hoje será influenciada pelo emocional,
não pelo racional. Seria mais prudente que
a análise fosse feita no futuro, após
o domínio desse acidente e de suas consequências”,
disse à Agência Brasil. Ele participou
de audiência pública sobre a segurança
das usinas em Angra dos Reis, na Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro (Alerj).
O presidente da Aben ressaltou
a importância da energia nuclear para o desenvolvimento
do Brasil. Disse que isso foi demonstrado no documento
Planejamento Energético 2030 e na revisão
até 2035. Afirmou que a opção
de energia hidráulica é limitada e,
"a partir de 2025, estará esgotada”.
A partir daí, disse o que o país precisará
de uma alternativa que gere energia em grande escala.
“E as usinas nucleares estão disponíveis
para contribuir no desenvolvimento do país.
É uma alternativa estratégica e deve
ser tratada como tal”.
Edição: Vinicius Doria
+ Mais
Greenpeace defende paralisação
do programa nuclear brasileiro
30/03/2011 - 18h47
Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A organização não
governamental (ONG) Greenpeace, que milita na defesa
do meio ambiente, reafirmou hoje (30) que é
contra as usinas nucleares brasileiras. O coordenador
da campanha de energias renováveis da ONG,
Ricardo Baitelo, disse à Agência Brasil
que, após a tragédia no Japão,
“mais do que nunca é o momento certo para
rever todos os padrões de segurança
das usinas ao redor do mundo”. Ele participou de
audiência na Assembleia Legislativa do Rio
de Janeiro (Alerj) sobre segurança no complexo
nuclear de Angra dos Reis.
“Nós precisamos paralisar
o programa nuclear brasileiro. Acreditamos não
só na paralisação momentânea,
mas também que a construção
de Angra 3 não é necessária
para a matriz energética brasileira”. Enfatizou
que o país possui opções mais
baratas, mais limpas e mais seguras de geração
de energia, que podem ser construídas mais
rapidamente, para atender à demanda crescente.
Ricardo Baitelo reconheceu que,
tecnologicamente, há diferenças entre
as usinas nucleares brasileiras e as de Fukushima,
no Japão, atingidas pelo violento terremoto
seguido de tsunami no último dia 11. “No
caso de Angra, a gente não tem um risco tão
grande de tsunami e terremoto, mas a usina está
sobre uma falha geológica e você não
pode dizer que aquilo nunca vai acontecer. O Brasil
já teve um terremoto de 5,2 graus [na escala
Richter, em São Paulo, em 1980] e as usinas
de Angra foram projetadas para suportar tremores
até 6,5 graus", recordou.
Segundo Baitelo, o problema mais
grave em Angra dos Reis diz respeito àinstabilidade
do terreno onde as usinas estão assentadas,
sujeito a deslizamentos após chuvas fortes,
como sucedeu na região há um ano,
bloqueando a única estrada por onde a população
poderia ser evacuada em caso de acidente nuclear,
que é a Rio-Santos (BR-101).