Somadas a estudos, descrições
e coleções já registradas na
região, o total de espécies para o
cerrado do Jalapão chega a 707
Brasília, 12 de abril de
2011 — Foi lançado nesta semana no site da
Revista Biota Neotropica os resultados finais do
inventário de fauna de vertebrados realizado
na Estação Ecológica Serra
Geral do Tocantins. O projeto, que teve início
em 2008 e contou com o apoio da Fundação
O Boticário e da Conservação
Internacional, concluiu com o registro total de
450 espécies de vertebrados dentro da unidade
de conservação e em seu entorno imediato,
incluindo 35 espécies de peixes, 36 de anfíbios,
45 de répteis, 254 de aves, 39 de quirópteros
e 41 de mamíferos terrestres. Acesse o artigo
na íntegra no link http://www.biotaneotropica.org.br/v11n1/pt/abstract?article+bn04011012011
A Estação Ecológica
Serra Geral do Tocantins (EESGT), situada na região
do Jalapão, é a segunda maior área
protegida e a maior estação ecológica
no Cerrado. Foi criada em setembro de 2001, com
o objetivo de proteger e preservar amostras dos
ecossistemas de Cerrado, bem como propiciar o desenvolvimento
de pesquisas científicas. De modo geral,
a região do Jalapão encontra-se em
ótimo estado de conservação,
apresentando grandes extensões pouco impactadas,
e uma das menores densidades demográficas
do país, com apenas 1,3 habitantes/km2, segundo
dados do IBAMA.
Dentre as espécies registradas
encontram-se 17 espécies de vertebrados ameaçadas,
incluindo duas de peixe, quatro de aves, uma de
morcego e 10 de mamíferos terrestres. As
amostragens revelaram também a presença
de pelo menos 12 prováveis novas espécies
de vertebrados. Quatro delas foram descritas recentemente,
com base em material proveniente das coletas feitas
para o inventário: Thyroptera devivoi, Bachia
oxyrhina, um lagarto sem patas, Amphisbaena acrobeles
e Siagonodon acutirostris. As demais dependem de
mais estudos para serem confirmadas.
Entre os grandes mamíferos encontrados, estão
a suçuapara (ou cervo-do-Pantanal), a jaguatirica,
o gato do mato, a onça-pintada e o canídeo
Speothos venaticus, que ainda é pouco conhecido
pela ciência.
Considerando espécimes
previamente depositados em coleções
ou dados de literatura utilizados nas análises
e comparações taxonômicas, os
estudos na EESGT adicionaram 180 espécies
à riqueza de vertebrados conhecida para a
região do Jalapão. Assim, dentre o
total de 707 espécies da fauna regional de
vertebrados, 64% foi registrada na EESGT e áreas
imediatas.
O estudo apontou ainda uma alta
taxa de endemismo, ou seja, de espécies que
só ocorrem na região, incluindo 15
anfíbios, 19 répteis, 11 aves, um
morcego e quatro mamíferos terrestres.
As coletas para o inventário
foram feitas durante expedição em
2008, que durou 29 dias, feita por 26 pesquisadores
da Universidade de São Paulo, do Museu de
Zoologia da Universidade de São Paulo, da
Universidade Federal de São Carlos, da Universidade
Federal do Tocantins e da ONG Conservação
Internacional (CI-Brasil) em 2008. Na ocasião
foram obtidos vários registros de espécies
ameaçadas, como a arara azul grande, a suçuapara,
o tatu-bola, o pato-mergulhão e o inhambu
carapé. Os coletaram também dados
que demonstram a ampliação da distribuição
de espécies nunca antes encontradas no Jalapão.
Segundo o biólogo Cristiano
Nogueira, pesquisador da Universidade de Brasília
e um dos autores do estudo, foram obtidos dados
inéditos sobre a riqueza, a abundância
e a distribuição da fauna de uma das
mais extensas, complexas e desconhecidas regiões
do Cerrado. “Os novos dados geram uma visão
melhor da riqueza de espécies da maior estação
ecológica do Cerrado, cuja fauna ainda era
pouco estudada”, afirma. “Algumas das espécies
registradas, com distribuição restrita
à região da estação
ecológica, dependem do bom manejo na área
protegida e seu entorno imediato”, completa.
Após a expedição,
os autores do estudo ficaram por três anos
fazendo uma análise meticulosa do material
obtido, para gerar o inventário final publicado
nesta edição da revista Biota Neotropica.
“É preciso conhecer melhor nossas áreas
protegidas, especialmente as estações
ecológicas, cujo objetivo principal é
gerar conhecimento científico sobre a biodiversidade
brasileira, tão pouco estudada e já
severamente ameaçada. Infelizmente, áreas
extensas de Cerrado, como a EESGT, são cada
vez mais raras, o que tornam os dados reunidos ainda
mais relevantes. Antes de tudo, é preciso
conhecer para conservar”, conclui Nogueira.
+ Mais
Livro marca 20 anos de descobertas
de espécies
Publicação aborda
duas décadas de pioneirismo do Programa de
Avaliação Ecológica Rápida
da Conservação Internacional e a descoberta
de mais de 1.300 novas espécies
Arlington, Virginia, 14 de abril
de 2011 — Vinte anos de pesquisas de campo nas florestas
mais remotas do mundo levaram a importantes descobertas
biológicas nas duas últimas décadas,
além de dar suporte para comunidades, empresas
e nações a tomar decisões conscientes
no que diz respeito ao uso da terra e da água,
afirmou hoje a organização não
governamental Conservação Internacional
(CI) durante a publicação de um livro
que marca os resultados históricos de conservação
conseguidos através do Programa de Avaliação
Ecológica Rápida (da sigla em inglês,
RAP, Rapid Assessment Program).
As realizações do
programa são destacadas no novo livro “Still
Counting…” editado por Leeanne Alonso, diretora
do Programa de Avaliação Ecológica
Rápida da CI, juntamente com outros cientistas.
A publicação que mescla ensaios, relatórios
históricos, e guias metodológicos,
relembra as expedições do RAP em algumas
das áreas mais remotas e menos conhecidas
do planeta, relatando os desafios físicos
e pessoais experimentados pelos cientistas. O livro
tem mais de 400 fotos de espécies raras do
mundo todo.
“Foi uma aventura incrível”,
relembra Leeanne Alonso, que coordenou e liderou
as pesquisas nos últimos 13 anos. “Apesar
da pressão que exercemos sobre a natureza,
ela continua a nos encantar, inspirar e ensinar
com uma variedade de tesouros ocultos e serviços
ecossistêmicos com os quais as pessoas necessitam,
e que só agora estamos começando a
entender”, conclui a cientista.
ESTRELAS - Para celebrar os 20
anos do programa, a CI escolheu as 20 “Estrelas
RAP” do histórico do programa. As espécies,
relacionadas abaixo, incluem as descobertas mais
surpreendentes, únicas ou ameaçadas
do ponto de vista biológico realizadas pela
equipe. A lista inclui espécies que mexem
com a imaginação do público
e da mídia com apelidos populares como a
“rã Pinóquio”, o “morcego Yoda”, o
“tubarão andante” e a “salamandra extraterrestre”.
Elas estão entre as 1.300 espécies
novas ou raras levantadas pelas pesquisas do programa.
EQUIPE - Lançado pela CI
em 11000, o Programa de Avaliação
Ecológica Rápida foi desenhado com
a intenção de montar uma equipe com
os melhores biólogos de campo de diversas
disciplinas. Como explica o presidente da CI, Peter
Seligmann, no prefácio do livro, reunir “Uma
equipe ecológica ao estilo da SWAT que avaliasse
com precisão a saúde de um ecossistema
em uma fração do tempo que normalmente
seria necessário”.
A equipe pioneira do RAP era formada
por quatro pesquisadores, e incluía os lendários
biólogos de campo Ted Parker e Al Gentry,
que perderam suas vidas tragicamente anos depois
em um acidente de campo, mas deixaram um legado
científico duradouro que permanece até
hoje.
Desde então, os RAPs da
CI se expandiram para incluir de 10 a 30 cientistas
de diversas disciplinas e de instituições
governamentais, ONGs e instituições
acadêmicas ao redor do mundo. Dessa forma,
o Programa de Avaliação Ecológica
Rápida revolucionou a história do
estudo de campo biológico com suas pesquisas
rápidas, mas cientificamente rigorosas, que
em geral duram de quatro a seis semanas, com cinco
a sete noites de exploração por sítio.
Entre as realizações
do programa estão a conclusão de 80
expedições em 27 países, incluindo
51 RAPs terrestres, 15 RAPs marinhos e 13 AquaRAPs
em água doce. Entre os resultados mais importantes
das pesquisas, estão:
• a descoberta de mais de 1.300
espécies novas para a ciência. Mais
de 500 dessas espécies já foram descritas
formalmente por taxonomistas, e outras ainda estão
em estudo
• o investimento de mais de US$
5,3 milhões em comunidades locais e economias
nacionais por meio de financiamento gasto principalmente
dentro dos países.
• a criação, expansão
ou melhoria no manejo de aproximadamente 21 milhões
de hectares de áreas protegidas (mais de
209.000 km2)
• dados de distribuição
de 400 espécies ameaçadas globalmente
e novas informações sobre registros
e abrangência de mais de 2.000 espécies
• treinamento de mais de 400 estudantes
e cientistas em países em desenvolvimento
• trabalho de estruturação
para as reivindicações de terras dos
povos indígenas, resultando na criação
de áreas de conservação comunitária
especiais para eles em países como Peru e
China, bem como em informações para
ajudá-los a administrar suas reservas
• desenvolvimento da metodologia
usada no programa chamado IBAT (sigla em inglês
para, Ferramenta Integrativa de Avaliação
da Biodiversidade) para informar as empresas sobre
áreas apropriadas para desenvolver suas indústrias
de extração.
O presidente da CI e primatólogo
Dr. Russ Mittermeier, que participou de muitas expedições
do RAP, explica no livro que a intenção
era treinar “as grandes ‘estrelas’ do futuro”, cuja
maioria vive nos países tropicais nos quais
as expedições são realizadas.
Ele afirma: “Nós firmamos as bases para o
futuro e formamos pessoas que já estão
levando adiante a causa da conservação”,
afirma Mittermeier.
Ao explicar a importância
dos dados das espécies para melhorar as decisões
sobre desenvolvimento, Leellane Alonso, uma entomóloga,
afirma: “As espécies são as peças
fundamentais de todos os ecossistemas naturais.
Ainda sabemos muito pouco sobre cada espécie
e seu papel na manutenção de um planeta
saudável e funcional, seja filtrando água
doce, dispersando sementes, controlando pragas,
polinizando plantações, inspirando
a engenharia e nos fornecendo muitos medicamentos
importantes.”
Existem aproximadamente 1,9 milhões
de espécies de animais documentadas, mas
as estimativas vão até 10 a 30 milhões
de espécies ainda a serem descobertos e cientificamente
descritos. Muitas desaparecem antes mesmo de os
cientistas terem a chance de descobri-las e estudá-las
– um processo trágico conhecido como Centinelan
extinction (extinção de sentinela,
em uma tradução livre). Por meio da
execução de pesquisas do RAP em áreas
de possível desenvolvimento de atividade
industrial, a avaliação pode criar
um registro de espécies que, caso contrário,
poderiam ter vivido e desaparecido sem que ninguém
soubesse.
“Registrar e publicar sua existência
aumenta dramaticamente sua chance de sobrevivência”,
diz Alonso.
Participar de uma expedições
do RAP não é algo fácil. As
expedições mais remotas e difíceis
frequentemente exigem alguns dias de escaladas extenuantes,
geralmente em montanhas íngremes por meio
de vastas florestas úmidas.
Os locais para pesquisa são
selecionados com base na análise de imagens
de satélite, fotografias aéreas e
sobrevoos e são escolhidos especialmente
pelo tipo e condição do habitat. Os
RAPs foram todos realizados em locais com alta biodiversidade
– também conhecidos como Hotspots, regiões
com alta diversidade e endemismo (espécies
que não são encontradas em nenhum
outro lugar), porém, com menor ameaça
e grande extensão de habitat para exploração.
Quanto ao futuro dos RAPs, Mittermeier
declara: “Apesar de tudo o que aprendemos, ainda
há muito a ser feito. As pressões
sobre os países mais ricos em biodiversidade
não diminuíram, e muitas regiões
continuam inexploradas. O conhecimento já
ajudou a conservar algumas das regiões mais
prioritários do mundo e continuará
sendo nossa ferramenta mais forte para garantir
o futuro da vida em nosso planeta”, conclui o cientista.