Ativistas do Greenpeace oferecem
peixes de Fukushima e batatas
de Chernobyl na porta de almoço promovido
pela Eletronuclear para promover energia atômica
a empresários.
O cardápio do almoço
oferecido hoje pelo ex-almirante Othon Luiz Pinheiro
da Silva, presidente da Eletronuclear, a executivos
no Rio de Janeiro ganhou um tempero indigesto: radioatividade.
Na porta do encontro, promovido pelo ex-almirante
no intuito de ressaltar os supostos benefícios
do programa nuclear brasileiro, ativistas do Greenpeace
serviram peixes e batatas, simbolizando a contaminação
das águas de Fukushima e dos solos de Chernobyl,
regiões afetadas por graves acidentes atômicos.
Quem chegava para o almoço
na sede do Instituto Brasileiro de Executivos de
Finanças (IBEF), no centro da cidade, por
volta do meio-dia, era recebido na porta por um
manifestante vestido de cozinheiro, oferecendo em
uma bandeja os ícones da contaminação
alimentar. Dois cartazes advertiam ainda que consumir
alimentos atômicos causa diarreia e impotência.
Houve constrangimentos entre os convidados. O ex-almirante
não apareceu na porta para degustar o menu.
No convite para o evento, cuja tema era “a razão
de se explorar energia nuclear”, a Eletronuclear
classificava o desastre japonês de “incidente”.
“Em um momento dramático
para o mundo, em que o aniversário de 25
anos do acidente nuclear de Chernobyl, atual Ucrânia,
divide a atenção com outro sério
desastre, de igual proporção, em Fukushima,
no Japão, o presidente da Eletronuclear promove
encontro para fazer lobby com empresários
em favor de uma energia perigosa para o Brasil”,
diz Pedro Torres, da Campanha de Clima e Energia.
“Esta atitude é arrogante, insensível
e completamente descabida”, classifica Torres.
Na véspera do aniversário
de Chernobyl, dia 25 de abril, segunda-feira, o
Greenpeace reuniu seus ativistas no Rio de Janeiro
e simulou um acidente nuclear com um gás
laranja não tóxico em frente à
sede do BNDES, com um pedido ao banco para que interrompa
o apoio econômico que dá para a construção
da usina de Angra 3. A Alemanha, parceria do projeto,
anunciou revisão de sua cota de contribuição
ao projeto.
“O Brasil tem potencial de sobra
para abastecer sua demanda de energia e crescer
economicamente com energias renováveis como
eólica, solar e biomassa, dispensando o uso
de nuclear”, afirma Pedro Torres. “Ainda assim,
na contramão da postura de diversos países,
que após o recente desastre japonês
começaram a reavaliar seus projetos nucleares,
o governo brasileiro se mantém calado frente
a este debate”, conclui Torres.
+ Mais
Meu dinheiro em nuclear? Não,
obrigado
BNDES mantém plano de investimento
na construção da usina Angra 3, quando
poderia financiar projetos de energia renovável
O Greenpeace enviou carta ao BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social) pedindo que a instituição
suspenda o financiamento de R$ 6 bilhões
para a construção da usina nuclear
de Angra 3, no Rio de Janeiro.
O dinheiro, que pertence a todos
os brasileiros, está empenhado no término
de uma obra que traz riscos à população.
O governo alemão, fiador do projeto, já
suspendeu o empréstimo de R$ 3 bilhões
que faria ao empreendimento – uma ação
coerente com sua decisão de repensar a escolha
por energia nuclear após o grave acidente
ocorrido em Fukushima, no Japão – até
que a segurança de Angra 3 seja atestada.
Os alemães vão aguardar sentados.
O acordo firmado entre Brasil
e Alemanha para os projetos nucleares em Angra data
de 1975 e os quesitos de segurança e o tipo
de tecnologia para as usinas, da década de
1980. O programa nuclear brasileiro parou no tempo.
Se avançou em algum ponto foi apenas no descaso
com a segurança.
A Eletronuclear admite que o lixo
atômico produzido em duas décadas de
operação nuclear em Angra dos Reis
até hoje não tem um descarte seguro.
A usina de Angra 2 funciona sem a autorização
definitiva da Cnen (Comissão Nacional de
Energia Nuclear) e com um plano de evacuação
falho, em uma área sensível a eventos
extremos, como deslizamentos de terra. A licenciamento
ambiental de Angra 3 está cheio de furos
e irregularidades.
“O BNDES, como gestor do dinheiro
dos brasileiros, deveria fazer a opção
inteligente por investir em fontes renováveis
de energia, em vez de financiar um poço de
insegurança como Angra 3”, afirma Ricardo
Baitelo, coordenador da campanha de energia do Greenpeace.
“Beira o crime manter planos de investimento na
energia nuclear em solo brasileiro enquanto todo
o mundo repensa tal escolha.”
Há um mês, um terremoto
de 9 pontos na escala Richter, seguido de um tsunami,
matou quase 13 mil pessoas, deixou outras 14 mil
desaparecidas até agora e provocou o pior
acidente nuclear visto pelo Japão. Três
explosões em usinas nucleares na cidade de
Fukushima levaram ao vazamento de radiação.
Solo, água e ar foram contaminados e cerca
de 1 milhão de pessoas estão sob ameaça.
Hoje, o governo japonês
aumentou a área de evacuação
de 20 para 30 quilômetros de raio, após
o Greenpeace apresentar resultados de uma análise
da radioatividade encontrada na região próxima
das usinas.