06 Abril 2011
Os negociadores reunidos
em Bangcoc, na Tailândia, de 3 a 8 de abril
de 2011 na rodada de reuniões sobre mudanças
climáticas devem elevar o nível de
ambição dos diversos assuntos em discussão,
com base no progresso realizado em Cancun, afirma
a Rede WWF.
Este é o primeiro encontro desde o Acordo
de Cancun, ocorrido em dezembro de 2010, e que reforçou
diversos pilares necessários para se atingir
um acordo mundial que minimize as alterações
climáticas e que seja justo, ambicioso e
com metas obrigatórias de emissões
de gases de efeito estufa.
“Cancun ajudou a criar um cenário
para o sucesso. Em Bangcoc, os negociadores precisarão
acordar um ‘mapa do caminho’ para atingir este sucesso.
Isso requer avanços reais na mobilização
de recursos financeiros para o clima e a eliminação
de ‘truques’ contábeis para diluir as propostas
de redução de emissões na mesa
de negociação. Até a COP em
Durban, no final do ano, estas propostas também
devem aumentar em ambição”, declarou
Tasneem Essop.
“Enquanto em Bangcoc, negociadores
tentam avançar nos esforços de combate
às mudanças climáticas, no
Brasil, há uma tentativa de alterar negativamente
o Código Florestal Brasileiro. Isto poderá
levar à destruição de extensas
áreas de florestas e à emissão
de milhões de toneladas de gases de efeito
estufa”, afirma Carlos Rittl, coordenador do Programa
de Mudanças Climáticas e Energia do
WWF-Brasil.
Existe um amplo movimento, chamado
de Diálogo Florestal, composto por representantes
do setor produtivo, academia e sociedade civil que
está disposto a modernizar o Código
e que representa um contraponto na discussão.
“O WWF-Brasil faz parte deste movimento e defende
que as discussões sobre o Códiugo
Florestal sejam feitas à luz da ciência
e com foco no uso sustentável e na conservação
das florestas brasileiras”, conclui.
O QUE SERIA CONSIDERADO UM SUCESSO
EM BANGCOC?
1. Operacionalizar o que foi acordado
em Cancun. A Rede WWF espera que os negociadores
em Bangcoc cheguem aceitem um plano de trabalho
e um cronograma para a criação das
instituições que seriam responsáveis
pelos temas de adaptação, financiamento
e tecnologia, como foi previsto no Acordo de Cancun.
“Essas instituições devem ser capazes
de mobilizar e gerir os recursos financeiros e técnicos
que os países em desenvolvimento precisam
para buscar o desenvolvimento de baixo carbono,”
disse Essop.
2. Negociar fontes inovadoras de financiamento climático.
O Acordo de Cancun criou as instituições
financeiras para apoiar projetos de mitigação
e adaptação em países em desenvolvimento,
porém não chegou a um acordo sobre
como gerar recursos para alimentar esse fundo.
“Em Bangcoc, os negociadores devem enviar um sinal
claro para os ministros da Fazenda de seus países
de que eles precisam mobilizar os fundos necessários
para que essas instituições possam
fazer o seu trabalho,” disse Essop.
3. Fortalecer os compromissos
de mitigação. Em Bangcoc, as partes
têm a oportunidade de esclarecer as pressupostos
que norteiam suas propostas de redução
de gases de efeito estufa e eliminar eventuais problemas
metodológicos que as fragilizem. Os negociadores
também devem trabalhar para solucionar o
seguinte problema: o compromisso global, como destaca
o Acordo de Cancun, é reduzir as emissões
de tal forma a manter o aquecimento global abaixo
dos 2 °C. No entanto, as propostas colocadas
na mesa não são suficientes para atingir
este objetivo. Os países desenvolvidos precisam
demonstrar liderança nesta questão.
“As propostas hoje na mesa nos levam a um mundo
com um aquecimento médio de 3 a 4°C.
Isso traria conseqüências inimagináveis
para o planeta, a natureza e as pessoas. Além
disso, alguns países diluem suas metas por
meio de truques contábeis para escapar de
suas obrigações. Isso tem que parar.
É preciso redobrar os esforços de
redução de emissões e alcançar
isso de forma justa e eqüitativa”, concluiu
Essop.
+ Mais
Muita forma, pouca substância
em Bangcoc atrasa resultados concretos na ONU, diz
WWF
11 Abril 2011 - Após uma
semana de reunião, as negociações
climáticas da Organização das
Nações Unidas em Bangcoc foram concluídas
na última sexta-feira sem ter muito o que
mostrar, afirma a Rede WWF.
“Estamos decepcionados com o resultado,”
comentou Tasneem Essop, chefe da delegação
da Rede WWF. “Em lugar de avanços em direção
a um acordo, tendo como base o frágil compromisso
negociado no último encontro no México,
os delegados saíram de Bangcoc sem alcançar
nenhum resultado. Isso é inaceitável.
O que está em jogo é importante demais
para que se permita um recuo no que já foi
conquistado.”
Mais uma vez, os delegados não
conseguiram chegar a um acordo sobre questões
chaves, como o futuro do Protocolo de Quioto, e
levaram a discussão para um impasse aflitivo.
“É preciso que os delegados
encontrem uma forma de progredir com base nos êxitos
já alcançados, tanto em termos de
confiança como de conteúdo”, afirmou
Essop.
Embora haja sinais de que as partes
estão preparadas para abordar a questão
do financiamento climático, a falta de habilidade
dos delegados em acertar uma agenda impediu avanços
concretos. Eles deveriam ter avançado a passos
largos na identificação destas fontes
para apoiar as ações de mitigação
e adaptação nos países em desenvolvimento.
“Os efeitos das mudanças
climáticas já são percebidos
- a biodiversidade está em queda livre, o
nível do mar continua subindo e as secas
arruinam a lavoura. O fracasso na mobilização
de fontes de financiamentos para o clima acarreta
cada vez mais prejuízos para as populações
e os ecossistemas mais vulneráveis do mundo,”
observou Essop.
Após workshops para clarificar
as metas de redução dos gases de efeito
estufa dos países desenvolvidos e as ações
dos países em desenvolvimento, ficou clara
a enorme discrepância existente entre os compromissos
apresentados pelos países e o que seria necessário
para evitar as piores conseqüências das
mudanças climáticas.
“Está ainda mais claro
do que os compromissos assumidos são inadequados
– é preciso, com urgência, aumentar
a ambição das propostas”, observou
Essop.
“Uma coisa boa é que o
mundo em desenvolvimento já está agindo
para reduzir suas emissões e criar planos
de desenvolvimento de baixo carbono. O que falta,
agora, é os países desenvolvidos assumirem
sua responsabilidade”, concluiu Essop.
Brasil
Enquanto o progresso nas negociações
internacionais de clima é lento, no Brasil
corre-se o risco de haver um imenso retrocesso.
“Os avanços recentes em políticas
de clima e a capacidade de o país atingir
suas metas de redução de gases de
efeito estufa estão em risco”, afirmou Carlos
Rittl, coordenador do Programa de Mudanças
Climáticas e Energia do WWF-Brasil.
"No Brasil, há uma
tentativa de alterar negativamente o Código
Florestal Brasileiro, anistiando quem desmatou ilegalmente,
reduzindo as áreas de proteção
permanente e isentando de reserva legal propriedades
com área que podem chegar a 400 hectares.
Essas mudanças poderiam estimular novos desmatamentos
e lançar na atmosfera até 13 vezes
a quantidade de gases de efeito estufa emitidos
pelo Brasil em 2007”, acrescentou Rittl. “Isso seria
um desastre para as florestas e sua biodiversidade,
para mananciais de água que abastecem a agricultura
e para nossas cidades. Iria contribuir muito para
o aquecimento global. Estaríamos completamente
na contramão da história”, concluiu.
O WWF-Brasil defende que o processo
de discussão do Código Florestal seja
transparente e inclusivo, fundamentado no conhecimento
científico, considerando a gestão
integrada de território, dos recursos hídricos
e da proteção dos solos.