Passado um mês do terremoto
seguido de tsunami que atingiu o Japão e
deflagrou uma das maiores crises nucleares mundais,
o governo japonês respondeu ao pedido
do Greenpeace pelo aumento do raio de evacuação
das zonas próximas à usina.
Seguido à coletiva de imprensa
realizada em Tóquio, onde a ONG apresentou
os resultados do monitoramento independente de radiação
realizado na área por duas semanas, e que
concluiu haver níveis muito acima do recomendado
fora da zona considerada crítica pelo Japão,
o governo aumentou o raio de evacuação
de 20km para 30km e se comprometou a isolar em um
mês as cidades de Namie, Iitate e partes de
Minamisoma.
Porta-vozes da ONG felicitaram
a atitude japonesa, mas lembraram que ainda é
pouco frente ao desafio de proteger a população
do pior acidente nuclear desde o desastre em Chernobyl,
há 25 anos. “Um mês se passou e ainda
o povo japonês está mal informado sobre
os riscos, come alimentos contaminados e continua
morando em locais onde o ar está tóxico”,
afirma Rianne Teule, especialista em radiação
do Greenpeace que chefia um dos times de monitoramento.
Segundo Teule, toda a grande Fukushima
deveria ser elevada à zona de proteção
oficial, o que aumenta os padrões de proteção.
A equipe alerta ainda para a existência de
contaminação em pontos críticos,
ou acima de 4 microSievert por hora, ignorados pelo
governo e pede pela retirada imediata de mulheres
grávidas e crianças das proximidades
das cidades de Fukushima e Koriyama.
“A declaração de
zona de proteção oficial obriga o
governo a fazer testes mais criteriosos e realizar
trabalhos de descontaminação, o que
garantiria segurança a mais de 1 milhão
de pessoas que vivem na área e estão
fora do perímetro de proteção”,
explica Teule.
A análise dos dados coletados
nas visitas do Greenpeace revelou que a população
em Fukushima poderá ser exposta a doses de
radiação maiores que 5 miliSievert
por ano, o limite estabelecido em 1986 para o isolamento
completo das proximidades da cidade ucraniana de
Chernobyl.
A equipe encontrou doses que variam
entre 2,8 e 4 microSievert por hora, o que significa
que quem esteve em contato com este ar receberá
em algumas semanas a dose anual de radiação
considerada segura. Também nas cidades de
Fukushima, Koriyama e Minamisoma foram detectados
níveis altos em vegetais tanto de hortas
caseiras quanto do supermercado.
“Uma das amostras encontradas
estava tão radioativa que poderia ser classificada
como lixo atômico”, conta Teule. “A contaminação
do solo está alta, com indicações
de que seja por césio-137, o mais perigoso
e duradouro dos elementos. Isso significa que extensas
áreas fora do perímetro de segurança
de 30km podem ser inutilizadas para agricultura.”
O Greenpeace tem duas equipes
de monitoramento trabalhando no momento no Japão,
a primeira focada em controlar os níveis
de radiação no ar e a segunda, em
checar contaminação de alimentos.
Eles já estiveram nas regiões de Fukushima,
Iitate, Namie, Koriyama e Minamisoma, além
de vilarejos no caminho.
“O trabalho tem sido motivador,
pois sabemos do papel essencial que o Greenpeace
tem em fornecer análises independentes e
seguras do problema para a população
e para o mundo. Por outro lado, estar na região
e ver a população desinformada sobre
o perigo que corre nos deixa muito nervosos”, resume
Rianne Teule.
+ Mais
Gado ilegal na mira do Ministério
Público
O Ministério Público
Federal no Acre (MPF/AC), Ministério Público
Federal do Trabalho (MPT), e o Ministério
Público Estadual do Acre (MP/AC) entraram,
nesta quarta-feira, com ação civil
pública contra 14 frigoríficos – entre
eles a JBS – e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
(Ibama), pedindo o fim do comércio ilegal
de carne na região. Segundo o MPF, a JBS,
maior exportadora de produtos bovinos do mundo,
foi indiciada por comprar gado tanto de fazendas
embargadas por desmatamento ilegal quanto de propriedades
cujos donos respondem a processos por trabalho escravo.
O valor total das multas e indenizações
por danos ambientais superam a casa dos R$ 2 bilhões.
A ação segue uma
sequência de iniciativas do Ministério
Público de firmar Termos de Ajustamento de
Conduta (TAC) para limpar a cadeia de produção
de gado na Amazônia. As primeiras denúncias
relacionadas ao setor vieram à tona há
mais de um ano, e já enquadraram empresas
e fazendeiros nos estados do Mato Grosso e Pará.
Há mais de um ano, também, o MPF no
Acre tentava firmar um TAC com os frigoríficos.
Durante este período, o texto foi modificado
seis vezes, a pedido dos próprios frigoríficos.
O prazo para assinatura venceu há 15 dias.
“Esse novo episódio indica
claramente que os esforços dos frigoríficos
para livrar sua produção de envolvimento
com desmatamento e de trabalho escravo ainda não
passam de promessas e declaração de
boas intenções”, diz Paulo Adario,
diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace.
“Cabe aos frigoríficos acusados se explicar
pública e imediatamente sobre essas novas
e graves acusações. Quanto aos clientes
desses frigoríficos, nosso alerta do ano
passado continua mais do que nunca válido:
enquanto não forem capazes de assegurar a
origem dos produtos que comercializam, comprar ou
vender carne e couro provenientes da Amazônia
é uma atividade de risco.”
Em outubro de 2009, os três
maiores frigoríficos que operam na Amazônia
– entre eles a JBS – assinaram um compromisso público
prometendo excluir da sua lista de fornecedores
fazendas que cometessem novos desmatamentos, envolvidas
com trabalho escravo e com a criação
de gado dentro de áreas embargadas ou protegidas.
A adesão das empresas ao fim do desmatamento
veio na esteira do relatório "A Farra
do Boi na Amazônia", lançado pelo
Greenpeace em junho de 2009. O documento mostra
como a pecuária se tornou o principal agente
de derrubadas da floresta no Norte do país,
e mobilizou grandes compradores nacionais e internacionais
de produtos bovinos brasileiros, que passaram a
exigir uma produção que não
estivesse manchada pelo desmatamento.
Para o coordenador da campanha
de agropecuária do Greenpeace, Márcio
Astrini, os frigoríficos que operam com carne
e derivados bovinos devem mostrar a seus clientes
e a opinião pública o que suas empresas
fizeram até o momento para cumprir os compromissos
assumidos. “Isso deve ser feito por meio de auditorias
sérias, independentes e transparentes”, diz
Astrini. “Caso contrário, não há
garantias de que qualquer cliente que compre desses
frigoríficos não esteja adquirindo
também desmatamento, trabalho escravo e outras
ilegalidades”.
Segundo o Greenpeace, relutância
dos frigoríficos em assinar o TAC proposto
há mais de um ano pelo MPF está também
relacionada à crença de empresas e
produtores de que os crimes ambientais na Amazônia
serão anistiados por decisão do Congresso.
¨As promessas irresponsáveis
de lideranças do agronegócio e políticos
da bancada ruralista estão fazendo com que
o produtor adie a regularização ambiental
de suas propriedades. A indústria não
pode compactuar com essa situação.
Seus empresários sabem que isso joga contra
a imagem da indústria no Brasil e no exterior”,
observa Astrini.