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CÓDIGO FLORESTAL: TEXTO DE ALDO SEGUE REPLETO DE RETROCESSOS

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Maio de 2011

17 Maio 2011 - Por Bruno Taitson - O texto com propostas de modificação do Código Florestal, apresentado tardiamente (em torno das 22 horas) no dia 11 de maio pelo relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP) com objetivo de uma votação apressada no plenário da Câmara, continua uma grave ameaça. De acordo com pesquisadores, cientistas e ambientalistas ligados ao movimento social, o documento é retrógrado, tanto do ponto de vista da conservação do meio ambiente como em relação à manutenção dos recursos naturais necessários à atividade agropecuária.

Um ponto visto como extremamente preocupante é a isenção de recomposição da reserva legal para propriedades de até quatro módulos fiscais, que podem representar terrenos de 400 hectares (mais de 400 campos de futebol) em algumas regiões do país. Durante os debates na Câmara, o deputado Dr. Rosinha (PT-PR) alertou que a medida “fará com que grandes proprietários dividam suas terras em várias porções de quatro módulos, eximindo grandes áreas da reserva legal”.

O potencial aumento no desmatamento nas diversas regiões brasileiras, a partir das mudanças propostas no substitutivo, aumentaria substancialmente as emissões brasileiras. Segundo estudo divulgado ano passado pelo Observatório do Clima, as alterações no Código Florestal poderiam inviabilizar o cumprimento de metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, assumidas pelo Brasil diante da comunidade internacional.

Também descontenta ambientalistas a substancial remoção de atribuições do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que perderia, com o substitutivo de Aldo Rebelo, o poder de regulamentação da aplicação de leis. “O Conama, por ser composto por representantes de diversos segmentos da sociedade brasileira ligados à questão ambiental, assegura um importante componente de controle social aos processos de tomada de decisões em relação às políticas ambientais no país. Enfraquecer esse órgão seria extremamente danoso”, analisa Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, superintendente de conservação do WWF-Brasil.

Representantes das organizações da sociedade civil ressaltaram que, a despeito das inúmeras divergências em relação a pontos no texto, o principal questionamento deve ser feito em torno da estruturação do documento. Os artigos em que o relator alega ter “cedido” diante dos ambientalistas foram posteriormente enfraquecidos, com acréscimos ou supressões que dificultam a implementação da lei, de acordo com análise do coletivo de organizações denominado SOS Florestas.

Um exemplo claro do que foi, acertadamente, chamado de uma série de “pegadinhas” pela ex-senadora Marina Silva, é o artigo 33, que cria, acertadamente, um programa de regularização ambiental. Entretanto, o prazo de um ano para que os proprietários possam aderir à iniciativa pode ser prorrogado por decreto, inclusive dos estados. Isso quer dizer que governadores poderão ad eternum adiar a anistia a desmatamentos prévios e fazer com que ocupações irregulares sigam ocorrendo.

Scaramuzza também critica a insistência do relator da matéria em não ouvir a comunidade científica e mencionou estudo recentemente divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que mostra que o índice de chuvas na Amazônia poderá ser reduzido em mais de 40% até 2080, com claros impactos na agricultura, produção de energia e economia do país. “Essa situação é causada, entre outros aspectos, pelo desmatamento advindo da agropecuária não-sustentável. É inadmissível que o deputado Aldo Rebelo siga ignorando isso”, afirmou o superintendente do WWF-Brasil.

Em 12 de maio, organizações da sociedade civil organizada enviaram carta aberta aos líderes dos partidos e do governo na Câmara pedindo a nomeação de um novo relator para a matéria, em virtude da parcialidade e do destempero demonstrados por Aldo Rebelo durante todo o processo.

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Expectativa de mudança no Código gera desmatamento recorde no Mato Grosso

18 Maio 2011 - Por Bruno Taitson - Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados nesta quarta-feira (18/05), em Brasília, apontam para um crescimento de cerca de 540% no desmatamento no Mato Grosso no mês de abril, em comparação com março. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, demonstrou grande preocupação com o número. “Trata-se de um fato grave, atípico e contraditório. Em um mês, houve no Mato Grosso quase a quantidade total de desmatamentos ocorridos no ano passado”, comentou.

Os números foram apurados pelo sistema Deter do Inpe, que apura focos de desmatamento em grandes áreas em tempo real e tem como principal função alertar o governo para tendências de alta no desmatamento. Em março deste ano, no estado do Mato Grosso, foram detectados 74,7 quilômetros quadrados de desmates. Em abril, o número saltou para impressionantes 405,6 km2. Em toda a Amazônia brasileira o desmatamento passou de 115,6 km2 para 477,4 km2. Portanto, o estado mato-grossense respondeu por 85% dos desmates na região.

Ambientalistas concordam no sentido de apontar uma correlação direta entre o estrondoso aumento dos desmates nas regiões de fronteira do agronegócio mato-grossense e a perspectiva de aprovação do substitutivo que modifica o Código Florestal. O superintendente de conservação do WWF-Brasil, Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, salienta a gravidade da questão. “Os números são um reflexo da promessa feita pelos deputados ruralistas de anistia geral do desmatamento provocado pelo agronegócio”, disse.

Também para Nilo d’Ávila, coordenador de políticas públicas do Greenpeace, ruralistas estão apostando que uma eventual anistia aos desmates possa valer até a data em que o novo texto entre em vigor, com a sanção presidencial. “O mais sintomático disso é que o desmatamento em unidades de conservação e terras indígenas, que normalmente acompanha os índices das demais áreas, não cresceu”, salientou.

George Porto Ferreira, coordenador-geral de zoneamento e monitoramento ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), destaca que desmatamentos significativos foram registrados no entorno do município de Sinop, grande produtor de soja. “Surgiram ainda alguns polígonos de desmatamento nunca antes registrados. Houve expansão para áreas vizinhas de propriedades que trabalham com agricultura”, explicou Porto Ferreira.

Números do WWF-Brasil dão conta de que, em média, a soja apresenta uma lucratividade de R$ 300 a R$ 500 por hectare, mas que atualmente o valor já chega aos R$ 1000. “Essa garantiaa de lucros extremamente elevados, associada à perspectiva de impunidade generalizada gerada pelas discussões lideradas pelos ruralistas em torno das mudanças do Código Florestal, contribui imensamente para o desmatamento criminoso a que estamos assistindo no Mato Grosso”, declarou Scaramuzza.

O Ibama ainda revelou a utilização de técnicas rudimentares como o “correntão” para desmatar grandes áreas. Uma longa e espessa corrente é presa a dois tratores que, posicionados a dezenas de metros um do outro, percorrem paralelamente o terreno. “O Mato Grosso acendeu a luz amarela”, avisa a ministra do meio ambiente.

Foram deslocados mais de 500 fiscais do Ibama para o estado, com objetivo de coibir os crimes ambientais. Segundo Izabella Teixeira, os desmates vão ser duramente combatidos. “Quem apostar no desmatamento para pecuária, vai ter o boi confiscado para o programa Fome Zero. O objetivo é sufocar o crime ambiental”, sentenciou a ministra.

O superintendente de conservação do WWF-Brasil entende que as ações anunciadas pela ministra sejam de grande importância, mas avalia que as recentes reduções nas verbas do MMA poderão dificultar o trabalho. Em março, o Governo Federal anunciou corte da ordem de R$ 398 milhões para a pasta, montante equivalente a 37% do orçamento inicialmente previsto para 2011.

Também estiveram presentes à coletiva para divulgação dos números do desmatamento o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, Gilberto Câmara, diretor do Inpe, e Curt Trennepohl, presidente do Ibama. Os dados completos do desmatamento na Amazônia detectados pelo sistema de alerta Deter podem ser acessados no site http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=2545.

A expectativa é que o substitutivo apresentado pelo deputado Aldo Rebelo, com apoio dos ruralistas, seja votado na próxima semana, entre os dias 24 e 25 de maio. Em 12 de maio, organizações da sociedade civil organizada enviaram carta aberta aos líderes dos partidos e do governo na Câmara pedindo a nomeação de um novo relator para a matéria, em virtude da parcialidade e do destempero demonstrados por Aldo durante todo o processo.


 

Fonte: WWF-Brasil
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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