Crédito: Arquivo MCT -
Parque Eólico
28/05/2011 - O Brasil aposta no potencial dos seus
ventos para ampliar o leque de opções
e garantir a sustentabilidade no fornecimento de
energia. O investimento em energia eólica
ganhou força nos últimos
dois anos. Atualmente, a energia eólica no
Brasil possui aproximadamente 1,1 GW (gigawatt)
de potência instalada, o equivalente a quase
uma usina nuclear brasileira (Angra 1 tem 0,65 GW
e Angra 2 tem potência de 1,35 GW).
Antigamente, os famosos moinhos
captavam o vento para moer grãos, por exemplo.
Agora eles receberam uma nova tarefa: produzir energia
elétrica. O mecanismo funciona geralmente
por intermédio de um dispositivo que transforma
a energia dos ventos em energia elétrica
e mecânica.
O coordenador de Tecnologia e
Inovação em Energia do Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT), Eduardo Soriano,
lembra que a primeira turbina foi instalada na Dinamarca
(Europa), em 1976, para geração de
energia elétrica conectada à rede.
“Hoje existem mais de 30 mil turbinas eólicas
no mundo. Elas também começaram a
crescer em tamanho. Antes elas cabiam numa sala,
por exemplo, hoje os postes que seguram as turbinas
podem ter até 120 metros de altura”, observa.
Apesar do crescimento recente,
utilizar o potencial dos ventos ainda é novidade
no país. O primeiro leilão de comercialização
de energia, voltado exclusivamente para fonte eólica,
foi realizado em 2009. O resultado foi a contratação
de 1,8 Gigawatt (GW), distribuídos em 71
empreendimentos de geração eólica
em cinco estados das regiões Nordeste e Sul.
Já no leilão de 2010, foram contratadas
mais 70 usinas eólicas, com potência
total de 2 GW, também distribuídos
em vários estados.
Vantagens
Um dos motivos que estimulam o
investimento em energia eólica no país
é o preço competitivo no mercado em
relação às outras energias.
Eduardo Soriano avalia a trajetória de queda
do valor atribuído à energia nos últimos
anos. Segundo ele, as primeiras instalações
tinham preços cerca de duas a três
vezes maiores na comparação com o
custo atual.
“Nos últimos anos, houve
leilões específicos para energia eólica.
Os primeiros preços beiravam R$ 300,00/megawatts
hora. No leilão de 2009 foi em torno R$ 148,00
e no leilão 2010 foi de R$ 130,00. Então
se pode ver que houve uma redução
de preços da energia eólica no Brasil
e ela está entrando de uma forma muito competitiva”,
informa o especialista em energia do MCT.
Outro ponto favorável à
energia eólica é a necessidade em
se compor matrizes energéticas mais limpas,
renováveis e menos poluentes. O Brasil já
é um dos países que têm mais
energias renováveis na sua matriz energética.
Em torno de 45% da energia produzida no Brasil vêm
de fonte renovável, sendo 90% na geração
de energia elétrica.
A energia eólica contribui
para a manutenção dos altos índices
de energias renováveis da matriz energética
brasileira, mas na avaliação de Soriano,
ela não pode ser encarada com uma solução
definitiva e o Brasil não pode desprezar
outras opções. Ele alerta que é
fundamental para um país não depender
de só uma fonte de energia.
“Tem que diversificar as fontes.
Vamos supor que o vento pare. Não vai ter
energia?”, indaga. “Então é preciso
ter uma diversificação, um pouco de
energia eólica, hidráulica, termonuclear,
termelétrica, carvão e óleo.
É preciso ter as várias fontes funcionando
em conjunto para que se possa ter uma segurança
energética”, sustenta.
Por conta da instabilidade dos
ventos, a energia eólica compõe o
sistema brasileiro de distribuição
de energia e não chega a atender uma cidade
específica. É conectada às
várias linhas de distribuição
de energia espalhadas pelas diversas regiões
brasileiras.
Além da região Nordeste,
os ventos do Sul do país e também
do Rio de Janeiro concentram os ventos com potencial
para a geração de energia, especialmente,
na faixa do litoral. Ao contrário de locais
como a Dinamarca, que possui usinas eólicas
no mar, no Brasil elas estão instaladas em
terra.
Investimento
O investimento governamental também
incentiva o crescimento do setor. As primeiras instalações
surgiram a partir de um programa do Ministério
de Minas e Energia, o Proinfa (Programa de Incentivo
às Fontes Alternativas de Energia Elétrica),
que subsidiou a energia eólica no Brasil,
além de outras alternativas como a geração
a partir da bioenergia e a energia hidráulica
de pequeno porte.
Desde 2002, o MCT investe recursos
em pesquisa, principalmente na produção
de peças, parques e sistemas para geradores
eólicos, tais como: conversores, elementos
mecânicos de torres, sistemas de controle,
aerogeradores de pequeno porte, pás etc.
Em 2009 e 2010, o ministério
implementou editais de subvenção econômica
com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (FNDCT),
direcionado para empresas, nos quais foram aprovados
14 projetos envolvendo recursos da ordem de R$ 25
milhões (incluindo as contrapartidas empresariais).
Tais investimentos, aliados aos
incentivos governamentais para a implantação
da energia eólica na matriz energética,
têm alavancado no Brasil o mercado de peças
e partes, o que está contribuindo com o aumento
dos índices de nacionalização
dos aerogeradores que estão sendo produzidos
no país por diversas empresas. Alguns itens
como pás, estão sendo exportados para
diversos países do mundo.
Agora o grande desafio a ser superado
é a falta de mão de obra especializada
e de laboratórios capacitados. Para isso,
o MCT deve lançar, ainda neste ano, um edital,
no valor em torno de R$ 15 milhões, para
formar recursos humanos de alto nível (pós-graduação,
mestrado e doutorado) e criar laboratórios
nos diversos estados, com prioridade para os locais
com projetos em energia eólica.
A carência de profissionais
na área de energia é uma situação
preocupante na avaliação de Eduardo
Soriano. De acordo com ele, está faltando
engenheiros e técnicos no mundo inteiro na
área de projetos, de implantação
e de operação de energia eólica.
O que representa uma deficiência que precisa
ser suprida para dar suporte a esse crescimento
da energia eólica.
“Para ser competitivo, não
basta ter só ventos, equipamentos e uma política
de implantação de energia eólica.
Precisamos ter também recursos humanos e
laboratórios pra dar suporte a esse crescimento
da energia eólica no Brasil”, reforça
Soriano.