Câmara
dos Deputados transforma lei de proteção
às florestas brasileiras em legislação
de incentivo ao desmatamento. Compromissos internacionais
do Brasil estão ameaçados
A Câmara dos Deputados decidiu
hoje que o Brasil não deve ser o país
do futuro. Por 410 votos a favor e apenas 63 contra,
os deputados aprovaram mudanças no Código
Florestal brasileiro que comprometem a biodiversidade
do país e a sustentabilidade da agricultura
brasileira. "O Brasil acordou hoje com a notícia
do assassinato de um defensor da floresta amazônica",
disse Paulo Adario, diretor da Campanha Amazônia
do Greenpeace, homenageando José Claudio
Silva, líder seringueiro morto na véspera
da votação na Câmara por madeireiros
no Pará. "E foi dormir com a notícia
de que a maioria dos nossos deputados aprova o assassinato
de nossas florestas".
Para virar lei, o texto votado
na Câmara ainda precisa passar pelo crivo
do Senado. Lá, quem sabe, os senadores evitarão
repetir os vexames cometidos pelos deputados federais
ao longo do processo que terminou com a votaçao
de hoje à noite. Desde o começo dos
trabalhos de revisao do Código, capitaneados
pelo autor do projeto de mudança, deputado
Aldo Rebelo (PCdoB-SP), os parlamentares escolheram
um lado da questão. E o pior dos lados, o
do agronegócio que desmata e abusa dos nossos
recursos naturais. Cientistas e proponentes da agricultura
moderna, que não mistura produção
com desmatamento, mal foram ouvidos debaixo da cacofonia
do interesses rurais atrasados que sequestraram
a pauta ambiental do país no Congresso Nacional.
O projeto que passou na Câmara
produziu o milagre de transformar uma legislação
escrita para defender as florestas brasileiras em
lei de incentivo à expansão desenfreada
da agricultura e da pecuária. Ele premia
o desmatamento, propondo a anistia a desmatadores,
e incentiva a expansão sobre o que resta
ao Brasil de matas nativas, reduzindo as exigências
para que fazendas mantenham um percentual de seus
terrenos com vegetação original e
enfraquecendo a capacidade do governo central de
gerir o patrimônio ambiental brasileiro.
Além de ameaçar
a biodiversidade e a produtividade agrícola
brasileira, comprometendo a qualidade dos recursos
naturais que ela precisa para garantir sua capacidade
de produção, o projeto de mudança
da legislação florestal trará
impactos negativos à diplomacia e economia
do país. O texto aprovado pelos deputados
federais tem consequência direta nos acordos
feitos por grandes corporações consumidoras
de produtos agrícolas brasileiros para livrar
suas cadeias de custódia da mancha do desmatamento.
Ele também põe em
dúvida a capacidade do Brasil de manter seus
compromissos de redução de emissões
de gases do efeito-estufa assumidos durante a conferência
do clima de Copenhague, em dezembro de 2009. O desmatamento
é o principal responsável pela posição
de destaque do Brasil no ranking dos países
que mais contribuem para o aquecimento global (é
o quinto maior emissor de gases-estufa). E depois
de uma tendência de queda das taxas de derrubada
na Amazônia nos últimos cinco anos,
ele voltou a subir na região.
O Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), divulgou na semana passada que
o desmatamento na Amazônia em abril havia
sido 570% maior do que o registrado no mesmo mês
do ano passado. “Há uma clara corrida pelo
desmatamento incentivada pelas modificações
efetuadas no código”, diz Paulo Adario, diretor
da Campanha Amazônia do Greenpeace. “Quem
está em campo sabe que essa explosão
do desmatamento não é comum nessa
época. A devastação geralmente
começa no período da seca.”
A votação na Câmara
Federal joga os holofotes da questão ambiental
no Brasil para cima da presidente Dilma Roussef.
Ela prometeu, durante a campanha eleitoral no ano
passado, que vetaria qualquer legislação
que implicasse em aumento do desmatamento ou anistia
a desmatadores. Também assegurou que não
recuaria do compromisso assumido pelo seu antecessor,
Luiz Inácio Lula da Silva, de reduzir o desmatamento
na Amazônia em 80%. Mas seu governo praticamente
lavou as maos em relação ao que aconteceu
na Câmara.
A decisão dos deputados
de atropelar os compromissos do governo federal
colocam em questão a credibilidade do país
para sediar, no ano que vem, a Rio + 20. “A capacidade
do Brasil de liderar uma ação global
contra o desmatamento e as mudanças climáticas
está sob sérias dúvidas”, diz
Adario. “Se Dilma não agir para influenciar
as decisões do Congresso no sentido de manter
a proteção à nossa biodiversidade,
seu governo terá sucumbido aos interesses
do agronegócio, comprometendo a posição
internacional do país”.
+ Mais
Desmatamento volta às manchetes
Se o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP)
queria chamar atenção, ele conseguiu:
a derrubada do Código Florestal proposta
por ele e seus pares está estampada na capa
dos principais jornais brasileiros esta semana:
lado a lado com a notícia do aumento explosivo
do desmatamento na Amazônia. A apuração
dos veículos deu voz a quem está no
campo e confirmou: a única explicação
para a disparada das derrubadas são as promessas
de ruralistas de anistiar quem desmatou e reduzir
as áreas de proteção.
A reviravolta no desmatamento
– as taxas estavam em consecutivas quedas nos últimos
anos – também chamou a atenção
da imprensa internacional. Os britânicos Independent,
Guardian e BBC, além da agência internacional
Reuters, repercutiram a crise anunciada pelo governo.
Não foi à toa que
a imprensa voltou novamente os olhos para a região.
O aumento de mais de 500% no desmatamento divulgado
pelo Inpe e pelo Imazon é uma surpresa nessa
época de chuvas. E apesar de altos, os números
estão subestimados, já que a cobertura
de nuvens impediu a visualização total
das áreas. O estado do Pará, por exemplo,
tradicional campeão das derrubadas, estava
completamente debaixo de nuvens e quase não
entrou na conta.
Esses números, porém,
vão aparecer lá na frente. E serão
somados à devastação que sempre
chega com força na temporada da seca, que
inicia nos próximos meses. Com compromissos
internacionais de reduzir nossas emissões,
a presidente Dilma está numa saia justa.
Terá que explicar na Rio +20 como deixou
a Amazônia voltar aos tempos de destruição
logo em seus primeiros meses à frente do
país.
Código perverso
Oito ex-ministros do Meio Ambiente
se reuniram na tarde de hoje na Câmara Federal
para tentar impedir a votação do projeto
de lei de um novo e temerário Código
Florestal. Marcada para amanhã, a votação
do texto de autoria do deputado Aldo Rebelo – que
institui tudo menos a proteção às
florestas – fez com que representantes do Meio Ambiente
de governos anteriores se reunissem em Brasília
para pedir o adiamento da votação
da lei. “Como receber chefes de estado ano que vem
na Rio+20 depois de votar reforma desse Código
Florestal?”, disse o ex-ministro do governo Lula,
Carlos Minc.
Para tentar convencer o governo
a não votar o futuro das florestas a toque
de caixa, como pretendem os deputados ruralistas,
os ex-ministros redigiram uma carta aberta que será
entregue à presidente Dilma Rousseff durante
audiência marcada para acontecer amanhã
de manhã no Palácio do Planalto. Além
de Dilma, o presidente do Senado, José Sarney,
e da Câmara Marco Maia, receberão a
comitiva de ex-ministros.
Com duras críticas ao texto
de Aldo, a carta pede que o código seja "atualizado
para facilitar e viabilizar os necessários
esforços de restauração e de
uso das florestas, além que de sua conservação."
Na avaliação dos
ex-ministros, não há proteção
dos pequenos proprietários nem dos agricultores
familiares, além de flexibilizar a lei para
que haja mais desmatamento. “Congresso e Dilma precisam
fazer uma lei para proteger as florestas. Não
queremos uma campanha pelo veto, mas sim algo que
proteja nossas florestas e coloque nossa agricultura
em um novo patamar, de olho no futuro”, disse Marina
Silva, que defende o adiamento da votação.
“Não podemos pensar em votar isso assim,
às pressas”, afirma.
Rubens Ricupero, ministro de Fernando
Henrique Cardoso, concordou com Marina. “Faço
um apelo para que a Câmara não vote
de maneira açodada um assunto tão
importante para o país. A destruição
acelerada da Amazônia é um suicídio
adiado em nome de ganhos de curto prazo”.
José Carlos Carvalho, que
foi ministro do Meio Ambiente durante a gestão
Fernando Henrique Cardoso, lembrou do potencial
do Brasil em ser um país verde, mas ressaltou
que é preciso uma legislação
favorável. “A lei em discussão só
propõe diminuir o controle de estado sobre
nossas riquezas naturais. Não é uma
proposta que consiga assegurar o uso racional desses
recursos para o nosso futuro”.
“Está claro que esta lei
não é sustentável. Não
podemos deixar que um pequeno grupo de favoreça
em detrimento do patrimônio da nação”,
afirmou Henrique Cavalcante, ministro de Itamar
Franco.
Assinaram o texto: Marina Silva
(PV), Carlos Minc (PT), Sarney Filho (PV), Rubens
Ricupero (sem partido), José Carlos Carvalho
(sem partido), Fernando Coutinho Jorge (PMDB), Paulo
Nogueira Neto (sem partido), Henrique Brandão
Cavalcanti (sem partido), Gustavo Krause (DEM),
José Goldemberg (PMDB).
+ Mais
Donos da motosserra em São
Paulo
Hoje, por volta das 8 horas da
manhã, os representantes do agronegócio
se dirigiram ao hotel Macksoud Plaza, no centro
de São Paulo, para participar do ‘XXI Fórum
da Associação Brasileira de Agricultura
(Abag)’. Na pauta de discussão, o projeto
de mudança do Código Florestal aprovado
na semana passada pela Câmara Federal.
Na chegada, foram recepcionados
por ativistas do Greenpeace com uma faixa que rebatizou
o evento como ‘Forum dos donos da motosserra’. A
manifestação teve como “música
de fundo” o ronco de uma motosserra . “A Abag nunca
escondeu a saudade do tempo em que a agricultura
podia se expandir simplesmente avançando
sobre área de floresta”, diz Marcio Astrini,
da campanha Amazônia do Greenpeace.
Daí a simpatia aberta da
entidade pelo projeto de mudança no código,
que pelos cálculos do professor Gerd Sparovek,
da Escola Superior de Agricultura da USP (Esalq/
USP), colocam sob risco direto de derrubada 22 milhões
de hectares de mata nativa, uma área do tamanho
do Paraná. Os números estão
em reportagem da edição de domingo,
29 de maio, de O Estado de S. Paulo.
Entre seus membros, a Abag tem
empresas que apoiam essa visão de uma agricultura
ultrapassada, argumentando que as mudanças
no Código Florestal, que abrem a possibilidade
para mais desmatamentos e anistia crimes ambientais
do passado, são necessários para o
desenvolvimento do país. Fazem coro com a
fisiologia de políticos que dizem que, se
os europeus desmataram tudo por lá, podemos
fazer o mesmo aqui. Para eles, o correto é
copiar o erro dos outros e jogar nosso patrimônio
ambiental na lata do lixo.
A revista Época, há
duas semanas, contou que os Estados Unidos cortaram
23% de suas florestas nativas desde que colonos
ingleses começaram a plantar e criar gado
em seu atual território, no século
XVI. O último ano em que os americanos derrubaram
uma árvore em nome do avanço da agricultura
foi em 1935. De lá para cá, a área
agricultável do país até caiu.
“E nem por isso os americanos, como nós,
deixaram de virar uma potência agrícola
mundial”, diz Astrini.
Aqui, já deu-se cabo de
quase 20% da floresta Amazônica – sem contar
o que se foi da Mata Atlântica e do Cerrado.
Mas existe um setor atrasado na Abag que parece
não achar isso suficiente. Insiste que o
volume da derrubada de florestas para abrigar pastos
e plantações precisa ser ampliado,
como propõe o projeto de reforma do Código
Florestal, que ainda precisa passar pela aprovação
do Senado. É uma pena que na entidade muitos
de seus associados se comportem dessa maneira.
“Dentro do próprio setor
há experiências de como a retirada
da mancha do desmatamento da cadeia de um produto
agrícola traz vantagens competitivas”, insiste
Astrini. A moratória da soja na Amazônia
negociada pelo Greenpeace em conjunto com diversas
ONG´s e pactuada pelo governo e as grandes
processadoras de soja que atuam no país é
um exemplo disso. As empresas se comprometeram,
em 2006, a não comprar soja plantada em desmatamentos
feitos a partir daquele ano. O resultado foi bom
para a floresta e para os negócios.
“A expansão da safra não
ficou comprometida pelo acordo e atendeu a demanda
de consumidores daqui e do resto do mundo por produtos
comprometidos com a proteção das matas.
O Brasil não perdeu nada com isso, como mostram
dados da produção de soja no Pará
compilados pela Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab)”, diz Astrini. “Quem defende o texto do
jeito que foi aprovado na Câmara dos Deputados,
compactua com o desmatamento, não com a produção
de alimentos.”
A safra de soja do estado para
2010/ 2011, deverá ficar em 232.249 toneladas,
um ganho de quase 7% em relação à
safra anterior. A área plantada com o grão,
no entanto, não acompanhou o crescimento.
Ficou nos mesmos 90 mil hectares que tinha em 2009/2010.
Preservar as florestas brasileiras faz todo o sentido
do ponto de vista econômico e social. Não
foi por pressão ambientalista que o verde
da Amazônia, da Mata Atlântica ou do
Pantanal acabou estampado na bandeira nacional.
Nossas florestas são há
cinco séculos a fonte da riqueza do nosso
solo e da força dos nossos rios. Protegê-las,
é proteger o futuro da nossa agricultura
e o bem estar da população. Elas são
a garantia que nossos filhos e seus descendentes
também terão comida farta na mesa
e o mesmo clima que, como disse Jorge Ben Jor, faz
do Brasil um país bonito por natureza.
A conta nuclear é nossa
No dia 24 de abril, o Greenpeace
amanheceu na porta do BNDES, centro do Rio de Janeiro,
com um recado impossível de não ser
visto: envolto em uma fumaça laranja, simbolizando
uma nuvem radioativa, o pedido para que o banco
não financiasse a construção
da usina nuclear de Angra 3. A resposta chegou:
o BNDES continuará investindo neste monstrengo
atômico. Se faltar dinheiro, a conta vai para
o contribuinte.
Em carta, o banco avisa que manterá
o aporte já aprovado de R$6,1 bilhões
para colocar de pé a velharia. Com a resposta,
o banco deixa claro seu descaso com o dinheiro público
e a segurança da população
e, contrariando o discurso do seu presidente, Luciano
Coutinho, de que o futuro tem pressa, o BNDES demonstra
apreço ao atraso. Angra 3 é um projeto
datado da década de 1970 que, além
de antiquado, é perigoso e caro. Seu custo
está estimado em mais de R$10 bilhões,
dos quais R$2 bilhões já foram investidos.
Após o acidente no complexo
nuclear japonês de Fukushima, em 11 de março,
o governo alemão, parceiro brasileiro nesta
obra, anunciou a revisão da fiança
de R$ 3 bilhões que havia estendido ao projeto.
A suspensão levou Dilma Rousseff a fazer
um pedido pessoal ao presidente alemão, Christian
Wulff, quando da sua visita ao Brasil, para que
interceda em favor contribuição. Wullf
não se mostrou disposto, alegando que investir
em nuclear hoje é pessimamente visto em seu
país.
Por aqui, nem a presidente, nem
o BNDES estão preocupados com o que a população
quer, precisa, ou deseja financiar. Segundo a carta
do banco, caso o aporte de fora não venha
mesmo, e as chances são grandes, quem vai
bancar o montante bilionário para a construção
é a Eletrobrás, empresa controlada
pelo governo brasileiro - com dinheiro nosso.
Na sequência de passar a
batata quente adiante, o BNDES afirma no texto que
os recursos só foram aprovados graças
à regularização dada pelo IBAMA
e pela Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN) ao projeto. Parece se esquecer que a vizinha
Angra 2 opera sem licença definitiva, que
o plano de evacuação do município
de Angra dos Reis é assumidamente falho e
que não há destinação
final para ao lixo radioativo no país. Sequer
no mundo.
Geração de emprego,
outro argumento citado na correspondência,
não parece ser de fato grande preocupação
do governo. Medida Provisória assinada pelo
ex-presidente Lula no apagar das luzes de 2010 isenta
de impostos a importação de equipamentos
para usinas no Brasil, beneficiando os países
estrangeiros detentores da tecnologia nuclear. Ela
agora está na pauta da Câmara dos Deputados,
pronta para ser votada a qualquer momento. Deste
jeito, se existirem empregos, não serão
no Brasil.
Ao contrário do que afirma
o BNDES, energia nuclear emite sim gases de efeito
estufa na sua cadeia de produção,
que começa na extração de urânio.
O que de fato pode ser chamado de energia limpa
são renováveis como eólica,
solar e biomassa, por exemplo. Fontes que o Brasil
tem de sobra.
“De acordo com levantamento feito
em 2002, o potencial eólico do estado do
Rio de Janeiro equivale a mais de duas vezes a energia
que pode ser gerada por Angra 3. A atualização
deste levantamento pode dobrar este valor”, diz
Ricardo Baitelo, da Campanha de Energia do Greenpeace.
“Desenvolver eólica ao invés de nuclear
trará, além dos benefícios
ambientais e da segurança da população,
maior geração de empregos, da cadeia
de fabricação, instalação,
até a manutenção do equipamento.
+ Mais
Descaso a céu aberto
Nove caminhões carregados
de material radioativo estacionados no pátio
de uma delegacia no interior da Bahia aguardam indefinidamente
um rumo. Este é o cenário desolador
do caótico programa nuclear brasileiro. O
comboio veio de São Paulo, tentou entrar
no município de Caetité (BA) na noite
do dia 15 de maio e foi rejeitado pela população,
que aguardava em vigília. Até o momento,
nenhuma autorização de transporte
foi apresentada pelos órgãos responsáveis.
Segundo a Indústria Nuclear
do Brasil (INB), o comboio com cem toneladas de
urânio saiu de uma reserva da marinha em Iperó
(SP) para ser embalado em Caetité, única
cidade do país onde há minas de urânio,
e depois enviado para fora do país. Mas o
tal carregamento está rodeado de incertezas:
Não há provas de que não se
trate de lixo radioativo e, até o momento,
não se viu a cara de qualquer autorização
do IBAMA para o transporte de uma carga letal que
percorreu cerca de 1500 km por estradas brasileiras.
O clima em Caetité é
de apreensão total. O Greenpeace esteve na
delegacia onde repousam os caminhões, em
Guanambi, a 30 km de Caetité, e o comando
principal do batalhão pouco sabe sobre o
elefante branco que está em seu pátio.
O mesmo vale para a população, que
exige a retirada imediata do material. Originalmente,
o comboio tinha 13 veículos, dos quais 4
provavelmente conseguiram entrar na sede da INB.
“O episódio revela a falta
de governança do programa nuclear brasileiro.
Primeiro, um grande carregamento de material altamente
tóxico empreende uma jornada pelas rodovias
brasileiras sem autorização clara
de transporte. É levada para uma cidade que
rejeita o material e agora é mantida exposta
a céu aberto no pátio de uma delegacia,
colocando em risco a população”, diz
Pedro Torres, da Campanha de Energia do Greenpeace.
Padre Osvaldino, liderança
local convidada pela prefeitura a participar de
audiência com a INB sobre o caso esta manhã,
acredita que a tática da Indústria
Nuclear é a de vencer a população
pelo cansaço. “As pessoas não podem
ficar em vigília por muito tempo para evitar
que a carga saia do lugar”, diz. O Greenpeace foi
barrado na porta da audiência.. O impasse
– leia-se, a carga radioativa - permanece pelo menos
até amanhã, dia 18 de maio, quando
as negociações entre prefeitura, INB
e representantes da população local
recomeçarem.