30 Maio 2011 - Relatório
da Rede WWF apoiado pelo WWF-Brasil (atalho
para download ao lado) destaca a crescente demanda
mundial por soja e seu impacto sobre ambientes sensíveis
em todo o mundo, como o Cerrado.
A soja é plantada predominantemente
para alimentação de animais e produção
de óleo. Seu principal uso é para
a alimentação de aves, suínos
e gado. Nos últimos 15 anos, a produção
desse grão duplicou, em grande parte devido
ao aumento do consumo global de carne, bem como
seu uso em alimentos, biocombustíveis e outros
produtos.
Cerca de dois terços da
soja produzida no mundo é exportada, sendo
a China e os Estados Unidos os maiores importadores.
Estados Unidos também são o maior
exportador mundial de soja em grão e de outros
produtos. Enquanto isso, a sojicultura se expande
sobre terras e florestas na América do Sul,
principalmente no Brasil, Argentina, Paraguai e
Bolívia.
E para atender a esse aumento
da demanda, cada vez mais terras se destinam às
plantações de soja. Só no Brasil,
as plantações já têm
área equivalente à do Reino Unido
(Irlanda do Norte e Grã-Bretanha), ou 245
mil quilômetros quadrados. Tal expansão
é feita, quase sempre, às custas da
destruição de habitats naturais, como
acontece no Cerrado, abrigo de 5% de toda a biodiversidade
do planeta. A degradação do Cerrado
ocorre em escala semelhante à da Amazônia,
porém em ritmo mais acelerado.
Além disso, as emissões
de dióxido de carbono oriundas da conversão
do Cerrado (o governo brasileiro estima que elas
equivalem à metade das emissões do
Reino Unido em 2009) provavelmente já superam
as emissões provocadas pelo desmatamento
da Amazônia.
O Reino Unido importa mais de
70% da soja que consome, diretamente do Brasil e
da Argentina. Por isso, produtores de alimentos,
varejistas e consumidores têm a responsabilidade
e a oportunidade de, ao comprar e consumir, diminuir
a pressão sobre regiões como o Cerrado.
O WWF-Reino Unido faz um apelo
para que os supermercados, produtores e agricultores
adotem sistemas que tenham credibilidade, sustentabilidade
e sejam baseados nos interesses da coletividade.
Esse é o caso da Associação
Internacional para a Soja Responsável ou
RTRS (sigla em inglês para Round Table for
Responsible Soy), que estabelece padrões
ambientais e sociais para a produção
de soja. A Rede WWF faz parte do grupo fundador
da RTRS.
Essa associação
estabelece critérios para a produção
de soja, incluindo a proteção da biodiversidade
e das florestas naturais, bem como de outras áreas
importantes para a conservação ambiental.
Além disso, estabelece critérios para
respeitar as reivindicações de posse
da terra e garantir condições de trabalho
justo para a população local. Todos
itens indispensáveis para qualquer país
produzir e comercializar em mercados globais cada
vez mais exigentes.
A coordenadora sênior de
Políticas de Gado e de Soja do WWF-Reino
Unido, a brasileira Isabella Vitalli, afirmou que
: “Ao consumir o gado criado com soja, os consumidores
do Reino Unido contribuem, involuntariamente, para
a destruição de alguns dos habitats
mais valiosos do mundo. A Rede WWF acredita que
sistemas como o da RTRS podem ser uma forma eficaz
de lidar com os problemas associados à expansão
da soja e ajudar a preservar habitats únicos
para as gerações futuras”.
“No entanto, a RTRS não
é uma “bala de prata”. Há outras formas
de reduzir o impacto da agricultura da soja em áreas
como o Cerrado, como diminuir o consumo de carne,
reduzir o desperdício e apoiar a adoção
de uma legislação eficaz para proteger
habitats valiosos”, ressaltou Vitalli.
Este ano já é possível
adquirir soja com o selo RTRS e, portanto, o WWF
do Reino Unido pede a adesão das empresas
naquele país ao sistema. Com isso, ajudarão
a criar uma demanda por soja certificada e a ampliar
a iniciativa. No Reino Unido, já fazem parte
da RTRS as empresas M&S, Waitrose, Asda e Unilever,
além de produtores de insumos agrícolas,
de ração animal e de biocombustíveis.
Para a secretária-geral
do WWF-Brasil, Denise Hamú, estudos como
esse demonstram que em uma economia globalizada
há uma interdependência entre produção,
consumo e impactos socioambientais. “Estimular a
produção e o consumo responsáveis
é um dever de todos, produtores, governos
e consumidores. Hoje há um interpendência
acentuada entre mercados, e é fundamental
a valorização de produtos ambientalmente
corretos”, afirmou.
Os consumidores do Reino Unido
estão sendo mobilizados para apoiar a campanha
pedindo a adesão de supermercados à
RTRS.
+ Mais
Líderes mundiais debatem
futuro das florestas em cúpula no Congo
31 Maio 2011 - Líderes
dos países com florestas tropicais de todo
o mundo participarão, entre os dias 31 de
maio e 3 de junho, da Cúpula de Chefes de
Estado e Governos das Três Bacias de Florestas
Tropicais que acontece em Brazzaville, no Congo.
O objetivo do encontro é
firmar um acordo de cooperação forte
entre os países das três maiores bacias
de florestas tropicais do mundo - Amazônia,
Congo e Borneo-Mekong - que possa vir a ser adotado
por outros países com florestas tropicais
com o intuito de salvar suas florestas e apoiar
a luta contra o aquecimento global.
As florestas Amazônica,
do Congo e Borneo-Mekong representam um terço
das florestas do planeta e desempenham um papel
crucial na regulação do clima global,
na manutenção da subsistência
local e na proteção da biodiversidade
do planeta. As florestas são a “casa” de
80% da biodiversidade terrestre e de 300 milhões
de pessoas ao redor do mundo.
A cúpula reúne representantes
de 30 países das regiões, tais como
Brasil, Colômbia, Equador, Congo, Camarões,
República da África Central e ainda
Indonésia, China e Tailândia, em um
esforço de promover soluções
de longo prazo para a gestão sustentável
dessas florestas.
Para a Rede WWF essa reunião
irá influenciar um resultado positivo na
próxima reunião sobre clima em Durban,
na África do Sul, e levará a importantes
conquistas de comprometimento de proteção
ao meio ambiente.
A implementação
de políticas de promoção de
gestão sustentável, recuperação
de florestas tropicais e desmatamento zero líquido
estão entre as propostas da Rede WWF para
esta cúpula. Além disso, a organização
também defende o estabelecimento de um mecanismo
de financiamento transparente para as estratégias
de Redução das Emissões por
Desmatamento e Degradação (REDD) até
2015.
“O Brasil deve participar da cúpula
e é fundamental que assuma um papel de liderança
como detentor da maior floresta tropical e também
como país com grandes esforços de
redução do desmatamento, apesar da
recente aprovação na Câmara
do novo Código Florestal em tramitação”,
afirmou o líder da Iniciativa Amazônia
Viva da Rede WWF, Cláudio Maretti.
“Um acordo de cooperação
regional entre as três florestas tropicais
do mundo representa uma grande oportunidade para
a conservação ambiental, uma vez que
ajuda a expandir áreas protegidas, promove
a troca de informações e experiências
e harmoniza políticas sociais e econômicas”,
concluiu Maretti.