04/06/2011
Deogracia Pinto
Repórter do Radiojornalismo
Brasília – A seca não é mais
assunto exclusivo da Região Nordeste. Nos
últimos anos, outras regiões do país
têm registrado o fenômeno, inclusive
a Floresta Amazônica, que passou por dois
eventos de seca, em 2005 e em 2010. A do ano passado,
aliás, foi considerada a mais agressiva dos
últimos 100 anos.
Segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia, Paulo Brando, dois ciclos climáticos
causaram o fenômeno na floresta: o El Niño
e o aquecimento do Atlântico Norte. Os dois
eventos de seca da Amazônia, na avaliação
de Brando, tiveram, provavelmente, a mesma causa,
o aquecimento do Atlântico Norte, que mudou
os ventos e tirou parcialmente a umidade que vai
do Atlântico para o continente.
O pesquisador diz que ainda não é
possível contabilizar os danos causados ao
ecossistema. De acordo com ele, se as emissões
dos gases de efeito estufa continuarem nos níveis
atuais, a Amazônia poderá sofrer um
aumento significativo da temperatura e diminuição
das chuvas, acima da variação global
média.
Fenômeno natural, caracterizado pelo atraso
na ocorrência de chuvas ou na distribuição
irregular, a seca acaba prejudicando as plantações
agrícolas. O problema é muito comum
no Nordeste brasileiro. De acordo com registros
históricos, o fenômeno aparece com
intervalos próximos a dez anos, podendo se
prolongar por períodos de três, quatro
e, excepcionalmente, até cinco anos. As secas
são conhecidas, no Brasil, desde o século
16.
Normalmente, a seca se manifesta com intensidades
diferentes, dependendo do índice de precipitações
pluviométricas. Quando há uma deficiência
acentuada na quantidade de chuvas no ano, inferior
ao mínimo do que necessitam as plantações,
a seca é absoluta.
O município de Seridó, na Paraíba,
por exemplo, fica na região do Semiárido,
em plena Caatinga, bioma que se concentra no Nordeste
e ocupa cerca de 12% do território nacional.
Ali, a falta de chuvas pode durar até cinco
meses. O prefeito de Seridó, Francisco Alves,
relata que, em 2009, as chuvas foram tão
escassas que os produtores perderam 70% das plantações.
Lá, a principal fonte de renda é a
agricultura.
Pesquisadores dizem que a seca é um fenômeno
ecológico que se manifesta na redução
da produção agropecuária, provoca
uma crise social e se transforma em um problema
político. As consequências mais evidentes
das grandes secas são a fome, a desnutrição,
a miséria e a migração para
os centros urbanos.
O diretor do Departamento de Florestas do Ministério
do Meio Ambiente, João de Deus, esclarece
que o governo está implementando programas
sustentáveis para a Caatinga. “A política
para a região envolve também uma ação
bastante articulada para se trabalhar a recuperação
e o uso sustentável nessa perspectiva de
minimizar o risco de desertificação”,
afirma.
Segundo especialistas, para diminuir o avanço
da desertificação, são necessárias
ações para conservação
do solo, da água e das florestas. É
preciso também medidas de contenção
de desmatamentos, queimadas, uso de agrotóxicos
e a sensibilização da população,
principalmente das comunidades rurais.