07/07/2011 - Em sua mais célebre
obra, “Um naturalista no rio Amazonas”, o cientista
britânico Henry Walter Bates descreve números
exorbitantes a respeito da
exploração de quelônios na região
do Médio Solimões, Estado do Amazonas,
em meados do século19. Durante os nove anos
(1850 - 1859) em que morou na vila de Ega, atual
município de Tefé, Bates relata que
todas as casas tinham no quintal um tanque com um
estoque de quelônios, utilizados como alimento
para as famílias. Estima-se que, àquela
época, cerca de 20 mil fêmeas de tartarugas
adultas eram exterminadas anualmente na região
e aproximadamente 48 milhões de ovos eram
coletados das praias de desova de quelônios
a cada ano.
Atualmente, a União Internacional
para a Conservação da Natureza e dos
Recursos Naturais (IUCN, sigla em inglês)
classifica a tartaruga-da-amazônia como dependente
de programas de conservação, e tracajás
e iaçás como vulneráveis. Como
iniciativa para reverter este quadro, o Instituto
de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
(IDSM/MCT) apóia desde 1998, ações
de conservação de quelônios
realizadas voluntariamente por comunitários
na Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá. Nos dias 1 e 2 de julho, o Instituto
ofereceu a 42 moradores da Reserva a oficina “Conservação
Comunitária de Quelônios”.
Na oficina, realizada na sede
do Instituto, em Tefé, foram discutidas questões
sobre a importância da proteção
de praias, organização comunitária,
legislação ambiental, o papel dos
agentes ambientais voluntários e sobre a
biologia dos quelônios. Também foram
promovidas dinâmicas de educação
ambiental e aulas práticas de técnicas
de proteção de áreas de nidificação.
“Pela primeira vez, conseguimos
reunir agentes de praia de diversas áreas
da Reserva Mamirauá, inclusive representantes
dos setores da região de Fonte Boa. A oficina
oportunizou uma grande troca de experiências
entre técnicos e comunitários de diferentes
áreas da Reserva, e entre pessoas que já
trabalham há muitos anos na conservação
de quelônios e os que estão iniciando
suas atividades de proteção”, comemora
a bióloga Cássia Santos Camillo, pesquisadora
responsável pelo Programa de Pesquisas em
Conservação e Manejo de Quelônios
do Instituto Mamirauá.
Informação é a chave para a
conservação dos quelônios
Para a temporada de desova de
quelônios deste ano, a expectativa do Instituto
Mamirauá é de que sejam consolidadas
22 áreas de proteção de sítios
de nidificação de quelônios,
entre praias e lagos, cinco áreas a mais
do que no ano passado.
Para Oscarina Martins, integrante
do Programa de Gestão Comunitária
do Instituto Mamirauá, o maior empecilho
para a realização de um trabalho eficiente
de conservação de quelônios
são as desavenças entre os próprios
comunitários. Alguns moradores da Reserva
Mamirauá ainda relutam em aceitar que, em
determinadas praias e lagos, não é
permitido coletar ovos nem caçar animais
para o consumo.
Conservação
A oficina foi uma ação
do Projeto Conservação de Vertebrados
Aquáticos Amazônicos (Aquavert), desenvolvido
pelo Instituto Mamirauá e patrocinado pela
Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental.
Além dos quelônios (tartarugas tracajás
e iaçás), são espécies-alvo
do projeto Aquavert o peixe-boi, a ariranha, o boto,
o tucuxi e os jacarés. Ao longo dos próximos
dois anos, serão desenvolvidas atividades
de pesquisa e educação ambiental em
29 municípios da Amazônia.