Terminados
os dois dias de leilões de energias do governo,
o páreo foi duro para as renováveis,
que pelo sistema são obrigadas a competir
entre si pelo menor preço. Eólica
saiu vitoriosa, com 78 usinas vendidas nos dois
dias, seguida de biomassa, com 11. As pequenas centrais
hidrelétricas (PCH’s), opções
ambientalmente menos agressivas do que as grandes
usinas hidrelétricas, foram grandes derrotadas:
ficaram no zero a zero. O resultado comprova que
falta uma política adequada para incentivar
as renováveis no país.
Os leilões são o
momento onde é vendida a energia que o brasileiro
irá consumir nos anos seguintes. Neste, entraram
na disputa, além das fontes renováveis,
térmicas a gás e ampliação
da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia.
A eólica seguiu em sua progressão
de competitividade. Caiu de R$ 133 por MegaWatt-hora,
valor negociado em 2010, para R$101,65 MWh, fechando
em um valor menor do que o da energia elétrica
gerada por termelétricas movidas a gás
natural. Biomassa teve o maior salto de competitividade,
com projetos comercializados abaixo de R$100/MWh.
“Se as usinas a gás tivessem
sido ofertadas separadamente, haveria mais espaço
para biomassa e pequenas centrais hidrelétricas”,
avalia Ricardo Baitelo, coordenador da Campanha
de Energia do Greenpeace. “Estas fontes renováveis
ainda dependem de incentivos para se tornarem completamente
competitivas. Por isso defendemos um projeto de
lei para as renováveis, o PL 630/03, que
estabelece diretrizes para incentivar energias renováveis.
Entre elas, leilões separados para as fontes”,
concluiu Baitelo.
O segundo dia do leilão
foi dedicado à energia chamada de reserva,
que entra em cena somente quando há necessidade.
Neste, o preço médio da energia ficou
em R$99,61 por MWh, com 41 empreendimentos contratados.
O do dia anterior, chamado A-3, terminou com preço
médio de R$102,7 por MWh. “Os resultados
dos últimos anos têm sido positivos
para eólica. Teremos o equivalente à
meia usina hidrelétrica de Itaipu de energia
dos ventos daqui a 3 anos”, calcula Baitelo.
No total, os leilões garantiram
a venda de 3.962,6 MW de energia para o Brasil,
que estarão disponíveis até
2014, dos quais 48,7% provenientes dos ventos, 26%
de termelétricas a gás natural, 11,5%
de térmicas a biomassa e 11,4% da hidrelétrica
de Jirau.
O PL 630/03 está paralisado
desde o final de 2009 na Câmara Federal. Mais
conhecido como Lei de Renováveis, ele é
considerado a semente de uma revolução
energética capaz de garantir o futuro de
nosso país. A lei aloca subsídios
para fontes de geração limpa e assegura
a elas prioridade na ligação com a
rede de distribuição de energia nacional.
Também amplia a quantidade
de energia limpa comercializada no país e
abre o caminho para a geração descentralizada,
prevendo, inclusive, que brasileiros individualmente
possam gerar energia em suas próprias casas
e jogar o excedente na rede elétrica.
+ Mais
Baleias nadam em óleo na
porta de petroleira
Na ausência de resposta
da multinacional franco-britânica Perenco,
cobrada pelo Greenpeace a aderir a uma moratória
de exploração de petróleo na
região de Abrolhos, mais importante bancos
de corais do Atlântico Sul, baleias foram
pessoalmente ao edifício que sedia os escritórios
da empresa, no Rio de Janeiro, para relembrá-los
da proposta.
As baleias, na verdade ativistas
do Greenpeace fantasiados foram recebidas por outros
membros da organização, estes vestidos
de empregados da Perenco, sob jatos de um líquido
preto, não tóxico, que imitava petróleo.
A manifestação tomou ares de teatro,
em um embate entre os animais, representantes da
rica biodiversidade de Abrolhos, e as petroleiras.
Instigada a se pronunciar sobre o protesto, a Perenco
manteve-se em silêncio.
Quem é a Perenco?
Famosa por extrair petróleo
em lugares de difícil acesso, como áreas
de mata nativa e de reservas indígenas da
Amazônia peruana, a multinacional franco-britânica
Perenco é ainda uma desconhecida no Brasil.
Fundada em 1975 como empresa de
serviços logísticos para o setor de
petróleo, a Perenco logo se especializou
em perfuração. Seus primeiros campos
foram comprados em 1986, nos EUA, e em 1992, no
Gabão. Atualmente, a empresa produz 275.000
barris de petróleo por dia nos 16 países
em que atua.
No Brasil, a Perenco atualmente
é proprietária de cinco blocos de
exploração de petróleo em águas
profundas. Destes, dois estão localizados
dentro da área de moratória de Abrolhos.
O petróleo de Abrolhos
A proposta do Greenpeace é
o estabelecimento de uma moratória da exploração
de gás e petróleo por 20 anos em uma
zona de 93 mil quilômetros quadrados na região
de Abrolhos. Segundo recentes estudos científicos,
esta área é o limite mínimo
para evitar que acidentes de qualquer tipo contaminem
a biodiversidade da região.
A área de moratória
afeta treze blocos de exploração de
petróleo atualmente concedidas a dez empresas
nacionais e estrangeiras: Perenco, Petrobras, Shell,
Vale, OGX, Cowan, Sonangol, Vipetro, HRT e Repsol.
A proposta é uma tentativa
de barrar o avanço da exploração
petrolífera no entorno de Abrolhos. Ano passado,
o governo derrubou uma liminar do Ministério
Público Federal, de 2003, que impedia a ANP
(Agência Nacional de Petróleo) de licitar
blocos num raio de 50 km do Parque Nacional.
Lar de mais de 1.300 espécies
de aves, tartarugas, peixes e mamíferos marinhos
— dentre as quais, 45 em risco de extinção
— Abrolhos é a região de maior biodiversidade
da região sul do Atlântico. Seus recifes
de corais, os maiores e mais exuberantes do Brasil,
e seus extensos manguezais contribuem para fazer
desta a zona mais importante de pesca no Estado
da Bahia.