23 Agosto 2011
Por Jorge Eduardo Dantas de Oliveira
Um novo horizonte se abriu para os estudos de primatas
na Amazônia Meridional. Uma nova espécie
de primata foi encontrada na Reserva Extrativista
Guariba-Roosevelt, no noroeste do Mato Grosso e
está sendo submetida a estudos que visam
detalhar seu caráter inédito para
os mastozólogos e primatólogos do
mundo todo. O tombamento foi realizado em maio na
coleção científica de mamíferos
do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém
(PA).
O espécime, pertencente ao gênero Callicebus,
conhecido como zogue-zogue, foi coletado durante
a Expedição Guariba-Roosevelt, realizada
em dezembro de 2010 pelo WWF-Brasil em conjunto
com a Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso
(Sema) e a Mapsmut. Na ocasião, 9 pesquisadores
visitaram quatro unidades de conservação
do estado do Mato Grosso para colher subsídios
para a redação dos planos de manejo
dessas áreas protegidas. O trabalho durou
vinte dias e terá seu resultado consolidado
ainda este ano, com a publicação oficial
dos planos de manejo.
O primata foi encontrado entre os rios Guariba e
Roosevelt, dois dos mais importantes cursos d’água
do noroeste mato-grossense. O pesquisador responsável
pela descoberta, o biólogo Júlio Dalponte,
esclareceu que o pequeno primata apresenta características
de coloração diferentes das outras
espécies de zogue-zogue conhecidas na região.
“Este primata tem detalhes na cauda e na cabeça
que não foram vistos até agora em
outros zogue-zogues originários desta área”,
contou.
Júlio explicou que o registro e depósito
(tombamento) do animal significa, na prática,
sua incorporação à uma coleção
cientifica brasileira, no caso, a do Goeldi. “Este
é mais um passo neste trabalho de descobrir
e catalogar uma nova espécie. Ainda faremos
sua descrição e a publicação
de estudos mais detalhados sobre ela, mas não
há dúvida de que seja uma nova espécie”,
contou.
A descrição da espécie,
com os estudos sobre suas características
físicas e biológicas, deve levar cerca
de seis meses para ser concluída. A publicação
da descoberta em periódicos especializados
pode levar até um ano entre a submissão
do trabalho e a aprovação por parte
dos comitês editoriais de revistas científicas.
Assim que chegou ao Goeldi, o
primata foi classificado seguindo normas internacionais
de taxonomia. Os dados biométricos do animal
como peso, cor do pelo e comprimento de cauda foram
registrados, assim como outras informações
sobre sua ocorrência e sobre a coleta – como
o pesquisador coletor, o habitat e período
da coleta. Amostras de pelos e músculos foram
retirados para análises moleculares e todas
essas informações serão disponibilizadas
futuramente em fichas informatizadas, passíveis
de ser consultadas por outros pesquisadores.
“Ao tombar este animal numa coleção
idônea, como é o caso do Museu Goeldi,
damos um passo importante no sentido de conhecer
a fauna do noroeste do Mato Grosso, que ainda hoje
é um enorme quebra-cabeças com várias
peças ausentes”, explicou Dalponte.
Segundo o coordenador do Programa Amazônia
do WWF-Brasil, Mauro Armelin, a descoberta de uma
nova espécie de mamífero coloca em
evidência a importância das unidades
de conservação para a proteção
das espécies da flora e fauna e também
para a pesquisa científica. “O Brasil é
uma país megadiverso e é fundamental
a conservação dos ecossistemas e das
espécies. Precisamos conhecer mais essa riqueza
e promover o uso sustentável dos recursos
naturais”, afirmou Armelin.
Lançado em 2010 pela Rede
WWF, o relatório Amazônia Viva: uma
década de descobertas 1999-2009 mostrou que
mais de 1.200 novas espécies de plantas e
de animais vertebrados foram descobertas na Amazônia
entre 1999 e 2009. Isso significa uma nova espécie
a cada três dias. “Ainda há muito o
que descobrir”, comentou o engenheiro florestal.
“A perda de habitats naturais
continua sendo uma grande ameaça para a biodiversidade
brasileira. Por isso, é muito importante
a criação e implementação
de unidades de conservação com a coleta
de informações e elaboração
dos planos de manejo. A realização
da Expedição Científica Guariba-Roosevelt
é uma forma de apoiar a secretaria de Meio
Ambiente do Mato Grosso a conservar a riqueza natural
do estado”, explicou Armelin.