27 Setembro 2011
Ligia Paes de Barros, WWF-Brasil
A conservação
da biodiversidade no Brasil foi tema de debate nos
dias 26 e 27 de setembro em Brasília, quando
representantes de cerca de 50 organizações
da sociedade civil se reuniram para contribuir com
a elaboração de uma estratégia
nacional de conservação da biodiversidade
para 2020.
A redução da poluição,
a proteção de áreas terrestres
e de águas continentais em unidades de conservação,
a redução significativa da taxa de
perda de habitats nativos, o acesso e a repartição
de benefícios dos recursos genéticos
da biodiversidade e a mobilização
de recursos financeiros para conservação
foram alguns pontos debatidos durante o encontro.
O evento faz parte de uma iniciativa
do Ministério do Meio Ambiente, WWF-Brasil,
União Internacional para Conservação
da Natureza (UICN) e Instituto de Pesquisas Ecológicas
(IPÊ), chamada “Diálogos sobre a Biodiversidade:
construindo a estratégia brasileira para
2020”, que visa elaborar de forma participativa
um marco legal e plano de ação para
garantir a implementação das metas
globais de conservação da biodiversidade
para 2020 no Brasil.
Tais metas globais, conhecidas como Metas de Aichi,
foram acordadas entre 193 países, entre eles
o Brasil, em conferência internacional que
aconteceu em Nagoia, na província de Aichi
(Japão), no ano passado: a 10ª Conferência
das Partes da Convenção sobre Diversidade
Biológica (COP 10 da CDB).
Resultados
Durante dois dias, os representantes das instituições
debateram as Metas de Aichi e definiram como elas
devem ser adaptadas à realidade brasileira.
Em muitos casos, como o da proteção
de áreas terrestres e marinhas em unidades
de conservação, o setor optou por
ir além do determinado pela meta global.
Entre os destaques da reunião,
as organizações não-governamentais
apontaram aspectos que consideraram fundamentais
para a implementação das metas no
Brasil, tais como expandir o conhecimento sobre
biodiversidade por meio de inclusão do tema
em currículos escolares e de cursos universitários,
estimular a criação de unidades de
conservação municipais, estaduais
e privadas, eliminar incentivos lesivos à
biodiversidade até 2020, elaborar uma lei
de pagamentos por serviços ambientais e instituir
compras sustentáveis nas três esferas
do governo.
Para o líder da Iniciativa
Amazônia Viva da Rede WWF e representante
do WWF-Brasil no evento, Cláudio Maretti,
a participação das organizações
da sociedade civil é essencial para o sucesso
da iniciativa. “Nós, enquanto sociedade civil
organizada, não devemos só esperar
e cobrar que o governo faça a estratégia
de conservação da biodiversidade brasileira.
Nós devemos participar e mostrar qual o caminho
a ser seguido”, afirmou Maretti.
A presidente do IPÊ, Suzana
Pádua, acredita que essa iniciativa tem mostrado
que em um momento delicado de discussões
de alteração no código florestal,
representantes de diferentes setores estão
esforçados em salvar o patrimônio natural
do Brasil. “O interessante do ‘Diálogos sobre
Biodiversidade’ é levar esse debate para
outros setores para que eles incorporem a biodiversidade
em suas agendas”, afirmou Pádua.
Além da sociedade civil,
e do setor privado que foi consultado em agosto,
estão previstas mais três encontros
com diferentes setores no âmbito da iniciativa.
Governos, academia e comunidades locais e povos
indígenas foram convidados para contribuir
com a estratégia de conservação
da biodiversidade no país.
O papel da comunicação
O papel da comunicação na difusão
e qualificação da temática
ambiental no país também foi pauta
das discussões durante o evento. Os jornalistas
Liana John, especializada em meio ambiente, e Matthew
Shirts, coordenador do movimento Planeta Sustentável
da editora Abril, participaram do encontro e falaram
sobre os desafios de divulgar a importância
da biodiversidade.
“Para colocar a biodiversidade
no centro do debate, é preciso trabalhar
o conhecimento da biodiversidade como um todo. A
população brasileira não conhece
a biodiversidade”, afirmou Liana John, para quem
é preciso trabalhar com diversas frentes
para comunicar a biodiversidade e não apenas
a mídia tradicional.
A jornalista ainda ressaltou que espera que a biodiversidade
venha a ser conhecida pela sua utilidade. “Eu queria
ver a biodiversidade nas Havaianas, no chocolate
Surpresa, no objeto de decoração,
ela tem que ir pra rua. Só quando as pessoas
souberem o que é e usarem a biodiversidade,
o seu valor passará a ser reconhecido”, afirmou
Liana.
Já o jornalista Matthew Shirt destacou que
é preciso mudar o discurso sobre o tema ambiental
para qualificar o debate e levá-lo para a
sociedade. “O ambientalismo tende a abordar o tema
como a história do bem contra o mal e as
empresas têm a tendência de simplificar
muito a questão com o ‘feche a torneira’,
que não é exatamente o problema”,
apontou Shirts.
Para o editor, a alternativa é
trabalhar com os jornalistas para que estes levem
ao público em geral uma versão mais
sofisticada e intelectual do debate, com informações
qualificadas. “Em vez de tentar mostrar impressa
a importância e urgência do tema da
biodiversidade, é preciso ensiná-los
e envolvê-los nesse debate. Vocês são
todos candidatos a fazer isso”, completou Shirts.
Parcerias e apoio
O evento foi realizado em parceria com as organizações
Conservação Internacional Brasil (CI),
Instituto Socioambiental (ISA), Diálogo Florestal,
Fundação Vitória Amazônica
(FVA), Fundação Grupo Boticário,
Rede de Ongs da Mata Atlântica (RMA) e do
Instituto O Direito por um Planeta Verde.
A iniciativa “Diálogos
sobre Biodiversidade: construindo a estratégia
brasileira para 2020” conta também com o
apoio financeiro do Ministério do Meio Ambiente,
Alimentação e Assuntos Rurais do Reino
Unido (Defra) e do Probio II, programa do Ministério
do Meio Ambiente.