Transparência e providência.
Esses são os dois principais pedidos endereçados
à petroleira Chevron sobre o vazamento de
óleo que, há mais de uma semana, atinge
a Bacia de Campos, no norte do Estado do Rio de
Janeiro.
Com banners que diziam “Chevron:
sua sujeira, nosso problema”, os ativistas do Greenpeace
realizaram, na manhã desta sexta-feira, um
protesto diante do prédio onde ficam os escritórios
da petroleira, no centro do Rio. Eles despejaram
barris de “petróleo” – na verdade uma substância
produzida com tinta atóxica – para lembrar
que as causas do vazamento e os planos da empresa
para contê-lo e reduzir seu impacto na biodiversidade
da costa fluminense continuam muito mal explicados.
“O Greenpeace quer transparência
da Chevron e dos órgãos do governo
a respeito do acidente. As informações
que se tem até agora são contraditórias.
A empresa minimiza o problema. Mas a mancha de óleo
pode ultrapassar 160 quilômetros quadrados
de extensão”, afirma Leandra Gonçalves,
da campanha de Clima e Energia do Greenpeace.
“Surpreende que a empresa não
tenha se prontificado a levar a imprensa e organizações
da sociedade civil até o local do acidente
e até agora tenha se limitado a soltar comunicados
vagos sobre o que está acontecendo na costa
do Estado do Rio”, diz ela. “Tanto segredo é
um sinal de que a Chevron não tem um plano
de segurança adequado. O Brasil não
pode virar o Golfo do México.”
Dona da marca Texaco no Brasil,
a norte-americana Chevron detém uma concessão
para explorar três poços de petróleo
no Campo de Frade, na Bacia de Campos, localizado
a 370 km da costa do Rio. O vazamento foi detectado
no dia 8 de novembro e desde então, nem a
Chevron, nem a Agência Nacional do Petróleo
(ANP) souberam indicar suas causas reais.
O tamanho inicial do vazamento
foi estimado pela ANP em 330 barris por dia, ou
50 mil litros de óleo. Mas imagens de satélite
obtidos pela Agência Espacial Norte-Americana
(Nasa) indicam um vazamento dez vezes maior. A extensão
da mancha vista do espaço levam a um cálculo
de 3,7 mil barris de óleo por dia – quantidade
próxima a identificada no início do
vazamento do Golfo do México.
O triste episódio da exploração
de petróleo em alto-mar que pôs a Chevron
no radar dos brasileiros, espalhou óleo por
uma área que serve de rota migratória
para uma longa lista de espécies de baleias
– bryce, piloto, minke-anil, cachalote, francas
e jubartes. E é um duro alerta para a necessidade
do país de proteger suas jóias de
biodiversidade marinha como os Abrolhos, na costa
da Bahia.
Maior recife de corais do Hemisfério
Sul, Abrolhos é tão importante como
recurso natural que foi transformado em Parque Nacional
em 1983. É ele que garante a riqueza da pesca
e os benefícios do turismo para grande parte
do litoral nordestino. E a exploração
de petróleo está chegando lá.
“O acidente o poço da Chevron é um
recado eloquente em favor de uma moratória
na exploração petrolífera nos
Abrolhos”, diz Leandra.
+ Mais
O tamanho do estrago
Completada uma semana desde que
veio a público o derrame de petróleo
da empresa Chevron no Campo de Frade, na Bacia de
Campos, a Agência Nacional do Petróleo
(ANP) finalmente se pronunciou e estima que o vazamento
possa chegar a mais de 330 barris, ou mais de 50
mil litros de petróleo a cada 24 horas. Primeiro
vazamento desse tipo no Brasil, o acidente reproduz
a história do Golfo do México. Por
sinal, a plataforma SEDOC 706, que perfura os três
poços da Chevron de onde saiu o vazamento,
é da mesma empresa que operava com a BP no
triste episódio mexicano, a Transocean.
A área da mancha de óleo
avistada em alto-mar, e que já foi detectada
pelos satélites da Nasa, foi estimada pela
Chevron no último domingo em 163 quilômetros
quadrados. No entanto, após ver as imagens
divulgadas pela Nasa, o geógrafo John Amos,
diretor do site SkyTruth, especializado em interpretação
de fotos de satélites com fins ambientais,
concluiu que o derrame pode chegar a 3.738 barris
por dia, mais de dez vezes o que a ANP afirmou.
Com isso, não se pode confiar em mais nada.
“A causa ainda é desconhecida.
A Chevron declara que o vazamento é resultado
de uma falha natural na superfície do fundo
do mar, e não no poço de produção
no campo de Frade. Mas essa falha natural não
aparecia no Estudo de Impacto Ambiental (EIA). O
que aconteceu em Frade para a ‘falha natural’ começar
a jorrar petróleo? Onde está o EIA
de Frade, para que a população possa
acessá-lo?”, questiona Leandra Gonçalves,
da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace.
A ANP aprovou, no último
domingo, o Plano de Abandono apresentado pela Chevron
para o poço 9-FR-50DP-RJS, onde ocorreu o
vazamento. O plano prevê usar lama pesada
para fechá-lo. Em seguida será usado
cimento para extinguir o poço de forma definitiva.
Segundo o cronograma previsto, o vazamento deverá
ser controlado nos próximos dias e o procedimento
deve ser concluído até a próxima
semana.
Na semana passada, logo que o
vazamento veio à tona, a presidente Dilma
Rousseff determinou “atenção redobrada
e uma rigorosa apuração das causas
do acidente, bem como de suas responsabilidades”.
“A declaração da
presidente indica alguma preocupação
do país com casos como esse, mas ainda falta
seriedade, agilidade e transparência à
ANP, que apenas ontem divulgou qualquer tipo de
informação sobre o vazamento à
população. Esperamos agora que as
autoridades públicas cumpram sua ordem e
sejam transparentes com as informações”,
afirmou Leandra.
Enquanto isso, a população
se pergunta se a ANP recebeu as imagens da mancha,
e se continua a considerá-la um “pequeno
vazamento”. A foto da Nasa é uma prova de
que não são apenas umas gotas inofensivas,
mas uma imensa mancha negra de óleo no meio
do oceano.
Em nota, a ANP responsabiliza
inteiramente a Chevron pelo acidente e pela contenção
do vazamento. No entanto, a Petrobras detém
30% da produção, e mesmo assim não
foi nem sequer perturbada. Além de não
ter oferecido à população informações
claras sobre o caso e suas possíveis conseqüências,
a petroleira possui uma estrutura de contenção
insuficiente, e por isso está sendo socorrida
por outras empresas do ramo.
“Vazamentos como este mostram
que a exploração de petróleo
em alto-mar não é segura nem no Golfo
do México, nem no Brasil”, afirma Leandra.
“Isso apenas reforça a necessidade urgente
de uma moratória para a exploração
do petróleo na região de maior diversidade
do Atlântico Sul, o Parque Nacional Marinho
de Abrolhos”, conclui.