As florestas tropicais da Indonésia
tiveram hoje mais um alento. E a empresa Asia Pulp
and Paper (APP), produtora de papel, mais um bom
motivo para acabar com a degradação
florestal. A Hasbro, uma das maiores fabricantes
de brinquedo do mundo, tornou público o seu
afastamento do desmatamento, se juntando ao grupo
de grandes marcas que cancelaram seus vínculos
com a APP.
A APP foi muitas vezes acusada
de devastar para produzir embalagens descartáveis
de papelão. Entre seus clientes listavam
importantes marcas de brinquedos como a Disney.
Recentemente, após grande pressão
do Greenpeace, gigantes do ramo como a Mattel, empresa
por trás da famosa boneca Barbie, e a Lego
decidiram mudar sua política de compra de
papel e deixar de estar associada com a destruição
florestal.
Cada vez mais companhias mundo
afora se identificam com a conservação
dos ecossistemas do planeta, e as empresas destruidoras
seguem perdendo seus melhores contratos. Hoje a
Hasbro tornou público seu comprometimento.
Mas muitas outras empresas também estão
agora comprometidas com o fim da degradação
florestal e anunciaram que vão parar de comprar
da APP.
Entre elas estão a Warehouse,
maior grupo de lojas de departamento da Nova Zelândia;
a Delhaize, segunda maior varejista na Bélgica
e proprietário da Lion Food nos EUA; a Metcash,
uma das maiores cadeias de supermercados da Austrália;
a Montblanc, famosa fabricante de canetas de luxo;
a Tchibo, quinta maior torradora de café
do mundo; e a Cartamundi, líder mundial dos
fabricantes de cartas de baralho.
Em resposta à vitoriosa
notícia de que ainda mais empresas em todo
o mundo estão cortando os laços com
a gigante papeleira, o Greenpeace pediu hoje à
Asia Pulp para que se empenhe em acabar com a destruição
das florestas tropicais do país.
O Greenpeace também alertou
que a continuação da degradação
florestal pela APP ameaça o próprio
compromisso do presidente indonésio de dedicar
seu tempo restante de mandato para salvar as floresta
na Indonésia.
“A Asia Pulp and Paper é
ruim para as florestas e para a reputação
da Indonésia. APP deve se comprometer imediatamente
a parar de destruir as florestas tropicais”, disse
Bustar Maitar, da Campanha de Florestas do Greenpeace
na Indonésia.
Conhecidas grandes companhias
também têm excluído a APP de
suas cadeias de suprimentos. Isso inclui a Staples,
uma das maiores empresas mundiais de material de
escritório, que concluiu que a APP é
um “grande perigo à nossa marca”, bem como
as multinacionais de bens de consumo Kraft, Nestlé
e Unilever.
Varejistas internacionais como
Carrefour, Auchan, Grupo Metro e Tesco, todas excluíram
a APP de seus produtos de marca própria nos
últimos dois anos. A gigante Adidas também
parou de negociar com a APP.
Metas de combate ao desmatamento
A Indonésia é o
primeiro país em desenvolvimento a estabelecer
metas ambiciosas para reduzir o desmatamento, as
emissões de gases de efeito estufa, e para
combater as alterações climáticas.
Entretanto, os planos do presidente Susilo Bambang
Yudhoyono continuam a ser prejudicados por atividades
como a da APP.
No mês passado, a campanha
“Olho de tigre” do Greenpeace encontrou extensas
clareiras florestais dentro de concessões
da APP em Sumatra. As áreas que estão
sendo apuradas incluem aquelas mapeadas como habitat
para o tigre de Sumatra, hoje em perigo de extinção.
Apesar de o uso do fogo para limpeza de terrenos
ser proibido na legislação da Indonésia,
foram identificados incêndios florestais usados
para desmatamento dentro de duas áreas de
concessão da APP.
No início deste ano, a
empresa irmã da APP, a Golden Agri Recursos,
introduziu novas políticas de combate ao
desmatamento. Desde então, começou
a reconquistar os clientes que tinha perdido no
mercado internacional, incluindo a Nestlé.
"A APP deve seguir o exemplo
da GAR e imediatamente comprometer-se a pôr
um fim no desmatamento", concluiu Maitar.
+ Mais
A última chance dos EUA
A partir desta segunda-feira,
e durante as próximas duas semanas, os olhares
do mundo se voltam para Durban, na África
do Sul, onde chefes de estado de mais de 190 países
estão reunidos para discutir soluções
para combater os efeitos iminentes das mudanças
climáticas.
Mais importante Convenção
do Clima das Nações Unidas, a COP-17
tenta salvar o protocolo de Kyoto, único
acordo global que estabelece metas para cortes de
emissões de gases do efeito estufa. Mesmo
sem a adesão dos EUA, e sem incluir os países
em desenvolvimento, o protocolo é o único
instrumento que existe atualmente para se reduzir
as emissões de CO2.
O tratado, porém, vence
em 2012. Por isso, o principal desafio da Convenção
é renová-lo. Ao mesmo tempo, incluir
nele economias emergentes como China, Brasil, Índia
e Indonésia. Quanto aos Estados Unidos, essa
é a última chance de escutar o povo,
e não as empresas que poluem, aceitando participar
de um novo acordo global.
“A África já está
sofrendo os impactos das mudanças climáticas,
mas isso ainda não parece ser suficiente
para que países como os Estados Unidos tomem
uma atitude”, declarou ontem Kumi Naidoo, diretor
executivo do Greenpeace Internacional. “Durban precisa
representar um novo começo para as negociações
globais em torno das mudanças climáticas.
Esperamos que deste encontro saia um acordo que
represente os interesses das pessoas de todas as
partes do mundo, e não os interesses das
corporações que poluem.”
Com ou sem a adesão do
principal emissor de CO2 do planeta, os países
precisam estar preparados para seguir adiante: “Os
esforços globais por um acordo não
pode ficar refém dos Estados Unidos”, disse
Tove Ryding, coordenador de Política Climática
do Greenpeace Internacional. Segundo Ryding, o argumento
de que só poderá haver um acordo com
a participação dos Estados Unidos
está se tornando uma desculpa de outros governos
para não assumirem sua parcela de responsabilidade
em torno das questões climáticas.
Além da renovação
de Kyoto, outras questões devem chegar às
mesas de negociações dos líderes
globais. As expectativas em Durban girarão
em torno de um novo acordo global vinculante, com
a participação das economias emergentes
e que assegure um teto máximo de emissões
de gases do efeito estufa até 2015.
Além disso, os ambientalistas
pedem um fundo mundial para lidar com os efeitos
das mudanças climáticas e a cooperação
tecnológica e financeira para os países
em desenvolvimento poderem se adaptar às
medidas adotadas e proteger suas florestas.