Em reunião do PNUMA,
no Quênia, cientistas agraciados com
o prêmio Blue Planet apelam aos líderes
na Rio +20 para alterar a forma como a riqueza
das nações é medida
Brasília, 23 de fevereiro
de 2012 — Em reunião do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), no Quênia, cientistas pediram
a governos o fim de subsídios prejudiciais,
a transformação dos sistemas
de governança em sistemas mais humanizados
e a substituição do PIB como
forma de mensurar riquezas. O objetivo é
construir um novo caminho para um futuro melhor
– caso contrário, crises climáticas,
perda de biodiversidade e pobreza vão
gerar transtornos em todo o mundo.
Essas e outras mensagens
constam de um paper assinado por 20 cientistas
agraciados com o prêmio Blue Planet,
considerado o Nobel do Meio Ambiente. Bob
Watson, conselheiro científico do Reino
Unido sobre questões ambientais e um
dos vencedores do prêmio em 2010, apresentou
o trabalho para ministros de governo durante
a reunião no Quênia.
“Os governos precisam reconhecer
as limitações do PIB como forma
de mensurar a atividade econômica, e
complementá-lo com mensurações
de outras cinco formas de capital – financeiro,
humano, natural, de capacitação
e social, isto é, uma medida de riqueza
que integre as dimensões econômicas,
sociais e ambientais”, afirma o documento.
“Impostos verdes e o fim de subsídios
devem garantir que os recursos naturais necessários
para a proteção dos pobres estejam
disponíveis. Os subsídios que
só beneficiam as populações
mais ricas devem ser eliminados.”
Entre os co-autores do estudo
estão James Hansen, da NASA, Emil Salim,
ex-ministro do meio ambiente da Indonésia
e José Goldemberg, ex-secretário
de Meio Ambiente do Brasil durante a Rio 92,
e Will Turner, da Conservação
Internacional, que recebeu o prêmio
em 1997 pela pesquisa em melhoria da vida
das pessoas por meio da conservação
de ecossistemas
O anúncio do paper
chega em um momento em que o mundo se prepara
para o vigésimo aniversário
da Rio 92 e durante os preparativos da Rio+20,
que acontece em junho deste ano, conferência
que reunirá líderes mundiais
para discutir o desenvolvimento humano e sustentável.
“A reunião Rio+20
será uma excelente oportunidade para
que os especialistas possam indicar para a
sociedade global novas formas de nos desenvolvermos
e novos valores que levem em consideração
os limites que a natureza nos impõe.
Medir o crescimento por meio de uma dimensão
apenas – crescimento linear, como o PIB –
não demonstra para as pessoas que o
respeito ao meio ambiente está diretamente
relacionado com a qualidade de suas vidas”,
afirmou André Guimarães, diretor-executivo
da Conservação Internacional
(CI-Brasil).
O documento insta governos
a:
Substituir o PIB como única
forma de mensurar a riqueza, levando em conta
as dimensões dos capitais naturais,
humanos e sociais – e como eles se relacionam
Eliminar subsídios
em setores como os de energia, transporte
e agricultura, que criam custos ambientais
e sociais que atualmente não são
levados em conta.
Enfrentar o consumo exagerado
e capacitar mulheres para lidar com o problema
da pressão populacional, melhorando
a educação e tornando os métodos
contraceptivos acessíveis a todos.
Transformar o processo de
tomada de decisão para capacitar grupos
marginalizados, integrando-os por meio de
políticas econômicas, sociais
e ambientais.
Conservar e valorizar a
biodiversidade e os serviços ecossistêmicos,
criando mercados que possam formar as bases
da economia verde.
Investir em conhecimento
– tanto em sua criação como
no seu compartilhamento – através de
pesquisas e treinamentos que vão capacitar
os governos, empresas e sociedade para entender
e avançar rumo a um futuro sustentável.
“Esses são grandes
desafios que enfrentamos, sem precedentes
históricos. Mas eles também
podem ter solução. Nossa consciência
de que questões como as alterações
climáticas, a pobreza e a segurança
surgem da degradação ambiental
nunca foi tão grande,” diz Will Turner,
vice-presidente de Prioridades de Conservação
da CI.
O documento foi lançado
como base para a tomada de decisão
dos líderes da Rio+20, uma nova oportunidade
global para a definição de um
novo rumo para o desenvolvimento humano.
Achim Steiner, director-executivo
do PNUMA, afirmou que : “O documento vai desafiar
os governantes e a sociedade como um todo
para limitar as mudanças climáticas
induzidas pela ação humana,
a perda da biodiversidade e a degradação
dos serviços ecossistêmicos a
fim de assegurar comida, água, energia
e a segurança dos seres humanos.”