Equipe internacional de
cientistas apresenta pela primeira
vez estimativas de custos de adaptação
para as mudanças climáticas
dos esforços de conservação
Arlington, VA /São
Francisco, CA /Stellenbosch, África
do Sul, 17 de abril de 2012 — As mudanças
climáticas farão a conservação
da biodiversidade, bem como seus benefícios
associados – como água potável
e ar puro – mais desafiadores e caros, com
custos crescendo mais de 100% em alguns casos,
de acordo com três novos estudos de
um grupo de pesquisadores internacionais conveniados
à Conservação Internacional
(CI). Os pesquisadores chamaram os estudos
de uma espécie de “alerta” para a conservação
da biodiversidade e estabilização
climática de custo eficaz.
Os cientistas tinham como
foco as espécies e ecossistemas da
África do Sul, Madagascar e Califórnia.
Os resultados foram apresentados hoje em três
trabalhos publicados de forma conjunta no
periódico Conservation Biology, intitulado
“Foco na conservação: custos
da adaptação da conservação
às mudanças climáticas”.
Os estudos estão entre os primeiros
a estimar os custos da conservação
da biodiversidade sob os efeitos das mudanças
climáticas.
“Os efeitos das mudanças
climáticas nas espécies da África
do Sul, Madagascar e Califórnia são
muito diferentes, mas os custos de conservá-las,
certamente, aumentarão de forma considerável
em todas as três regiões sob
os efeitos das mudanças climáticas”,
diz o principal autor do estudo, Lee Hannah,
cientista sênior para a biologia das
mudanças climáticas da Conservação
Internacional (CI).. “Nós podemos ter
um planeta saudável e manter os custos
extras no mínimo se agirmos rápido
a fim de reduzir emissões e incorporar
as mudanças climáticas nos planos
de conservação”.
“Esse conjunto de estudos
ao redor do mundo é um alerta”, diz
Rebecca Shaw, cientista climática e
vice presidente associada do Fundo de Defesa
ao Meio Ambiente. “A verdade é que
nós temos lutado para conservar a natureza
da qual dependemos para ter ar e água
limpos sem contabilizar as mudanças
climáticas. Esses trabalhos mostram
que será mais difícil e mais
caro conservar a natureza no futuro. É
tempo de ter muito mais criatividade a respeito
de incentivos privados com bom custo-benefício
e inovadores para sermos mais eficientes na
conservação do sistema de suporte
à vida no planeta, beneficiando assim
a nós mesmos e a nossas crianças.”
“A conservação
é cara”, diz Belinda Reyers, cientista
chefe dos serviços de biodiversidade
e ecossistema do Conselho Para a Pesquisa
Científica e Industrial da África
do Sul, “e provavelmente se tornará
mais cara com as mudanças climáticas
– entretanto, levando em conta que já
existem investimentos para a conservação,
e os custos que representam a falta de ação,
chega-se à conclusão de que
quanto antes, melhor. Nossas mensagens não
são negativas e pessimistas no todo,
de fato o estudo de caso da África
do Sul destacou o importante papel que novas
abordagens para a conservação
e novas parcerias podem ter a fim de reduzir
esses custos”.
Em Madagascar, um dos países
mais biodiversos no mundo, onde a vasta maioria
das florestas nativas têm sido perdidas,
pesquisadores fizeram uma previsão
das chances de sobrevivência de 74 espécies
de plantas endêmicas (que só
são encontradas ali) baseados em diferentes
cenários de alterações
climáticas entre 2000 e 2080. Eles
perceberam que, conforme o clima muda ao longo
do tempo, espécies que estão
em florestas protegidas hoje serão
empurradas para fora, em áreas não
protegidas – que poderão desaparecer
– como poderia ser o caso da Rhopalocarpus
coriaceus, uma árvore nativa de Madagascar.
Restaurar florestas para evitar a extinção
de espécies como essa, eles concluem,
é mais difícil e caro que a
manutenção das florestas. Conservar
florestas em áreas mantidas por comunidades
tradicionais custa cde US$160 a US$576 por
hectare, enquanto a restauração
de florestas nas mesmas áreas custaria
seis vezes mais.
“Protegendo as plantas e
animais de suas florestas, Madagascar está
protegendo as fontes de medicamentos que podem
salvar vidas, água limpa para a agricultura,
e oportunidades de trabalho para a população
na área do turismo” diz Jonah Busch,
economista de clima e floresta da CI e autor
principal de “Mudanças Climáticas
e o custo da conservação das
espécies em Madagascar”. “A mais alta
prioridade de conservação é
parar o desmatamento e destruição
dos últimos remanescentes florestais
da ilha, protegendo assim suas espécies
únicas da mudança do clima”.
Na Califórnia, pesquisadores
pegaram 11 espécies que ocorrem dentro
de uma área de conservação
na Costa Central da Califórnia e projetaram
os custos da conservação dessas
espécies através dos anos de
2050 e 2100 sob um cenário real de
mudanças climáticas. Os resultados
mostram que os limites da área de conservação
teriam que ser dramaticamente expandidos e
que muitas espécies precisarão
de intervenções tal qual a criação
em cativeiro e realocação para
obter os ganhos de hoje com medidas de conservação
em um futuro cenário de mudanças
climáticas. As mudanças climáticas
aumentaram os custos da conservação
em cerca de 150% até 2050 e em cerca
de 220% até 2100 – que significam um
total de US$2,63 bilhões. Mesmo assim,
algumas espécies não são
aptas para sobreviver às mudanças.
Na África do Sul,
pesquisadores estudaram a sobrevivência
de 316 espécies da família Proteaceae
(de plantas com flores), que existem apenas
nessa região próxima da Cidade
do Cabo rica em biodiversidade florística.
O estudo apontou a proteção
de uma área suficiente para a sobrevivência
dessa família poderia custar por volta
US$1 bilhão. No entanto, medidas de
getão da conservação
em conjunto com os proprietários locais
poderia reduzir significativamente os custos.
Os três estudos foram
conduzidos por autores das seguintes instituições:
Conservação Internacional, Conselho
para a Pesquisa Científica e Industrial
da África do Sul, Fundo de Defesa do
Meio Ambiente, Missouri Botanical Garden,
Universidade Belfast do Queen, Instituto Nacional
Sul Africano de Biodiversidade, The Nature
Conservancy, Universidade da Califórnia
Berkeley e Universidade da Califórnia
Santa Bárbara, e tiveram apoio financeiro
da Fundação Nacional de Ciência
dos Estados Unidos. Os estudos foram publicados
em meio aos preparativos para as duas maiores
conferências da ONU este ano – Rio+20,
no Rio de Janeiro, de 20 a 22 de junho, ,
e Conferência das Partes da Convenção
de Diversidade Biológica, que acontece
em Hyderabad, Índia, de 8 a 19 de outubro.
“Se os líderes
mundiais querem ser efetivos tanto para desacelerar
a taxa de degradação ambiental
quanto para ajudar os pobres a prosperar agora
e no futuro, eles deveriam colocar a conservação
da biodiversidade no topo de suas agendas”,
diz Hannah.