Panorama
 
 
 
 

BELO MONTE E SEU RASTRO DE CAOS E DESTRUIÇÃO

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Abril de 2012

O Greenpeace sobrevoou a Usina Hidrelétrica de Belo Monte no dia 10 de abril e essa atividade fez parte das programações que envolvem o navio Rainbow Warrior, que na perna amazônica tem dado ênfase à campanha da Lei do Desmatamento Zero. Até o momento, mais de 93 mil pessoas assinaram a petição online que objetiva coletar no mínimo 1,4 milhão de assinaturas para esse projeto de lei de iniciativa popular.

O fato de o governo federal projetar a construção de 63 hidrelétricas nos rios Madeira, Teles Pires, Tapajós, Negro, Xingu, Trombetas e seus afluentes tem gerado perplexidade e deixado a Amazônia em estado de alerta máximo. E a se valer pelo que vem acontecendo na construção desta usina paraense, a preocupação tem razão de ser.

As consequências desta obra começam a ser sentidas em Altamira, uma das cidades mais afetadas pelo caos que se instalou devido à falta de infraestrutura. Crianças estão estudando dentro de contêineres, o sistema de saúde é deficiente, o tratamento de água é algo raro por lá e doenças como diarreias e verminoses se alastram. O preço da cesta básica disparou. No entanto, o Consórcio Norte Energia se comprometeu a fazer investimentos para que esses impactos fossem minimizados, mas até agora tudo não passou de promessa.

Um dos argumentos favoráveis à Belo Monte que mais se ouve em Altamira é de que as barragens levarão desenvolvimento para a região. Mas Dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu e presidente do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) tem outra concepção a respeito: “Ao meu ver, desenvolvimento é quando o ser humano é colocado no centro da questão. E não é o que tem acontecido aqui. Não há leitos novos no hospital, os barrageiros ganham no máximo R$ 1 mil, vivemos na capital da dengue e da malária. Desenvolvimento ocorre quando se melhora a qualidade de vida da população.”

Há a previsão de que Belo Monte venha desalojar entre 30 mil e 40 mil pessoas. Os futuros afetados são moradores dos municípios do entorno, ribeirinhos, extrativistas, indígenas e quilombolas. Isto acontecerá porque a obra pode alagar uma área de 516 km2. Em contrapartida, devido à forte migração, a população atual, que está em torno de 109 mil pessoas, pode chegar a 200 mil habitantes já em 2013.

“No caso desta hidrelétrica, os estudos de impactos sociais e ambientais apresentados até o momento estão claramente subdimensionados. As condicionantes são desrespeitadas e não cumpridas. Os povos afetados reclamam que estão sendo ignorados. O desrespeito é generalizado, mas mesmo assim o ritmo de construção da usina está cada dia mais acelerado. Para eles, o meio ambiente e as pessoas são o que menos importam”, pontua Marcio Astrini, da Campanha da Amazônia do Greenpeace.

Desmatamento

Outra abordagem que pode ser observada é que as construções dessas usinas também poderão contribuir para o aumento do desmatamento na região. O Greenpeace fez uma análise dos dados de desmatamento divulgados pelo Prodes do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) relativos à Belo Monte.

Segundo o Laboratório de Geoprocessamento da organização, como a área de influência indireta foi definida de forma conservadora no EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental- Relatório de Impacto ao Meio Ambiente), ao se observar os dados de satélite dos últimos três anos, houve aumento significativo do desmatamento fora dessa região pré-estabelecida. Ou seja, ao se estender um raio de 50 km, constatou-se que o desmate foi cinco vezes maior.

No entanto, não é nenhuma novidade afirmar que obras de infraestrutura são grandes catalisadores de novas clareiras. De acordo com Astrini, “o governo federal e os responsáveis pela obra sabem disso, mas não há nada que esteja sendo feito para barrar esta tendência. E desta forma, o que vai acontecer é o de sempre: enquanto os responsáveis pela hidrelétrica dão suas desculpas, a floresta paga com a vida."

Energias renováveis e eficiência energética

Diante deste cenário, vale destacar que o Brasil dispõe de um enorme potencial em outras fontes renováveis, como eólica, solar, biomassa e mesmo energia oceânica. A eólica poderia atender ao triplo da demanda atual por eletricidade e já apresenta o segundo custo mais baixo de geração entre todas as fontes, com preços relativamente próximos às hidrelétricas. A energia solar é a que mais cresce no mundo e os preços vêm caindo consistentemente.

O potencial de eólicas atualizado é de 300 mil MW (megawatts), suficiente para atender ao triplo da demanda elétrica atual do país. Já a solar poderia abastecer cerca de 10 vezes a necessidade energética nacional. Apenas a cogeração a bagaço de cana poderia gerar uma quantidade de energia superior a duas usinas de Itaipu, que produz 14 mil MW.

Por outro lado, as projeções de demanda do insumo do governo federal são superestimadas, mesmo considerando os índices de crescimento da economia, e é nisso que o governo Dilma Rousseff se apoia ao defender a exploração do potencial hidrelétrico dos rios amazônicos.

“Há uma folga de demanda contratada e se investíssemos em medidas mais agressivas de eficiência energética poderíamos abrir mão de uma série de usinas impactantes para o meio ambiente e para a sociedade”, avalia Ricardo Baitelo, da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace.

Ainda há a parte dos custos de Belo Monte, que chegam a impressionantes 30 bilhões, sem incluir externalidades de impactos socioambientais. Especula-se que 80% desse montante virá de financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

“O mesmo investimento para construir essa usina geraria praticamente a mesma energia em parques eólicos e até dez vezes mais de economia se fossem adotadas medidas de eficiência energética”, observa Baitelo.

Outro aspecto positivo das energias renováveis é que as indústrias eólica e solar geram mais empregos que a hidrelétrica para instalar a mesma potência. Essas cadeias empregam mais pessoas de forma permanente, em atividades de instalação, manutenção e vendas.

+ Mais

Novo gás para motosserra ruralista

Pela quarta vez em menos de quatro anos o Governo Federal adiou a entrada em vigor do decreto de crimes ambientais. A nova prorrogação tem validade de dois meses e, assim como em dezembro do ano passado, o motivo é o Código Florestal.

Feito em julho de 2008, o decreto é um instrumento para por em prática a legislação ambiental do país e punir aqueles que se negam a cumpri-la. “Porém, se depender das negociações entre governo e ruralistas para o desmonte do Código Florestal, o decreto, quando em vigor, pode não ter mais a quem punir”, diz Paulo Adário, Diretor da Campanha da Amazônia do Greenpeace.

No Congresso, Deputados alardeiam que já há um acordo para votar o novo Código nos dias 24 e 25 deste mês. Do outro lado, o Governo declara que a proposta final do texto a ser votado – cujo relator é o Deputado ruralista Paulo Piau (PMDB-MG) – ainda não está pronta.

Desmatamento flagrante

Enquanto tudo isso acontece nos corredores de Brasília, na Floresta Amazônica o que se ouve é o som incessante das motosserras. Segundo dados do INPE, o desmatamento quase triplicou de janeiro a março de 2012. A cobertura florestal perdeu 389 km², número 188% maior se comparado ao mesmo período de 2011. Deste total, a maior parte foi detectada no estado do Mato Grosso, um dos maiores desmatadores do país.

No início do mês, o Greenpeace denunciou uma madeireira operando sem autorização dentro do assentamento Corta-Corda, do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), a 140 km da cidade de Santarém (PA). Pátios de madeira, toras cortadas, desmatamento recente e uma serraria foram registrados em documento enviado ao governo.

“No meio da floresta, a falta de fiscalização e a destruição acontecem à luz do dia. E o novo Código irá promover ainda mais desmatamento. A Presidente Dilma precisa cumprir suas promessas de campanha e realizar o veto total ao texto que chegará às suas mãos”, afirmou Adário.

A própria Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, reconheceu, em coletiva realizada nesta semana, que o perdão a crimes ambientais e as mudanças propostas no Código foram motivos que levaram ao aumento da devastação. Ela afirmou que existe quem diga que “você pode desmatar que vai ser anistiado”.

Pelo fim do desmatamento

Em resposta ao desmonte da legislação florestal e à falta de governança, o Greenpeace lançou, em março deste ano, um projeto de lei de iniciativa popular que propõe acabar com o desmatamento nas florestas brasileiras. O projeto faz parte da Campanha pelo Desmatamento Zero e, para ir à votação no Congresso Nacional, precisa arrecadar 1,4 milhão de assinaturas de eleitores. O lançamento do projeto foi feito a bordo do navio Rainbow Warrior, do Greenpeace, no início de sua excursão pelo Brasil.

“Em Brasília eles estão fazendo uma lei para beneficiar o desmatamento. Resolvemos então fazer uma para proteger as florestas. A campanha pelo Desmatamento Zero é uma resposta à falta de governança e à desastrosa proposta do novo Código. Nós brasileiros precisamos reagir, antes que façam de nossas florestas apenas uma vaga lembrança”, concluiu Adário.


 

Fonte: Greenpeace-Brasil
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

Universo Ambiental  
 
 
 
 
     
SEJA UM PATROCINADOR
CORPORATIVO
A Agência Ambiental Pick-upau busca parcerias corporativas para ampliar sua rede de atuação e intensificar suas propostas de desenvolvimento sustentável e atividades que promovam a conservação e a preservação dos recursos naturais do planeta.

 
 
 
 
Doe Agora
Destaques
Biblioteca
     
Doar para a Agência Ambiental Pick-upau é uma forma de somar esforços para viabilizar esses projetos de conservação da natureza. A Agência Ambiental Pick-upau é uma organização sem fins lucrativos, que depende de contribuições de pessoas físicas e jurídicas.
Conheça um pouco mais sobre a história da Agência Ambiental Pick-upau por meio da cronologia de matérias e artigos.
O Projeto Outono tem como objetivo promover a educação, a manutenção e a preservação ambiental através da leitura e do conhecimento. Conheça a Biblioteca da Agência Ambiental Pick-upau e saiba como doar.
             
       
 
 
 
 
     
TORNE-SE UM VOLUNTÁRIO
DOE SEU TEMPO
Para doar algumas horas em prol da preservação da natureza, você não precisa, necessariamente, ser um especialista, basta ser solidário e desejar colaborar com a Agência Ambiental Pick-upau e suas atividades.

 
 
 
 
Compromissos
Fale Conosco
Pesquise
     
Conheça o Programa de Compliance e a Governança Institucional da Agência Ambiental Pick-upau sobre políticas de combate à corrupção, igualdade de gênero e racial, direito das mulheres e combate ao assédio no trabalho.
Entre em contato com a Agência Ambiental Pick-upau. Tire suas dúvidas e saiba como você pode apoiar nosso trabalho.
O Portal Pick-upau disponibiliza um banco de informações ambientais com mais de 35 mil páginas de conteúdo online gratuito.
             
       
 
 
 
 
 
Ajude a Organização na conservação ambiental.