Os bancos de algas coralíneas
cobrem quase 21 mil quilômetros quadrados
do Banco dos Abrolhos e são responsáveis
por 5% da produção mundial de
carbonato de cálcio
Brasil / Arlington, VA,
25 de abril de 2012 — Estudo realizado durante
dois anos na plataforma continental no Sul
da Bahia e Norte do Espírito Santo
confirmou que o Banco dos Abrolhos abriga
o maior banco contínuo de rodolitos
do planeta - 20.900 km² -, o que corresponde
a três vezes e meia o tamanho do Distrito
Federal.
O estudo, conduzido por
cientistas de diversas instituições
que compõem a Rede Abrolhos, uma das
iniciativas do Sistema Nacional de Pesquisas
em Biodiversidade (SISBIOTA) e da Conservação
Internacional, foi publicado na última
sexta-feira, 20, na conceituada revista científica
PLoS ONE. Com a utilização de
sonar de varredura lateral, veículos
submarinos de operação remota
(VORs) e equipamentos de mergulho, os pesquisadores
avaliaram a distribuição, extensão,
composição e estrutura do banco
de rodolitos no Banco dos Abrolhos.
Algumas vezes confundido
com os corais, os rodolitos possuem forma
arredondada e são formados por várias
camadas, principalmente de algas calcárias
incrustrantes.
"Encontrar o maior
banco de rodolitos do mundo no Banco dos Abrolhos,
no Brasil, evidencia a extrema importância
desta parte do Oceano Atlântico,"
disse Rodrigo Moura, Professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro e co-autor do estudo.
"Os rodolitos desempenham papel fundamental
em um ecossistema marinho saudável,
fornecendo habitat primário que pode
abrigar diversas e abundantes comunidades
de peixes e invertebrados de elevado valor
comercial."
Os rodolitos constituem-se
de estruturas calcárias (CaCO3 – carbonato
de cálcio) bioconstruídas, o
que lhes conferem uma estrutura rígida,
complexa, que servem de habitats para outras
espécies. Os pesquisadores também
estimam que os rodolitos do Banco dos Abrolhos
são responsáveis por cerca de
5% da produção mundial de carbonato
de cálcio (mineral que forma a carapaça
de moluscos e crustáceos e o esqueleto
dos corais).
"Bancos de rodolitos
como estes são gigantescas biofábricas
de carbonato de cálcio e podem desempenhar
um papel significativo na regulação
do clima global," disse Les Kaufman,
cientista marinho sênior da Conservação
Internacional. "Mas para entender qual
é e quão significativo pode
ser o seu papel, temos que aprender mais sobre
eles."
Os bancos de rodolitos enfrentam
uma série de ameaças, incluindo
a acidificação dos oceanos,
o aumento da sedimentação de
origem costeira e, em grande escala, a dragagem
e a mineração. Embora a acidificação
dos oceanos não possa ser controlada
em uma escala regional, as outras ameaças
aos bancos de rodolitos de Abrolhos merecem
atenção e podem ser controladas
localmente.
O Banco dos Abrolhos se
estende por uma área de 46,000 quilômetros
quadrados, onde a Conservação
Internacional trabalha com organizações
governamentais e comunitárias brasileiras
para a conservação e gestão
dos recursos marinhos.
“Com base na vulnerabilidade
relativamente elevada das algas coralíneas
à acidificação dos oceanos,
é muito provável que os bancos
dos rodolitos sofrerão uma profunda
reestruturação nas próximas
décadas," disse o autor do estudo,
Gilberto M. Amado-Filho, pesquisador do Instituto
de Pesquisas Jardim Botânico do Rio
de Janeiro. "Considerando a produção
de cerca de 25 milhões de toneladas
de carbonato de cálcio por ano, a proteção
e o estudo continuado da plataforma do Banco
dos Abrolhos devem ser priorizados."
Além dos bancos de
rodolitos, o estudo revelou também
enormes áreas de fundo do mar cobertas
por algas, depressões no assoalho marinho
(“buracas”) povoadas por densas populações
de peixes e recifes compostos por corais e
algas coralíneas. Essas novas descobertas
redimensionam áreas marinhas de elevada
importância ecológica, como o
megahabitat rodolito, ressaltando a importância
do Banco dos Abrolhos no contexto da biodiversidade
e equilíbrio ecológico da porção
sul do Oceano Atlântico.
Sobre a Rede Abrolhos
A Rede Abrolhos é uma iniciativa financiada
pelo Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI) no âmbito
do Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade
(SISBIOTA), coordenada por pesquisadores da
Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES), Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Instituto de Pesquisas Jardim Botânico
do Rio de Janeiro (JBRJ), Universidade Estadual
de Santa Cruz (UESC), Universidade Federal
da Paraíba (UFPB), Universidade de
São Paulo (USP) e Universidade Estadual
de Maringá (UEM).