Na lista, anunciada a cada
dois anos pelas principais organizações
de conservação de primatas do
mundo, constam duas espécies brasileiras:
macaco caiarara e bugio-ruivo
Iderabad, Índia,
15 de outubro de 2012 — Foi anunciada hoje
na COP 11, na Índia, a nova lista dos
25 primatas mais ameaçados de extinção
do planeta. Como acontece a cada dois anos,
a lista é preparada com base em estudos
dos principais primatologistas do mundo e
é compilada pelo Grupo Especialista
em Primatas da IUCN e da Sociedade Internacional
de Primatologia (ISS, na sigla em inglês),
com a colaboração da Conservação
Internacional e da Fundação
Bristol de Conservação e Ciência.
Neste ano, dois primatas
brasileiros constam da lista: o macaco caiarara
(Cebus kaapori) e o bugio-ruivo ou bugio-marrom
(Alouatta guariba guariba), que correm o risco
de desaparecer em breve devido ao impacto
do desmatamento, caça e outras ameaças.
O macaco caiarara foi descoberto
no país em 1992 e a maioria da população
desses animais pode ser encontrada na região
da Amazônia Oriental, principalmente
nas regiões leste do Pará, no
Maranhão e nas proximidades do Rio
Tocantins.
Já o bugio-ruivo,
descrito pela primeira vez em 1812, tem como
hábitat uma área restrita próxima
ao Rio Jequitinhonha, na região de
Minas Gerais, na Mata Atlântica.
Intitulada Primatas em perigo:
as 25 espécies de primatas mais ameaçadas
do mundo (2012-2014), a lista, que está
em sua sétima edição,
contém ainda nove espécies de
países da Ásia, seis espécies
de Madagascar e cinco de outros países
africanos, entre macacos, gorilas, chimpanzés
e lêmures. Na América do Sul,
além do Brasil, Equador, Colômbia,
Peru e Venezuela possuem primatas entre os
mais ameaçados.
“Os primatas são
nossos parentes mais próximos e provavelmente
as melhores espécies-símbolo
das florestas tropicais, já que mais
de 90% de todos os primatas conhecidos vivem
nesses hábitats”, afirma Russell Mittermeier,
presidente do Grupo de Especialistas em Primatas
da IUCN/SSC e presidente da Conservação
Internacional (CI). “Surpreendentemente, continuamos
a descobrir novas espécies de primatas
todo ano desde 2000. Além disso, os
primatas estão se tornando atrações
turísticas cada vez maiores, proporcionando
uma fonte de renda para comunidades locais
que vivem próximas ou em áreas
de conservação.”
Algumas das espécies
apontadas pela lista possuem poucos indivíduos,
como é o caso do lêmur esportivo
do norte (Lepilemur septentrionalis), de Madagascar,
dos quais só restam 19 espécimes
em seu hábitat. A situação
geral de todos os lêmures é bastante
crítica: um seminário de julho
deste ano promovido pela IUCN/SSC revelou
que 91% de todas as 103 espécies conhecidas
estão ameaçadas de extinção.
“Mais uma vez, o relatório
mostra que os primatas estão sob crescente
ameaça devido às atividades
humanas. Apesar de não termos perdido
nenhuma espécie de primata ainda neste
século, muitos deles estão em
situação crítica, como
os lêmures, atualmente o grupo de mamíferos
mais ameaçado do planeta”, afirma Christoph
Zchwitzer, da Fundação Bristol.
Apesar do quadro ameaçador,
a nova lista tem um lado positivo, mostrando
que espécies que constaram de edições
anteriores da lista das 25 mais ameaçadas
conseguiram se recuperar com base em políticas
efetivas de conservação. A última
edição da lista continha três
espécies brasileiras, o cuxiú-preto
(Chiropotes satanas), o mico-leão-da-cara-preta
(Leontopithecus caissara) e o sauim-de-coleira
(Saguinus bicolor). Todos eles se encontram
ameaçados de extinção,
mas conseguiram ficar de fora da lista dos
25 mais ameaçados de 2012-2014.
+ Mais
Comunidade se articula no
Amapá para promover preservação
Atividades do programa de
apoio à Flona vão fortalecer
articulação de moradores
Macapá, 30 de outubro
de 2012 — (Instituto Walmart) - Encontros
de formação, discussões
sobre leis e normas ambientais, atividades
de manejo sustentável e diversas pesquisas
sobre a situação da flora e
fauna local. Estas e outras atividades que
vêm sendo desenvolvidas no Programa
de Apoio à Implementação
da Floresta Nacional (Flona) do Amapá
irão se fortalecer ainda mais com a
proposta de articulação da comunidade
e a organização de uma associação
local.
O primeiro encontro com
este objetivo foi realizado no dia 16 de outubro,
com o apoio dos parceiros do programa - Instituto
Walmart, ONG Conservação Internacional
(CI-Brasil), Agência dos Estados Unidos
para o Desenvolvimento Internacional (USAID)
e o Instituto Chico Mendes para a Biodiversidade
(ICMBio) -, e a participação
de um representante da Organização
das Cooperativas Brasileiras (OCB). Na ocasião,
cerca de 30 moradores da região puderam
conhecer um pouco mais sobre o funcionamento
de uma associação.
De acordo com Josinei da
Silva Garcia, coordenador de projetos da CI,
a reunião foi um importante momento
para debater possíveis ações
a serem realizadas na Flona. “Além
de exercitar o senso coletivo, a associação
poderá facilitar o desenvolvimento
das atividades no parque. Antes, tudo era
feito de forma muito solta. Os moradores não
conversavam entre si. Acreditamos que, com
a associação, poderão
trabalhar mais em conjunto”, ressalta, lembrando
que, alguns aportes para as atividades locais,
como a entrega de novos materiais para o manejo
do açaí, serão facilitados
a partir da organização dos
moradores em grupo. “Eles precisam se apropriar
do programa e fazer acontecer”, enfatiza.
Antonio Carlos Soares Leite,
50, que nasceu na região e viu as mudanças
pelas quais o local passou a partir do momento
em que se tornou uma Unidade de Conservação
(UC), espera ansioso por melhorias e quer
colaborar para que elas aconteçam.
“Acredito que, em grupo, teremos mais força
para conseguir mudanças para a comunidade.
Precisamos de projetos que venham trazer mais
qualidade de vida para as pessoas. Ou seja,
que possam preservar a floresta, mas que também
gerem renda para as famílias”, acredita
o morador.
Segundo Josinei da Silva
Garcia, a proposta é que, em 2013,
sejam realizados diversos encontros de formação
com os moradores, em parceria com o Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
Manejo sustentável
- Ao longo dos últimos meses, a população
da Flona esteve envolvida em diversas atividades
visando ao manejo sustentável da floresta.
Uma das ações foi a promoção
da oficina “Cadeia Produtiva do Açaí:
boas práticas de campo e coleta coletiva”.
Como resultado foram formados três grupos
de coletores, encarregados por diferentes
tarefas.
Pela primeira vez foi possível
também fazer um monitoramento da colheita,
para melhor compreensão dos fatores
que a influenciam e o seu aprimoramento.
Alexandre Anders Brasil,
diretor do Programa Amazônia, da CI,
destaca que será implementado um plano
de negócios do açaí,
no qual está prevista a compra de equipamentos,
atividades de formação e a comercialização
do produto.
“Hoje, o açaí
só é utilizado para consumo
próprio na Flona. Pretendemos fazer
o enriquecimento dos quintais de produção
e, com as novas técnicas de produção
e colheita, os moradores poderão colher
o excedente, fazer a comercialização
e gerar renda.”
Outra produção
incentivada na Flona é a do mel. Neste
ano, foram instaladas 30 colmeias nas propriedades
de cinco famílias, que receberam capacitações
para fazer o manejo adequado. A proposta agora
é atender as demais famílias
interessadas.
A atividade tem impacto
direto em outros cultivos, tendo em vista
que as abelhas são ótimas polinizadoras,
inclusive do açaí. Há
uma estimativa de que, quando houver cerca
de 20 colmeias por propriedade, seja possível
gerar uma renda de pelo menos R$ 1.200,00/ano
por família.
Capacitações - Os encontros
de formação também atingem
outros públicos da região. Foi
promovida, por exemplo, a segunda oficina
sobre legislação pesqueira para
26 integrantes da Colônia de Pesca do
município de Porto Grande (AP). Além
disto, 21 guarda-parques foram capacitados
em serviços ambientais.
Novas formações
estão previstas para este ano, como
a preparação dos moradores para
receber os turistas, a partir do plano de
negócios de ecoturismo na região.
Na avaliação
de Alexandre Anders Brasil, essa intensa aposta
na educação local garante mais
qualidade ao processo de fortalecimento da
unidade de conservação e seu
desenvolvimento sustentável.
“Ao longo dos anos, estas
comunidades foram pouco assistidas e o programa
vem aprimorar a relação entre
o poder público e as comunidades, de
forma que a Unidade de Conservação
seja implementada para cumprir o seu papel,
mas incorporando o ser humano nesse contexto.
Acreditamos que essa iniciativa servirá
de modelo para ser replicada para outras regiões
do Amapá e do Brasil”, afirma.