11 de outubro de 2012 -
Mais de 400 pessoas são esperadas para
a VII Assembleia Geral da Hutukara Associação
Yanomami (HAY), que será realizada
de 15 a 20 de outubro, na aldeia Wathoriki,
região do Rio Demini, na Terra Indígena
Yanomami (TIY). O objetivo central é
realizar uma reflexão sobre o processo
de luta pela homologação da
TIY, considerando as ações que
possibilitaram a regularização
da terra. Estarão presentes conselheiros
e convidados dos povos Yanomami e Ye´kuana,
representantes governamentais e de organizações
da sociedade civil.
A quarta-feira, 17, está
reservada para discussão com a Funai.
Na oportunidade será apresentada pelos
representantes da fundação a
proposta de abrangência e funcionamento
das oito Coordenações Técnicas
Locais (CTLs) vinculadas à Frente de
Proteção Etnoambiental Yanomami
e Ye´kuana (FPEYY).
Com o tema Proteção
Territorial, a programação do
dia 17 abrange, pela manhã, duas mesas,
uma para tratar da situação
do garimpo e a outra da invasão de
fazendeiros na região Ajarani. À
tarde a discussão será em torno
da sobreposição entre terras
indígenas e unidades de conservação
e, em um segundo momento, da mineração
em TIs. No turno da noite, a pauta abordará
a questão dos benefícios sociais.
Além da Funai, participam dos debates
representantes das comunidades indígenas,
Hutukara, Instituto Socioambiental (ISA),
entre outros.
Pela diversidade de representantes
indígenas – jovens, mulheres, lideranças
tradicionais, professores, alunos, agentes
de saúde, agentes agroflorestais e
controladores de radiofonia – o momento é
privilegiado para fomentar a discussão
articulada entre os diversos representantes
governamentais e os indígenas sobre
a gestão territorial da TI Yanomami.
A Assembléia também
será espaço de reflexão
e pactuação das perspectivas
futuras para a TIY e abordará outros
temas, internos à Hutukara, tais como
apresentação de projetos, prestação
de contas e eleição da nova
diretoria. Durante a abertura, no dia 15,
será realizada uma apresentação
sobre 20 anos da TIY por Davi Kopenawa, presidente
da associação.
Histórico
Foi em 25 de maio de 1992,
que se encerrou um importante capítulo
da história Yanomami na sua luta pela
terra. A TIY foi homologada, durante o mandato
do então presidente Fernando Collor,
após décadas de contato que
levaram à morte grande parte da população
devido a epidemias, abertura da BR-210 e invasões
garimpeiras.
Entre 1975 e 1976, os primeiros
garimpeiros, cerca de 500, começaram
a invadir a Serra de Surucucus e, em 1980,
mais dois mil deles entraram no Furo Santa
Rosa do Rio Uraricoera. As rotas dos garimpeiros
passaram a dar o rumo das epidemias. Segundo
Alcida Ramos, em “O papel político
das epidemias: o caso Yanomami”, estima-se
que de meados de 1987 a janeiro de 11000,
o auge da corrida do ouro, cerca de mil Yanomami,
ou seja, 14% de sua população
em Roraima tenham morrido principalmente por
causa de doenças como a malária.
Em 1988, o governo afirmou
a existência de cerca de 40 mil garimpeiros
na TIY, ou seja, cinco vezes a população
indígena de todo o estado de Roraima.
A estimativa é de que 150 aviões
pousavam diariamente no aeroporto de Boa Vista,
que chegou a receber o título de maior
tráfego aéreo do país.
Para os Yanomami, as consequências foram
trágicas. O intenso movimento de indivíduos,
aviões, helicópteros e máquinas
espantaram a caça e os vários
rios foram poluídos por mercúrio,
promovendo a extinção dos peixes.
A situação
vivida pelos Yanomami começou a atrair
a atenção internacional e várias
manifestações foram deflagradas
ao redor do mundo. Em 1988, a Survival International
organizou um protesto em frente às
embaixadas de todos os países, em Londres,
e simultaneamente em frente às embaixadas
brasileiras de 20 países diferentes.
No mesmo ano, religiosos da Missão
Consolata entregaram à ONU um documento
com 150 mil assinaturas no qual denunciam
a situação dos Yanomami.
Em 1989, um relatório
sobre a situação de saúde
e sanitária da TY foi encaminhado diretamente
à Secretaria-Geral da ONU. No mesmo
ano, em março, o caso Yanomami foi
um dos mais tratados durante um seminário
em Genebra sobre “Efeitos do Racismo e Discriminação
Racial sobre as Relações Sociais
e Econômicas entre Estados e Povos Indígenas”.
O yanomami Davi Kopenawa teve um papel fundamental
nessa publicidade pela importância que
lhe foi conferida em meados da década
de 80, quando recebeu o Prêmio Global
500 por sua luta pelo meio ambiente.
Após intensa batalha
dos Yanomami e mobilização de
diversos setores da sociedade para que a demarcação
da TIY não ocorresse de forma desfragmentada
– como determinava a Portaria Interministerial
nº250/88, que previa 19 áreas
indígenas descontínuas –, a
terra é finalmente demarcada com 9.664.975
hectares, distribuídos pelos estados
de Roraima e Amazonas. A TI Yanomami é
a maior terra indígena do Brasil.