28 Novembro 2012 | Por Warner
Bento Filho
De São Paulo
A menos de dois anos do prazo final para a
implementação da coleta seletiva
e para o fim dos lixões em todo o país,
pesquisa inédita do Ibope revela uma
situação curiosa: a população
brasileira quer cuidar melhor de seu lixo,
mas não é atendida pelos governos.
O estudo, encomendado pelo WWF-Brasil no âmbito
do Programa Água Brasil, foi divulgado
na manhã desta quarta-feira (28), durante
a Expocatadores, que vai até sexta-feira
(30), em São Paulo. O Programa Água
Brasil, concebido pelo Banco do Brasil, é
desenvolvido em parceria com Fundação
Banco do Brasil, WWF Brasil e Agência
Nacional de Águas (ANA).
A pesquisa revelou que a
maioria da população (64%) não
é atendida pela coleta seletiva e 1%
não sabe o que é isso. De acordo
com o estudo, entre os 35% da população
que são atendidos pela coleta seletiva,
em apenas metade dos casos o serviço
é prestado pela prefeitura. A outra
metade é informal, prestada por catadores
de rua, cooperativas ou associações
ou entregues em pontos de coleta voluntária.
Entre aqueles que não
contam com serviço de coleta seletiva,
a disposição para separar materiais
é alta: 85% se dizem dispostos a separar
o lixo em casa se tiverem coleta seletiva
ou ponto de entrega voluntária.
De outro lado, a pesquisa
também mostra que a população
não quer pagar para ter o serviço.
A maioria – 65% - é contra a cobrança
da taxa do lixo.
O estudo revela, ainda,
desconhecimento dos brasileiros em relação
ao destino dos resíduos. Uma em cada
três pessoas não faz ideia para
onde vai o lixo produzido em sua casa. A consciência
sobre resíduos prejudiciais para meio
ambiente ainda é desigual: Pilhas e
baterias são os mais conhecidos.
Disposição
para a mudança
Apesar do desconhecimento,
a disposição para adotar comportamento
sustentável é alta: 41% dos
entrevistados se dizem dispostos a adotar
os três erres (reduzir, reusar e reciclar).
E um em cada três entrevistados está
disposto a abrir mão de produtos, ainda
que com prejuízo da comodidade, e a
exigir dos fabricantes solução
para os impactos ambientais dos produtos.
De acordo com o coordenador
do Programa Educação para Sociedades
Sustentáveis do WWF-Brasil, Fábio
Cidrin, o desafio para a implementação
da Política Nacional de Resíduos
Sólidos “é muito grande”. Ele
lembrou que, a menos de dois anos para o prazo
final para municípios terminarem com
os lixões e implementarem a coleta
seletiva, não há sinais de que
as metas serão cumpridas.
O presidente da Fundação
Banco do Brasil, Jorge Streit, lembrou que
o Programa Água Brasil atua em cinco
cidades brasileiras para desenvolver tecnologias
e experiências que possam ser replicadas
para todo o país. E observou que a
pesquisa tem grande importância para
o programa na medida em que estuda, além
do descarte, os hábitos de consumo
da população – justamente o
ponto onde começa a geração
de resíduo.
O líder dos catadores
de materiais recicláveis Severino Lima
Júnior avaliou que a pesquisa mostra
que a Política Nacional de Resíduos
Sólidos “ainda está para ser
implementada”. Segundo ele, ainda faltam informações
e iniciativas. “Precisamos, por exemplo, de
informações de ordem econômica.
Saber quanto custa fazer a coleta seletiva,
por exemplo”, disse. “É importante
que esse estudo seja reconhecido pelo poder
público”, concluiu.
+ Mais
Decisão da Justiça
dá fôlego para conservação
da Bacia Hidrográfica do Tapajós
26 Novembro 2012 | A decisão
da Justiça Federal do Estado de Pará
de proibir a concessão de licença
ambiental prévia para a construção
da Usina Hidrelétrica de São
Luiz do Tapajós é um importante
passo no crescente debate em torno dos interesses,
necessidade e urgência de se implantar
grandes projetos de infraestrutura em uma
das áreas mais conservadas da Amazônia
brasileira, afetando comunidades locais e
populações indígenas.
A liminar concedida pelo
juiz José Airton de Aguiar Portela
no último dia 19 determina que seja
realizada a Avaliação Ambiental
Integrada (AAI) em toda a bacia dos rios Tapajós
e Jamanxim, com base em critérios técnicos,
econômicos e socioambientais, e que
sejam ouvidas as comunidades indígenas
e comunidades tradicionais presentes na área.
Segundo o Ministério
Público Federal no Pará, que
solicitou a decisão, a obra afetará
a Terra Indígena Munduruku, onde vivem
mais de 10 mil indígenas.
“As avaliações
ambientais são muito importantes e
devem ser decorrentes de termo de referência
detalhado quanto à metodologia, de
maneira que possibilitem estudo consistente.
Mais importante ainda é a aplicação
das recomendações, assim como
o acompanhamento pela sociedade”, destaca
a secretária-geral do WWF Brasil, Maria
Cecília Wey de Brito.
A bacia hidrográfica
do rio Tapajós representa quase 6%
do território brasileiro e tem destacada
relevância ecológica, cênica
e cultural. No entanto, ela vem sendo afetada
por medidas precipitadas para implantação
de projeto que prevê a construção
de sete usinas no chamado Complexo Tapajós,
entre elas as duas mega-usinas hidrelétricas,
São Luiz (6.133 MW) e Jatobá
(2.336 MW).
Entre essas medidas está
a decisão do governo, anunciada em
janeiro e já convertida em lei, de
redução de área de quatro
unidades de conservação para
permitir a implantação do projeto
Complexo Tapajós e o barramento de
mais dois rios livres na Amazônia, Tapajós
e Jamanxin, com inundação de
área estimada em 2.500 km2 e fragmentação
de ecossistemas de importância social
e ecológica.
Segundo a recente decisão
judicial que contém o avanço
acelerado do projeto sem atenção
às determinações legais
já previstas, “o Poder Público
não pode negligenciar regras que ele
próprio instituiu, por mais urgentes
que sejam as demandas energéticas do
País”.
O WWF vem defendendo a tese
de um planejamento integrado para a região
e propondo um debate nacional qualificado
sobre a Amazônia que queremos conservar
no futuro, o que implica definir rios a preservar
antes que o acúmulo de impactos de
inúmeros projetos hidrelétricos,
tratados de forma isolada, gere um impacto
socioambiental de proporções
potencialmente desastrosas.
“Com 150 barragens planejadas
para a Amazônia, é imprescindível
definir áreas prioritárias para
a conservação de água
doce para garantir a manutenção
da conectividade e a integridade do sistema
hídrico de interesse da vida daqueles
que dependem que os rios corram e pulsem livremente.
E há ferramental para fomentar este
diálogo”, Pedro Bara, líder
da estratégia de infraestrutura da
Iniciativa Amazônia Viva da Rede WWF.