Notícia
- 12 - nov – 2012 - Greenpeace sobrevoa Floresta
Nacional de Altamira, unidade de conservação
que mais tem sofrido com o desmatamento. Madeira,
boi e estradas são comuns ali.
Às margens da rodovia
BR-163, a Floresta Nacional de Altamira continua
com seus 689 mil hectares na mira de madeireiros
e sem controle do poder público. Os
sistemas de Alerta do Desmatamento do Inpe
(Deter) e do Imazon (SAD) detectaram, nos
meses de julho, agosto e setembro novas áreas
degradadas e desmatadas na unidade. Em sobrevoo,
o Greenpeace documentou as áreas, além
de outras derrubadas que os sistemas de monitoramento
sequer detectaram. Segundo interpretação
visual de imagens de satélite pelo
Laboratório de Geoprocessamento do
Greenpeace, pelo menos 2200 hectares de floresta
impactadas.
O ritmo de destruição
colocou a Flona de Altamira na liderança
das unidades de conservação
mais desmatadas no mês de setembro,
de acordo com o Imazon. Mas ela não
foi a única: dados do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que
o desmatamento em áreas protegidas
segue em curso. Em 132 unidades de conservação
observadas por satélite, o desmatamento
aumentou cerca de 132% entre 2000 e 2012.
Prestes a completar 15 anos
de existência, não é de
hoje que a Flona de Altamira amargura uma
posição entre unidades que mais
sofrem pressão de madeireiros e do
agronegócio na Amazônia. Criada
para, com outras áreas protegidas,
formar uma espécie de cinturão
verde para frear o avanço do desmatamento
na zona de influência da BR-163, pouca
coisa mudou.
“Do alto, dá para
ver estradas cortando a floresta, toras de
madeira no chão, grandes e novos desmatamentos
e boi pastando à vontade. Há
anos denunciamos os crimes que ocorrem no
entorno da Flona de Altamira e o desrespeito
à política de unidades de conservação.
O desmatamento está lá, acontecendo
à luz do dia, para quem quiser ver.
E infelizmente não é um caso
isolado,” diz Marcio Astrini, coordenador
da campanha Amazônia do Greenpeace.
O desmatamento na Amazônia,
aliás, aumentou não só
nas áreas protegidas, mas de um modo
geral. No último mês de setembro,
o sistema de alerta de desmatamento do Imazon
(SAD) detectou 431 km2 desmatados: um valor
154% maior que do mesmo período do
ano passado. Em agosto, o monitoramento do
governo feito pelo Inpe também já
mostrava um aumento nas derrubadas de mais
de 200% comparado ao mesmo mês de 2011.
Região de crimes
Na última quinta-feira,
o Greenpeace já havia denunciado mais
uma vez a crônica falta de governança
ao longo da BR-163: um fazendeiro com crimes
ambientais e trabalhistas no currículo
foi beneficiado pelo programa do governo Terra
Legal, tendo sua fazenda regularizada apesar
das infrações.
Nesta sexta, entregamos
nova denúncia ao Ministério
Público e ao Ministério do Meio
Ambiente, pedindo a apuração,
a identificação e a autuação
dos responsáveis pelos desmatamentos
no interior da Flona de Altamira, bem como
a implementação de um plano
de fiscalização que impeça
novos desmatamentos nesta e nas demais unidades
de conservação da Amazônia.
Os crimes e a impunidade
por ali não são de hoje e remontam
à retomada das obras da rodovia BR-163
(Cuiabá-Santarém), há
oito anos. Na época, a expectativa
do aumento do desmatamento, grilagem e violência
levou à elaboração do
Plano BR-163 Sustentável, com uma série
de medidas para prevenir e impedir o avanço
das derrubadas ao longo da estrada – fato
muito comum na região.
Os desmatamento frequentes
na Flona de Altamira e em outras áreas
protegidas que estão nas proximidades
da rodovia denunciam que o plano não
foi para frente.
As unidades de conservação
criadas no entorno da rodovia – como a Flona
–, parte do projeto da BR-163, ainda não
foram implementadas – apenas quatro das 12
criadas têm plano de manejo.
Segundo um levantamento
do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)
com dados do governo, apenas 43% das ações
prometidas foram cumpridas. Em março
de 2012, o Greenpeace foi a Santarém
com o navio Rainbow Warrior. A bordo da embarcação,
organizações e movimentos sociais
assinaram e divulgaram manifesto contra a
baixa execução do Plano BR-163
Sustentável, pedindo providências
do governo.
“Esses e outros desmatamentos
que ocorrem diariamente na Amazônia
não se justificam do ponto de vista
ambiental, econômico ou social. Podemos
desenvolver a região e o país
sem derrubar mais nenhum hectare de floresta,
usando o que temos de terras já abertas
e subutilizadas”, finaliza Astrini.