29/11/2012 - 13h34
Meio Ambiente
Carolina Gonçalves
Repórter da
Agência Brasil
Brasília – Além das emissões
de gases de efeito estufa previstas em função
de atividades industriais e econômicas,
por exemplo, o mundo pode ter que absorver
um excedente de mais de 13 bilhões
de toneladas de gás carbônico.
O volume de emissões extras vem de
uma espécie de sobra dos países
desenvolvidos e de economias em transição
econômica, como as antigas repúblicas
soviéticas e os países do Leste
Europeu.
Essas economias cumpriram
as metas do primeiro período de compromisso
do Protocolo de Quioto, emitindo menos do
que o limite permitido. A margem que conquistaram
por ter emitido menos, nos últimos
anos, foi resultado da recessão enfrentada
por essas economias que reduziu o ritmo das
fábricas, mantendo os níveis
de poluição atmosférica
abaixo do estipulado.
A decisão sobre o
uso desse excedente a partir de agora tem
sido uma das principais preocupações
dos observadores brasileiros que acompanham
as negociações da Conferência
das Nações Unidas sobre Mudança
Climática. A COP18, como é conhecido
o evento, reúne, desde o último
dia 26, especialistas de mais de 190 países
em Doha, no Catar, na busca por soluções
para manter a elevação da temperatura
do planeta abaixo dos 2 graus celsius (ºC)
– valor definido como ideal para reduzir os
impactos do aquecimento global, como as enchentes
e secas extremas.
Há quatro dias, negociadores
da Rússia, Ucrânia e Polônia
têm pressionado as delegações
de outros países para garantir que
o uso do excedente dessas emissões
seja autorizado para o segundo período
do Protocolo de Quioto. O novo tratado deve
começar a partir de janeiro do próximo
ano, quando expira o prazo das atuais metas
que têm sido cumpridas pelos países
para reduzir emissões de gases nocivos
ao planeta.
“Estão jogando duro
para poder ‘carregar’ seu excedente para o
segundo período”, disse o coordenador
do programa de mudanças climáticas
e energia do WWF Brasil, Carlos Rittl, que
acompanha as negociações no
Catar. Ele destacou que esse movimento tem
contribuído para que as metas de redução
de emissões de outros países
sejam mais “tímidas”.
A intenção
dos três países é usar
o excedente para atingir suas metas ou vender
esse excedente para outros países.
Do outro lado da mesa, negociadores de países
em desenvolvimento e alguns países
europeus estão tentando evitar que
essa autorização seja um resultado
da COP18. “Com a urgência do problema
das mudanças climáticas, isso
tornaria praticamente impossível evitar
que o aquecimento global passe dos 2°C,
o que traria consequências catastróficas
para todos os países”, explicou Carlos
Rittl.
O embate em torno dessas
emissões mostra como as negociações
ainda estão distantes de uma conclusão.
Nessa fase da conferência, os especialistas
tentam chegar a um texto mais consensual,
que será analisado a partir do próximo
dia 4 de dezembro por ministros dos quase
200 países representados na COP18.
Aliado às polêmicas,
o novo tratado não terá o compromisso
dos Estados Unidos, do Canadá, da Russia,
do Japão e da Nova Zelândia.
E a União Européia, que chegou
a sinalizar que aumentaria sua meta de redução
das emissões em 30%, recuou em função
da crise econômica e tem sinalizado
a intenção de manter o atual
patamar de redução de 20% também
para os próximos anos.
“O risco maior na negociação
é de termos um segundo período
muito pouco efetivo em termos de redução
de emissões”, avaliou Rittl. “Há
muitos riscos nessa negociação,
nada de aumento de ambição em
metas e em financiamento climático,
muitos assuntos sem soluções
fáceis. Mas negociação
só termina no último minuto”,
acrescentou, otimista, lembrando que as negociações
ainda prosseguem por mais oito dias no Catar.