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IMPASSE ENTRE NAÇÕES É AMEAÇA À SEGURANÇA CLIMÁTICA GLOBAL

Panorama Ambiental
Dezembro de 2012

Falta de habilidade dos países para trabalhar em conjunto no enfrentamento aos desafios impostos pela mudança climática aponta para a necessidade urgente de novas lideranças e soluções

Brasília, 11 de dezembro de 2012 — Doha, Qatar - Após duas semanas de negociações improdutivas na 18ª Conferência das Partes (COP 18) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), no Qatar, período no qual ocorreram duas tempestades históricas em regiões opostas do planeta – com grande número de pessoas impactadas - a Conservação Internacional (CI) expressa sua profunda decepção com o fracasso do encontro. Os líderes mundiais falharam ao não conseguir agir com a urgência e a responsabilidade devidas para tratar, na escala necessária, sobre a cooperação, o compromisso e o investimento exigido pelas ameaças das mudanças climáticas. Os esforços para resolver a crise do clima, tanto no âmbito das Nações Unidas quanto no nível regional, nacional e privado, terão de ser redobrados para que se chegue em 2015 com um acordo justo, ambicioso e global que possa evitar mais danos aos sistemas que amparam a vida na Terra.

Embora as expectativas para a reunião fossem baixas, e um segundo período – 2013 a 2020 - de compromisso para o Protocolo de Kyoto tenha sido acordado entre alguns países, os analistas da CI em Doha apontam uma falta de progresso lamentável no documento final, chamado de ‘Portal Climático de Doha’ (Doha Climate Gateway), concluído após uma negociação de mais de 24 horas de prazo extrapolado. Com as nações divididas em questões como responsabilidade financeira e metas de redução de emissões, e um caminho por avançar quanto às ações de adaptação, à medida que os impactos se tornam cada vez mais reais, a COP18 ficou muito aquém de seu mandato. A conferência fracassou em aproveitar as bases lançadas em Cancun e em Durban para avançar rumo a um tratado global ambicioso com início em 2015, que diminua as emissões de gases do efeito estufa e mantenha o aumento da temperatura em 2 graus Celsius - o limite máximo, segundo os cientistas, para que ocorram mudanças críticas que vão afetar a provisão de água, a segurança alimentar e econômica e o bem-estar humano.

"Ninguém esperava um grande avanço nesta reunião, mas não houve praticamente nenhum progresso significativo sobre qualquer aspecto importante, incluindo a manutenção dos atuais sistemas de financiamento voltados para ajudar os países mais vulneráveis a lidar com os impactos negativos da mudança climática que, infelizmente, já são uma realidade. O máximo que este encontro conseguiu foi um acordo para continuar a negociar no próximo ano. Isto é completamente inaceitável e irresponsável, considerando a gravidade e a urgência do desafio climático”, declara Fred Boltz, vice-presidente sênior de Política Internacional da Conservação Internacional.

Apesar de restar apenas três anos para o cumprimento do prazo para a consolidação de um novo tratado climático global – acordo fechado na África do Sul no ano passado - os países parecem estar resignados a adiar decisões e investimentos cruciais para a última hora.

"É uma terrível ironia que, enquanto os esforços da comunidade global estejam se movendo em um ritmo glacial, as geleiras do mundo estejam, por sua vez, derretendo cada vez mais rápido”, acrescenta Boltz. “Infelizmente, os países continuam colocando suas prioridades nacionais em primeiro plano, se esquecendo de que temos um interesse comum”.

Protocolo de Kyoto
Uma das poucas conquistas concretas da conferência foi o acordo, por parte dos quase 200 países presentes, pela extensão do Protocolo de Kyoto até 2020. No entanto, a segunda fase não inclui alguns dos maiores emissores mundiais de gases estufa e cobre apenas cerca de 15% das emissões globais.

"Ficamos aliviados com o fato de que, na última hora, os países decidiram renovar o Protocolo de Kyoto - mesmo sem alguns dos atores mais relevantes -, porque este é o único acordo legalmente vinculante que temos. É, portanto, extremamente importante mantê-lo ativo para que se possa construir o novo tratado global em 2015", explica Rebecca Chacko, diretora sênior para Políticas Climáticas da Conservação Internacional.

Incremento do apoio financeiro e medidas de adaptação
Na conferência de Doha, a Conservação Internacional juntou-se a parceiros para pressionar os países a se comprometer com pelo menos US$ 60 bilhões em novos financiamentos para o período de 2013 a 2015 - o dobro do chamado "início rápido", promessa feita em Copenhague, na Dinamarca, em 2009. Também foi enfatizada a necessidade de capitalização do Fundo Verde para o Clima – no momento, esvaziado -, um mecanismo criado pela ONU para mobilizar recursos para as nações em desenvolvimento para medidas urgentes de mitigação e adaptação.

"Enquanto poucos países se comprometeram com o Fundo e merecem o reconhecimento por sua liderança e contribuições, a realidade é que o valor obtido até o momento permite muito pouco fôlego para ações de curto prazo", comenta Chacko.

"As soluções estão à mão, basta optarem por fazê-lo. Por exemplo, os sistemas de defesa inerentes à natureza podem ajudar as sociedades a sobreviver e a se adaptar aos impactos do aquecimento global. Medidas de adaptação com base em ecossistemas, que fortalecem a chamada infraestrutura verde e a resiliência dos ecossistemas como manguezais, florestas, bacias hidrográficas e recifes de coral, estão entre os meios mais eficazes e de baixo custo que temos para proteger as pessoas”, explica Chako.

"Na realidade, os países simplesmente não estão fazendo as contas. Se fizessem, eles iriam perceber a sabedoria que reside em financiar soluções preventivas ao invés de pagar contas enormes após o advento de graves catástrofes climáticas”, aponta a diretora da CI.

REDD+
No que se refere à mitigação, as decisões técnicas sobre a estratégia da ONU conhecida como REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, acrescida da conservação, da manutenção sustentável de florestas e do aumento dos estoques), que compensa os países em desenvolvimento por manter sua floresta em pé, também foram politizadas e atingiram um impasse. As discussões sobre REDD+ foram adiadas para a próxima conferência, devido a entraves relativos ao financiamento e à forma como os países irão contabilizar e verificar as emissões de carbono evitadas.

"Esta foi a primeira vez que o debate sobre REDD+ chegou a um impasse, e isso aconteceu por razões políticas e não técnicas. O progresso em Doha era fundamental para alavancar o mecanismo de REDD+, retirando-o do estágio atual, marcado por uma abordagem fragmentada, e alçando-o para a tão necessária escala global. O desmatamento é responsável por 16% das emissões globais de gases de efeito estufa e o REDD+ é sabidamente uma das melhores alternativas para atenuar os efeitos da mudança climática no curto prazo, ao mesmo tempo em que protege espécies ameaçadas e traz benefícios sociais para as comunidades em países detentores de florestas ", afirma Chacko.

Ela reconhece que as decisões a serem tomadas não são fáceis: "estamos falando de grandes mudanças, verdadeiramente transformadoras. A nossa sobrevivência depende delas".

Seguindo adiante
Embora a ONU seja o único fórum de que dispomos para uma ação coletiva global e necessária para limitar o aquecimento global a até 2 graus Celsius, Boltz acrescenta que ela não é a única esfera para tratar das alterações climáticas. Ele destaca a necessidade de ampliar a discussão para outros espaços alternativos que promovam processos mais ágeis e incluam outros setores da sociedade na mobilização por uma solução para o problema do clima.

"É chegada a hora de reconhecer que a UNFCCC é um fórum global para estabelecer o piso para os nossos esforços e não para definir seu teto. Acreditamos que ela deve determinar as ações mínimas e, ao mesmo tempo, incentivar uma abordagem mais ambiciosa. Até que consiga atingir esse patamar de atuação, suas ações ou omissões não devem restringir os esforços de empresas, de nações, da sociedade civil e dos governos locais dispostos a agir de uma maneira mais ágil, inovadora e ousada para resolver a crise climática. A escala do desafio climático exige líderes fortes. O esforço deve ser de todos nós", completa Boltz.

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A biodiversidade amazônica pela visão de jovens naturalistas

Alunos que venceram a 5ª edição do Prêmio Márcio Ayres mostram como a variedade de animais e plantas faz parte do cotidiano de escolas, produtores, famílias e comunidades do Pará.

Brasília, 06 de dezembro de 2012 — (Agência Museu Goeldi) - Agência Museu Goeldi - Dezessete atividades educativas, quinze municípios mobilizados, 40 escolas participantes, sete finalistas. Depois de uma longa jornada, a quinta edição do Prêmio José Márcio Ayres para Jovens Naturalistas terminou no dia 4 de dezembro com o anúncio dos primeiros colocados em cerimônia aberta ao público, realizada no Auditório Alexandre Rodrigues Ferreira, no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi. Entre os melhores trabalhos, os temas de zoologia foram os preferidos dos estudantes nesta edição, dominada pelas escolas públicas.
Pesquisas premiadas - Janilce de Nazaré Machado Batista, aluna do 3º ano da Escola Augusto Meira, conquistou o 1º lugar do ensino médio. O trabalho "A mandioca e o sistema de engorda de peixes em São Domingos do Capim", orientado pela professora Edna Gualberto, exigiu meses de pesquisa e dedicação total em sua cidade de origem.
A estudante investigou a prática de aproveitamento das sobras de mandioca pelos ribeirinhos na criação de peixes. Ela acompanhou a engorda de quatro espécies – acarás catitu, roxo e roxinho e aracu -, que foram criadas em uma camboa às margens do rio Capim, registrando todos os passos da pesquisa em mais de 700 fotografias.

O segundo lugar do Ensino Médio foi para André Hideo Umemura Paiva, aluno do 2º ano da Escola Tenente Rêgo Barros. A motivação para a pesquisa "Estudo sobre abelhas sem ferrão amazônicas", orientada pelo professor Assis Melo, veio de dentro de casa: André cria sua própria colméia de abelhas sem ferrão há sete anos.

Decidido a divulgar a importância dos insetos, visitou a cidade São João de Pirabas, onde a apicultura é uma forte atividade econômica, e pesquisou as características das espécies aripuá, abelha mosquito, uruçu-amarela e uruçu-cinzenta. No trabalho, o aluno destaca o valor comercial das duas últimas, cujo mel é mais saudável pela menor quantidade de açúcar e chega a custar R$100 o litro.

Já a terceira colocação ficou com Carmen Françuasy Martins Nascimento, da Escola Albanízia de Oliveira Lima. A estudante do 1º ano encontrou o objeto de estudo na própria escola e realizou a pesquisa "Artrópodes no ambiente escolar em área urbana de Belém-Pará", sob orientação do professor Cide da Silva Filho.

A aluna espalhou armadilhas luminosas do tipo CDC para atrair insetos hematófagos e armadilhas feitas com garrafas pet para coletar mosquitos em diferentes pontos da escola, conseguindo um total de 310 exemplares identificados em 39 morfoespécies. Ainda que tenha utilizado poucos métodos de coleta e amostragem, os resultados da pesquisa de Carmem demonstraram a riqueza de espécies encontradas em um único espaço urbano.

O trabalho "Dicionário ilustrado semi-sistemático da botânica do açaí" de Railson Wallace Rogrigues dos Santos, 1º ano da Escola Enedina Sampaio Melo, recebeu Menção Honrosa. Com a orientação de Aldenora Gonçalves, o aluno identificou cerca de 100 formas lingüísticas utilizadas pela comunidade de Igarapé-Miri para diferenciar etnovariedades do açaizeiro, como o “açaí parau”, termo relacionado ao fruto em fase de amadurecimento.

O 1º lugar do Ensino Fundamental foi para André Vitor Tavares, aluno do 8º ano da Escola Vilhena Alves, onde integra o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades – ele também é aluno da Escola Salesiano do Trabalho. Seu estudo "Arara azul: em processo avançado de extinção", orientado pelas professoras Marcia Veloso e Cacilda Silva, foi constituído pela observação de exemplares de aves em cativeiro no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, entrevistas com uma bióloga e o veterinário do Goeldi, além de pesquisa bibliográfica.

Os resultados da investigação de André Vitor serviram de base para a elaboração de um folder, utilizado para a conscientização da comunidade escolar. Os demais trabalhos finalistas do Ensino Fundamental não obtiveram pontuação suficiente na avaliação oral.

Para a pesquisadora Ana Harada (MPEG), que participou da comissão julgadora na 1ª edição do Prêmio, a qualidade dos trabalhos têm aumentado. Ela destaca ainda a possibilidade que o Prêmio tem de descobrir mentes curiosas para a ciência: “A gente pode encontrar grandes potenciais de jovens na Amazônia. É só procurar nas escolas e ter pessoas que possam conduzi-los até nós”.

Premiação - Os primeiros colocados, e seus orientadores, ganharam notebooks , o segundo lugar, máquina fotográfica digital e o terceiro, bicicleta. Os alunos finalistas, menção honrosa, professores orientadores e as escolas participantes foram premiados com kits de publicações. A surpresa generosa foi garantida pelo Dr. Manoel Ayres, pesquisador pioneiro na área da estatística biomédica e pai do falecido primatólogo Márcio Ayres, que, durante a cerimônia, ofereceu tablets para o estudante Railson e a professora Aldenora cujo trabalho obteve Menção Honrosa.

5ª edição - Realizada pelo Museu Emílio Goeldi e Conservação Internacional do Brasil, com o apoio da Escola da Biodiversidade Amazônica do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, esta edição inseriu o Prêmio no cenário das novas mídias através de diferentes estratégias de divulgação. Foram realizadas palestras, oficinas, materiais educativos, websérie “Naturalistas do Século XXI”, transmissão ao vivo e digitalização de conteúdos, além de campanhas informativas no jornal O Liberal, Rádio e TV Cultura e nas redes sociais. Todo material educativo está disponível no site do prêmio.

Coordenado pela jornalista Joice Santos (LabCom Multimídia/ SCS/MPEG) e pelas educadoras Filomena Secco (SEC/MPEG) e Maria de Jesus Fonseca (EBIO/UEPA), o PJMA buscou fornecer informações aos estudantes e mobilizar o debate sobre biodiversidade amazônica. Segundo Maria de Jesus, as atividades educativas que antecederam a premiação foram significativas no processo de produção dos trabalhos. “Avançamos bastante no Prêmio. Hoje a gente pode sentir a presença de escolas públicas e municípios próximos, além da melhoria na qualidade dos trabalhos”, avalia a coordenadora.

Os apoiadores do Prêmio Márcio Ayres incluem o Jornal O Liberal, a Fundação de Telecomunicações do Pará (Funtelpa), a Secretaria de Estado de Educação (Seduc), a Fundação Amazônia Paraense (Fapespa), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Texto: Luena Barros


 

Fonte: Conservação Internacional Brasil
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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