21 Fevereiro 2013 | O caderno
Amanhã (O Globo) publicou na última
terça (19) um artigo assinado por Jim
Leape, diretor-geral do WWF Internacional,
e por Maria Cecília Wey de Brito, secretária-geral
do WWF-Brasil, sobre o tráfico nacional
e internacional de animais silvestres.
No texto, são reveladas
dimensões e impactos dessa prática
extremamente nociva à preservação
de impressionantes formas de vida. Os motivos
de sua perpeatuação envolvem
questões econômicas, sociais
e culturais. Logo, soluções
dependerão sempre do esforço
conjunto de entidades civis, governos e setor
privado.
Confira a íntegra
do artigo abaixo.
A caça e o comércio
ilegais de animais silvestres estão
entre as ameaças mais graves à
sobrevivência de algumas das espécies
mais carismáticas, valiosas e ecologicamente
importantes da Terra. Nos últimos meses,
ressurgiu dramaticamente a captura ilegal
de animais e a comercialização
de produtos com alto valor derivados de espécies
nativas.
Somente na África
do Sul, 668 rinocerontes foram mortos em 2012
e milhares de elefantes morrem todos os anos
para extração de seu marfim.
Graças ao tráfico desenfreado,
apenas 3.200 tigres restaram vivendo na natureza.
A maior parte desta pilhagem
é escoada para a Ásia, onde
serve como símbolo de status, souvenires
para turistas ou, ainda, para supostos fins
medicinais.
O tráfico ilegal
resulta em ferimentos e mortes humanas. Milhares
de pessoas perdem a vida nas batalhas ferozes
com traficantes. As organizações
criminosas por trás desse comércio
raramente são presas e muito menos
processadas.
No Brasil, o problema não
é menos preocupante. Redes de tráfico
escoam animais silvestres por estradas que
cruzam grande parte do país, segundo
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).
De 2005 a 2010, o órgão emitiu
mais de R$ 600 milhões em multas por
crimes envolvendo animais silvestres. No mesmo
período, só recolheu apenas
2% desse valor.
Todos os anos, 38 milhões
de animais são retirados da natureza
brasileira. Apenas quatro milhões são
vendidos, principalmente no Sudeste. O restante
acaba em gaiolas, é solto em locais
inadequados ou morre vítima dos maus
tratos.
Um animal retirado da natureza
reage à presença do ser humano
e tem dificuldades para crescer, se alimentar
e se reproduzir em cativeiro. O papagaio,
a arara, o mico e o jabuti, ao contrário
do que muitos pensam, são silvestres.
Eles pertencem à natureza e nela vivem
melhor.
Aprisionar ou vender animais
silvestres é uma prática ilegal
comum em todo o Brasil. As principais vítimas
são aves canoras ou de grande beleza.
Além disso, o comércio ilegal
é estimulado pela procura de criadores
e colecionadores, pet shops, indústrias,
pesquisa ou biopirataria.
As redes ilegais de escoamento
se valem de métodos semelhantes aos
usados por traficantes de drogas, armas e
pedras preciosas, como falsificação
de documentos, suborno, sonegação
de impostos. Também estabelecem rotas
nacionais e internacionais de tráfico
de animais, geralmente retirados das regiões
mais conservadas do Brasil.
Para garantir que espécies
silvestres sigam cumprindo seu papel, temos
que consolidar e ampliar áreas protegidas
e fortificar ações conjuntas
para coibir essas práticas ilegais.
O WWF tem desenvolvido uma
campanha internacional contra o comércio
ilegal e insustentável de espécies
silvestres e subprodutos. Junto com a Traffic,
a rede internacional contra o tráfico
de animais silvestres, estamos chamando atenção
ainda com mais força para as práticas
ilegais de captura e comercialização
com a proximidade da Convenção
Internacional sobre o Tráfico de Espécies
Ameaçadas da Fauna e da Flora Silvestres
(Cites), em março.
A fundação
do WWF também foi motivada pelo desejo
de assegurar uma chance de sobrevivência
para animais tão incríveis como
os elefantes e os rinocerontes, em benefício
da própria vida na Terra. Afinal, os
animais silvestres não cometeram nenhum
crime para terminar a vida atrás das
grades ou ser simplesmente exterminados.
Há esperança
de que possamos salvar os animais ameaçados
pelo tráfico, desde que não
fiquemos imóveis. Este mês lançamos
uma nova petição que tem como
alvo o consumo na Tailândia (wwf.panda.org/killthetrade),
onde cada nome se soma ao esforço para
pressionar as autoridades a mudar a situação.
Cada pessoa, seja ativista
ou comerciante, jornalista ou artesão,
turista ou presidente, mas principalmente
cidadão, pode contribuir para acabar
com o tráfico e comércio ilegal
de espécies silvestres.
A hora é agora.