Brasília (22/02/2013)
– Pesquisadores do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), lotados no Parque Nacional de Aparados
da Serra, administrado pela autarquia no Rio
Grande do Sul, realizaram três expedições
ao cânion Itaimbezinho, formado pelos
Rio do Boi e Mampituba, entre o Rio Grande
do Sul e Santa Catarina.
No total, os pesquisadores
registraram 22 espécies de peixes.
Dessas, pelo menos cinco são desconhecidas
pela ciência. Estudos sistemáticos
e moleculares já estão sendo
realizados por especialistas para diferenciar
uma dessas novas espécies.
O interior do Itaimbezinho
(Rio do Boi) revelou 15 espécies, das
quais dez são endêmicas (exclusivas
deste habitat). Devido à dificuldade
de acesso, a ictiofauna (peixes) desse ambiente
jamais havia sido pesquisada.
Pesca elétrica
A metodologia adotada pelo
grupo foi o da pesca elétrica, que
possibilita uma amostragem mais eficiente
e menos seletiva que os métodos tradicionais
e coleta de informações sobre
todas as espécies que habitam uma área
definida.
As nascentes da sub-bacia
formada pelos rios do Boi e Mampituba estão
totalmente protegidas pelo parque, no topo
do planalto, e formam seções
de habitat isoladas por grandes quedas d'água
para o interior do Itaimbezinho.
Habitats isolados, como
ilhas e cavernas, geralmente abrigam espécies
endêmicas ou pelo menos raras ou desconhecidas
pela ciência. Até o momento,
não havia informação
sobre peixes e outros organismos do habitat
lótico (água corrente) de Aparados
da Serra.
Parceria
O trabalho de desvendar
o monumento, que fica dentro do parque, contou
com a parceria da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade
do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). O grupo
identificou ao todo cinco seções
de habitat, das quais três são
totalmente isoladas por barreiras naturais
e duas conectadas a bacias maiores.
O trabalho apresenta contribuições
às listas de espécies de bacias
hidrográficas. Nenhuma das espécies
encontradas está presente nas listas
de espécies ameaçadas de extinção.
A maioria não tem dados suficientes
para avaliação, necessitando
estudos mais aprofundados.
De acordo com o analista
ambiental do ICMBio e mestre em Ecologia e
Especialista em Diversidade e Conservação
da Fauna, Lúcio Santos, as novas informações
reforçam a importância do Parque
Nacional Aparados da Serra. “Assim como aumenta
a responsabilidade sobre a conservação
dessa biodiversidade”, frisa ele.
Ameaças
Entre as ameaças
sobre essa biodiversidade ainda desconhecida
de Aparados da Serra, segundo a pesquisa,
estão a estradas que cortam os cursos
d'água com bueiros, que podem fragmentar
o habitat e dividir populações.
"Não podemos afirmar, até
o momento, que algum dos bueiros existentes
represente ameaça concreta à
conservação da conectividade,
porém, um dos bueiros identificados,
conforme o manejo, pode dividir a população
de uma das espécies exclusivas do Rio
Camisas", esclarece o pesquisador Lúcio
Santos.
O parque é limitado
por um lado pelo Rio Camisas, que está
conectado à bacia Taquari-Antas (RS).
"Há forte pressão por asfaltamento
e constante manutenção das estradas
existentes", diz Santos.
Outra ameaça é
a possível introdução
de espécies exóticas, que pode
prejudicar a composição original
das comunidades nativas. "Também
não foram encontradas espécies
exóticas. Contudo, estamos atentos
às pisciculturas existentes no entorno,
bem como ao avanço da agricultura e
silvicultura na zona de amortecimento",
afirmou o pesquisador.
Comunicação ICMBio