Brasília (22/03/2013)
– Especialistas em primatas estão transferindo
micos-leões-da-cara-dourada de Niterói,
no estado do Rio de Janeiro, para o Sul da
Bahia, seu habitat natural. A ação
é baseada em estudos que recomendam
a remoção porque a espécie
é tida como invasora em Niterói,
habitat de outro primata, o mico-leão-dourado.
Inédita no Brasil,
a operação é necessária
para evitar que os dois grupos se encontrem,
o que seria prejudicial à manutenção
de ambas as espécies. Todo o processo
obedece a protocolo recomendado por instituições
internacionais de proteção animal.
Tudo indica que os micos-leões-da-cara-dourada
foram introduzidos em Niterói acidentalmente.
Até agora, foram
capturados 104 indivíduos. Desses,
66 foram transferidos para a Bahia, 17 estão
na quarentena e quatro grupos (24 animais)
que apresentaram resultados positivos para
doenças permanecem em cativeiro. Os
especialistas calculam que metade dos animais
já foi retirada da região de
Niterói. Eles esperam capturar todos
os remanescentes até o final do ano.
No começo de março foram observados
os primeiros filhotes dos grupos soltos na
Bahia, o que é um bom sinal de adaptação
dos micos-leões-da-cara-dourada à
nova área.
O programa de remoção
é conduzido pelo Instituto Pri-Matas
em parceria com o Centro Nacional de Pesquisa
e Conservação dos Primatas Brasileiros
(CPB), unidade descentralizada do Instituto
Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio), Secretaria do
Ambiente do Rio de Janeiro, Instituto do Ambiente
do Estado do Rio de Janeiro (Inea) e secretarias
municipais de Meio Ambiente, Recursos Hídricos
e Sustentabilidade e de Educação
de Niterói. E tem financiamento da
Fundação Grupo Boticário
de Proteção à Natureza,
da RBO Energia (através da Câmera
de Compensação Ambiental da
Secretaria do Ambiente do Rio de Janeiro),
do Tropical Forest Conservation Act-TFCA/Funbio,
do Lion Tamarin of Brazil Funds, de Margot
Marsh Biodiversity Foundation/Conservation
International e MBZ Species Conservation Fund.
"O mico-leão-da-cara-dourada
(Leontopithecus chrysomelas) habita a Mata
Atlântica da região sudeste da
Bahia e extremo nordeste de Minas Gerais e
está ameaçado de extinção,
classificado como “Em Perigo” pelas listas
da IUCN e do Ministério do Meio Ambiente.
Já o mico-leão-dourado (Leontopithecus
rosalia) é encontrado apenas em remanescentes
de Mata Atlântica da região costeira
do estado do Rio de Janeiro, e também
foi incluído como “Em Perigo” nas listas
citadas. As duas espécies estão
ameaçadas principalmente devido à
destruição de seus hábitats.
Em 2002 foram observados,
pela primeira vez, indivíduos de mico-leão-da-cara-dourada
numa área florestada administrada pelo
Instituto Estadual do Ambiente do estado do
Rio de Janeiro (Inea), em Niterói.
Os indivíduos encontrados foram inadvertidamente
introduzidos nessa área e sua população
está se expandindo a ponto de ameaçar
a sobrevivência dos micos-leões-dourados
(nativos) que ocorrem nas regiões vizinhas.
A espécie introduzida se alimenta dos
mesmos recursos (frutos e insetos), usa os
mesmos locais de dormida, os mesmos territórios
e pode comprometer a sobrevivência do
mico-leão-dourado através de
competição direta e/ou introduzindo
novas doenças.
Além disso, por ambas
serem do gênero Leontopithecus, essas
espécies podem vir a se acasalar, dando
origem a híbridos que potencialmente
ocupariam os remanescentes de Mata Atlântica,
o que representaria uma nova ameaça
ao mico-leão-dourado. É urgente
a remoção dos grupos de mico-leão-da-cara-dourada
da região de Niterói, São
Gonçalo e Maricá antes que o
aumento e a expansão da população
introduzida tornem inviável sua retirada
- e essa foi a principal recomendação
dos órgãos governamentais e
não governamentais envolvidos na conservação
das duas espécies, por meio do Plano
de Ação Nacional para a Conservação
dos Mamíferos da Mata Atlântica
Central, coordenado pelo Centro Nacional de
Pesquisa e Conservação de Primatas
Brasileiros (CPB) do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio).
Assim, desde junho de 2012,
a ONG Instituo Pri-Matas está capturando
os micos-leões-de-cara-dourada introduzidos
no Rio de Janeiro e, depois, transportando,
soltando e monitorando esses animais numa
área de Mata Atlântica protegida
pela Veracel Celulose, em Belmonte, na Bahia,
dentro da área de distribuição
original da espécie.
Como os micos-leões-da-cara-dourada
estão vivendo em matas vizinhas à
cidade (com lixo, animais domésticos,
casas etc.) e até recebem alimentos
de moradores locais, podem pegar doenças
das pessoas e, por isso, precisam passar por
quarentena e fazer vários exames de
saúde no Centro de Primatologia do
Rio de Janeiro, do Inea, em Guapimirim (RJ),
onde permanecem durante 30 dias e recebem
alimentação e supervisão
médica diária antes de serem
transportados e soltos na Bahia.
Amostras de sangue, fezes,
pelos e outros materiais biológicos
são enviadas para laboratórios
localizados nas universidades de São
Paulo (USP), Federal Fluminense (UFF) e Paulista
(UNIP), além dos institutos Pasteur
(SP) e Biológico (SP), sob a coordenação
do Laboratório de Patologia Comparada
de Animais Selvagens da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da USP.
Após a verificação
da saúde dos animais, aqueles considerados
saudáveis são transportados
(cada família numa caixa separada)
pela TAM Cargo para Porto Seguro (BA) e seguem
para a área de soltura. Alguns indivíduos
de cada grupo recebem rádio-colar e
são soltos e monitorados na nova área,
para avaliação do sucesso do
procedimento. Os gastos com os exames e transporte
são custeados pelas instituições
parceiras.
Em Niterói, uma equipe
de educação ambiental do Instituto
Pri-Matas e técnicos do Parque Estadual
da Serra da Tiririca, administrado pelo Inea,
também ajudam a explicar aos moradores
da região a importância do projeto
para a conservação dessas duas
espécies ameaçadas de extinção.
Até o momento já
capturamos 104 indivíduos e translocamos
66 para a Bahia; 17 estão na quarentena
e quatro grupos (24 animais) que apresentaram
resultados positivos para doenças permanecem
em cativeiro. Calculamos que metade dos indivíduos
já foi retirada da região de
Niterói e até o final do ano
esperamos capturar todos os remanescentes.
No começo de março foram observados
os primeiros filhotes dos grupos soltos na
Bahia, uma indicação do sucesso
da adaptação dos micos-leões-da-cara-dourada
na nova área.
O projeto tem apoio do CPB/ICMBio;
da Secretaria do Ambiente do Rio de Janeiro
e do Inea; e das secretarias municipais de
Meio Ambiente, Recursos Hídricos e
Sustentabilidade e de Educação
de Niterói. Recebe financiamento da
Fundação Grupo Boticário
de Proteção à Natureza,
da RBO Energia (através da Câmera
de Compensação Ambiental da
Secretaria do Ambiente – RJ), do Tropical
Forest Conservation Act-TFCA/Funbio, do Lion
Tamarin of Brazil Funds, de Margot Marsh Biodiversity
Foundation/Conservation International e MBZ
Species Conservation Fund."