Porco-espinho é encontrado
em fragmentos de Mata Atlântica nordestina
e comprova que muitas espécies estão
desaparecendo antes mesmo de terem sido descritas
pela Ciência
Pernambuco, 11 de abril
de 2013 — Pesquisadores da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal
do Espírito Santo (UFES), liderados
por Antônio Rossano Mendes Pontes, da
UFPE, publicaram recentemente a descoberta
de uma nova espécie de porco-espinho,
que recebeu o nome de Coendou speratus.
Os pesquisadores avistaram
pela primeira vez indivíduos da nova
espécie na Usina Trapiche, área
situada na Mata Atlântica do Nordeste,
uma das regiões mais ricas em biodiversidade
e, ao mesmo tempo, mais ameaçadas do
mundo. O artigo com a descoberta foi publicado
na Zootaxa, uma revista científica
internacional dedicada, principalmente, à
publicação de artigos que contêm
descrições de espécies
novas e, também, revisões taxonômicas
de vários grupos de animais.
A descoberta fez parte de
um estudo de 5 anos que contou com o apoio
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico - CNPq, Centro de Pesquisas
Ambientais do Nordeste - CEPAN, Fundação
de Amparo à Ciência e Tecnologia
do Estado de Pernambuco - FACEPE, Fundação
de Amparo à Pesquisa do Espírito
Santo - FAPES e da Conservação
Internacional – CI-Brasil.
Os porcos-espinhos são
roedores arbóreos de pequeno e médio
porte e pesam cerca de 1,5 kg. Segundo Rossano,
“a espécie foi batizada de 'speratus',
que significa esperança, para representar
nossa esperança de preservar o que
resta deste importante hotspot”. Diante desse
achado, os cientistas confirmam que na Mata
Atlântica do Nordeste espécies
estão desaparecendo antes mesmo de
terem sido descritas pela ciência. “É
urgente a necessidade de se preservar este
fragmento de Mata Atlântica e da realização
de mais levantamentos para se determinar a
riqueza real destas áreas que ainda
são muito pouco conhecidas”, conclui
Rossano.
Segundo o pesquisador, mais
de 50% dos mamíferos de grande porte,
como onças e antas, estão extintos
regionalmente, e qualquer animal de médio
e grande porte na Mata Atlântica do
Nordeste corre o risco de desaparecer, pois
os fragmentos de mata são muito pequenos,
possuem características de borda, são
isolados uns dos outros e não tem a
estrutura suficiente para manter a comunidade
biológica original. Os mamíferos
remanescentes se distribuem de forma irregular
e imprevisível no que resta dessa floresta.
No caso da nova espécie
descrita, ela foi encontrada depois que os
pesquisadores fizeram o levantamento de cerca
de 33 fragmentos de floresta, entre os estados
de Pernambuco e Alagoas. Um pequeno grupo
de 5 indivíduos foi avistado na Usina
Trapiche, uma propriedade particular localizada
aos sul de Pernambuco. A usina realiza um
programa de restauração de suas
matas e possui importantes fragmentos de floresta
na propriedade.
Dos 56.400 km2 de floresta
original da Mata Atlântica, ao norte
do rio São Francisco, sobraram menos
de 2.000 km2 (menos de 4% da área original)
de florestas, em sua grande parte dominadas
por áreas em processo de regeneração,
distribuídos em pequenos fragmentos
(abaixo de 50 hectares). A destruição
da floresta nesta região é muito
antiga, e é decorrente do uso e ocupação
do território desde a época
do Brasil Colônia.
A Mata Atlântica do
Nordeste, acima do rio São Francisco,
é denominada Centro de Endemismo de
Pernambuco, pois a região apresenta
várias espécies endêmicas,
ou seja, não encontradas em nenhuma
outra parte do planeta. Para Luiz Paulo Pinto,
diretor sênior de Biomas da Conservação
Internacional, "a descoberta dessa espécie
nova mostra, mais uma vez, a riqueza biológica
e as surpresas que a Mata Atlântica
ainda proporciona. Mesmo sendo o bioma mais
bem estudado do Brasil e já bastante
alterado, ainda temos muito que aprender com
essa floresta. O porco-espinho novo da Mata
Atlântica do Nordeste se junta a outras
701 espécies de mamíferos já
registrados para o Brasil. Em média
duas novas espécies de mamíferos
foram descritas no país semestralmente
nesses últimos 20 anos. A Mata Atlântica
e a Amazônia foram os biomas com o maior
número de descobertas. Esses números
reforçam o Brasil como um país
de megadiversidade e a grande responsabilidade
que temos para manter esse patrimônio."
Os pesquisadores acreditam
que, para reverter o processo de degradação
da Mata Atlântica nessa região,
é preciso uma nova abordagem, criando
uma rede de paisagens sustentáveis
e ampliando a conectividade entre os remanescentes
florestais, que torne possível a manutenção
e regeneração da floresta associado
ao desenvolvimento econômico e bem estar
da população local. “Essa belíssima
descoberta vem a corroborar a importância
biológica dos remanescentes de Floresta
Atlântica do Nordeste que, apesar de
possuir o pior cenário de remanescentes
de habitats naturais do Brasil abriga uma
riqueza de espécies ainda pouco conhecida.
Essa nova espécie vem a trazer mais
evidencias para o aumento dos esforços
de conservação nessa região.”,
salienta Severino Rodrigo Ribeiro, diretor
do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste
– CEPAN e Pós-doutorando do Laboratório
de Ecologia Vegetal da UFPE.