19 Abril 2013 | Por Geralda
Magela - (Brasília- DF) - O governo
de Goiás inicia na próxima terça-feira
(23) uma série consultas públicas
para discutir a criação de três
novos parques em áreas
do Cerrado, no nordeste de Goiás: São
Bartolomeu, Serra da Prata e Rio São
Félix. As audiências serão
realizadas pela Secretaria de Meio Ambiente
e dos Recursos Hídricos do Estado de
Goiás (Semarh), com a assessoria da
Fundação Pró-Natureza
(Funatura), nos municípios goianos
de Nova Roma, Alto Paraíso, Monte Alegre
e Cavalcante.
As propostas foram elaboradas
pelo governo levando em conta o estudo de
Áreas Prioritárias para a Conservação
no Estado de Goiás, elaborado WWF-Brasil
e parceiros, em 2004. Financiado pelo Banco
Mundial, o projeto forneceu subsídios
técnicos para que o estado possa cumprir
o seu compromisso com o Banco de duplicar
a sua área em unidades de conservação
de maneira eficiente e representativa. A análise
identificou 40 regiões prioritárias
para a criação de novas unidades.
“A conservação
de remanescentes naturais e de alvos específicos
é fundamental para a manutenção
de biomas tão ameaçados como
o Cerrado. Por isso, a iniciativa de Goiás
é muito positiva, pois irá proporcionar
um aumento das áreas protegidas no
Cerrado”, destaca a secretária-geral
do WWF-Brasil, Maria Cecília Wey de
Brito.
Além disso, de acordo
com ela, irá contribuir para que o
Governo brasileiro alcance as suas metas de
conservação de parcelas representativas
de todos os biomas do país. “Metas
essas que foram estabelecidas de acordo com
os compromissos firmados pelo Brasil na Convenção
sobre Biodiversidade Biológica, das
Nações Unidas”, destaca.
Considerado a “caixa d´água
do Brasil” - pelo fato de abastecer grandes
aquíferos e bacias hidrográficas
do país - o Cerrado conta com apenas
3% de sua área protegida por Unidades
de Conservação (UCs). O bioma
já perdeu metade de sua vegetação
natural e o restante está muito fragmentado,
tendo 40% de sua área ocupada pela
agropecuária.
Segundo informações
da Funatura, essa região no nordeste
de Goiás onde os parques estão
sendo propostos abriga os maiores remanescentes
naturais de várias formações
únicas do Cerrado, algumas entre as
mais ameaçadas de desaparecimento da
natureza. O conjunto dos três parques
abrange desde os campos rupestres de altitude,
cerrados, cerradões e a mata seca do
vale do rio Paranã.
Todos esses ecossistemas
possuem espécies únicas, que
só existem ali, algumas ainda sendo
descritas pela Ciência. Nessa região
também estão as cabeceiras de
rios que formam a bacia do rio Tocantins,
cujas águas abastecem as cidades e
são utilizadas nas atividades agropecuárias.
Além da conservação
dos recursos naturais, a categoria parque
ecológico possibilita a expansão
e consolidação do turismo de
aventura e do ecoturismo. Esse componente
é muito importante para a economia
local, uma vez que essa região do nordeste
do Estado possui alguns dos municípios
de maior carência econômica e
social. E o turismo ligado à natureza
pode se tornar uma opção de
renda para a população.
De acordo com Maria Cecília,
a criação dos parques é
um exemplo de visão de planejamento
governamental que busca conciliar o desenvolvimento
econômico à proteção
da biodiversidade e dos ecossistemas. “Esperamos
que as consultas públicas alcancem
o resultado proposto e os parques sejam criados
e implementadas. O Cerrado precisa muito dessas
áreas para manter a sua biodiversidade
e continuar nos oferecendo serviços
ecológicos essenciais, como a água”,
destaca.
Apoio à gestão
de UCs
O WWF-Brasil sempre estimulou
as políticas públicas voltadas
para a criação e implementação
de áreas protegidas nos biomas que
atua, com destaque para o Programa de Áreas
Protegidas da Amazônia (ARPA), apoiado
pela ONG desde 2002. Outra ferramenta disponibilizada
é o Observatório de Unidades
de Conservação. Lançado
há um ano, o site reúne, em
um único local, dados essenciais para
o conhecimento, monitoramento e avaliação
das Unidades de Conservação
(UCs) no Brasil.
A organização
também apoia a melhoria da gestão
das UCs. Um dos trabalhos realizados nesse
sentido é a aplicação
do Rappam, Método para a Avaliação
Rápida e Priorização
da Gestão de Unidades de Conservação
(Rapid Assessment and Priorization of Protected
Area Management, em inglês).
A metodologia - construída
pela Rede WWF - tem objetivo contribuir para
o desenvolvimento de políticas adequadas
à proteção de sistemas
naturais e para o fortalecimento das áreas
protegidas. O WWF-Brasil aplicou e publicou
os resultados da avaliação de
mais de 470 UCs no país e está
finalizando a publicação do
Rappam de Goiás.
O analista de Conservação
do programa Cerrado Pantanal, do WWF-Brasil,
Júlio César Sampaio, vê
na criação dos parques um desdobramento
muito positivo desse trabalho realizado em
Goiás, com o estudo das áreas
prioritárias e o Rappam. “Esses estudos
são ferramentas importantes porque
ajudam o estado a planejar e a melhorar o
seu sistema de Unidades de Unidades de Conservação
e, consequentemente, a ampliar a conservação
do Cerrado”, afirma.