10
Abril 2013 | Por Jorge Eduardo Dantas - Apuí
(AM) - “Quatro pessoas de nossa comunidade
foram contratadas para atuar na vigilância
do flutuante, então ele já está
nos ajudando de alguma forma, gerando renda
para essas pessoas. Espero que ele nos ajude
mais ainda, fazendo com que médicos
e professores venham para cá com mais
frequência”.
Foi com essas palavras que o ribeirinho Antônio
Fábio Fernandes, 47, conhecido como
“Juruna”, recebeu a inauguração
de uma base flutuante no interior do Parque
Nacional do Juruena, na região situada
entre o Amazonas e o Mato Grosso. O evento,
organizado pelo WWF-Brasil em conjunto com
o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio), ocorreu no dia
27 de março último.
A inauguração
durou uma tarde e foi composta de um simbólico
corte da faixa inaugural; de uma reunião
com comunitários da Barra do São
Manoel, a comunidade ribeirinha mais próxima
daquela área; e visita a Unidades de
Conservação adjacentes, como
a Reserva de Desenvolvimento Sustentável
(RDS) do Bararati, no Amazonas.
Base já está operando
O flutuante, embora tenha
sido inaugurado recentemente, já opera
desde o ano passado. Ele serve como instrumento
de apoio às ações de
fiscalização e proteção
daquela Unidade de Conservação;
e também será utilizado como
base para pesquisadores que porventura queiram
realizar trabalhos científicos ali.
Ele tem 14 metros de comprimento,
seis metros de largura, 11 cômodos e
pode suportar até 20 toneladas. Possui
quartos para oito pessoas, cozinha, sala de
comunicações e reunião,
dois banheiros e área de serviço.
O equipamento conta ainda
com estruturas que visam reduzir seu impacto
ambiental, como sistema de captação
de energia solar e estação de
tratamento de efluentes, e pode ser “rebocado”
pelo interior do Parna Juruena. O custo total
do flutuante foi de pouco mais de R$ 580 mil,
pagos pelo WWF-Brasil a uma empresa terceirizada
que construiu e equipou a base.
Promovendo a conservação
O evento de inauguração
teve início na Barra de São
Manoel, onde uma pequena pista de pouso, feita
de terra batida, recebeu os aviões
monomotores que traziam os profissionais que
vinham de outros Estados. A chegada de três
aeronaves em apenas uma manhã mexeu
com a rotina da comunidade, habituada a um
único pouso semanal por ali. Em seguida,
os presentes foram levados ao flutuante, onde
foi cortada a faixa que marcou a inauguração
do equipamento.
Na ocasião, o presidente
do ICMBio, Roberto Vinzentin, contou que a
inauguração do flutuante é
uma forma do poder público se fazer
mais presente na área. “Estamos aqui
reforçando os nossos objetivos de promover
a conservação desta região,
além de reafirmar nosso objetivo de
estar mais perto das comunidades. Queremos
trabalhar junto com elas e ajudá-las
a melhorar suas vidas”, falou.
Apoio no desenvolvimento
socioambiental
A gestora do Parque Nacional do Juruena, Lourdes
Iarema, disse que o flutuante vai ajudar na
gestão participativa daquela área
protegida. “Esta base significa uma importante
conquista à conservação
da biodiversidade, pois teremos condições
de integrar as ações do Instituto
com ações das comunidades e
de outras instituições que trabalham
por aqui”, declarou a analista ambiental.
Lourdes afirmou ainda que
o flutuante será essencial na realização
de outras atividades, como pesquisa científica,
e que o equipamento vai auxiliar também
na proteção do patrimônio
natural e no desenvolvimento socioambiental
da região.
O superintendente de conservação
do WWF-Brasil, Mauro Armelin, lembrou que
a ideia de construir o flutuante surgiu há
dois anos, e que esta proposta demandou muitas
conversas e articulações com
o ICMBio, num processo que exigiu muito das
duas organizações. “Digo, emocionado,
que esta inauguração é
o evento com maior simbolismo do qual já
participei”, disse, entre risadas.
Reunião com comunitários
Mauro destacou o trabalho
conjunto feito pelo WWF-Brasil e pelo Instituto,
e lembrou que o WWF-Brasil acredita em parcerias
construtivas, em que os trabalhos são
feitos conjuntamente, dividindo responsabilidades
e compartilhando os méritos.
O segundo momento da inauguração
contou com uma reunião realizada num
centro comunitário da Barra de São
Manoel. A comunidade aproveitou a presença
do presidente do ICMBio e de seus técnicos
para entregar uma carta com reivindicações.
No documento, eles pediam ajuda para promover
a conservação da área
e melhorar os serviços essenciais por
ali, como saúde e educação.
Além do presidente
do ICMBio e do superintendente do WWF-Brasil,
também estiveram presentes na inauguração
do flutuante técnicos das duas instituições;
comunitários da Barra de São
Manoel; o vice-prefeito de Apuí (AM),
Delmar Hister; alguns vereadores da cidade
e técnicos da Secretaria de Desenvolvimento
Sustentável do Amazonas (SDS-AM).
A Barra de São Manoel
é uma comunidade surgida em 1901, segundo
os próprios comunitários, resultado
dos fluxos migratórios ocorridos no
interior da Amazônia durante o ciclo
da borracha, no início do século
passado. Ela é habitada por 60 famílias,
que totalizam quase 400 pessoas. A comunidade
fica no município de Apuí (AM)
mas, devido à distância em relação
a esta cidade, também recebe assistência
de Jacareacanga, cidade do sudoeste do Pará.