Brasília (20/05/2013)
– Durante o período reprodutivo, machos
e fêmeas de tartarugas marinhas migram
entre os locais de alimentação
e de reprodução, chegando a
percorrer até milhares de quilômetros
entre uma e outra área. Pesquisa desenvolvida
pela veterinária Daphne Wrobel Goldberg,
do Projeto Tamar, mostra como e por que esses
animais armazenam energia e nutrientes no
período que antecede a cópula,
enquanto ainda se encontram nas áreas
de alimentação, e por que, depois
das desovas, precisam retornar às áreas
de alimentação.
A pesquisa faz parte da
tese de doutorado defendida em janeiro por
Goldberg no Programa de Pós-graduação
em Biociências da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ). O projeto Tamar
é desenvolvido há anos pelo
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação
das Tartarugas Marinhas (Tamar), do Instituto
Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio), com sede nacional
na Praia do Forte, na Bahia, e bases espalhadas
por vários pontos do litoral brasileiro.
O estudo mostra que o apetite
de fêmeas em nidação (formação
do ovo na mucosa uterina) é regulado
por fatores neuroendócrinos. Entre
os hormônios relacionados ao metabolismo
energético estão a leptina,
um peptídio anorexígeno, e a
grelina, um orexígeno, ambos já
isolados de répteis. Foram coletadas
amostras de sangue de 41 tartarugas de pente
(Eretmochelys imbricata), durante duas temporadas
reprodutivas (2010/2011 e 2011/2012) monitoradas
e registradas pelo Projeto Tamar, no litoral
do Rio Grande do Norte.
Os níveis de leptina
(que garante a saciedade) no sangue das tartarugas
diminuíram significativamente ao longo
do período de desovas, o que explica
a busca por alimentos ao término da
temporada. Foi registrada uma tendência
crescente nos níveis séricos
de grelina (que estimulam o apetite), fator
que também justifica a remigração
para as áreas de alimentação
no fim do período.
Como explica a pesquisadora,
é possível que a maior parte
dos indicadores nutricionais presentes no
sangue, como gorduras, proteínas e
sais minerais, tenha apresentado redução
gradativa devido ao estresse fisiológico
decorrente da formação dos ovos
e das repetidas posturas, que podem chegar
a sete. A pesquisa comprovou ainda que o fato
das fêmeas não se alimentarem
durante o período das desovas é
o principal responsável pelas alterações
no peso, cujas perdas podem ser de até
11%.