29/05/2013 - 6h22
Meio Ambiente
Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Mais de 1,2 mil toneladas
de agrotóxicos proíbidos no
país desde a década de 1980
foram recolhidos no Paraná. A principal
substância devolvida pelos agricultores
do estado foi o BHC ou hexaclorobenzeno. Os
defensivos fazem parte da lista dos 21 Poluentes
Orgânicos Persistentes, conhecidos como
POPs na lista da Convenção de
Estocolmo. Pelo tratado ratificado por diversos
países em 2004, diversas substâncias
devem ser extintas por causar grandes males
à saúde humana e ao meio ambiente.
No Paraná, pelo menos
2 mil agricultores aderiram ao programa criado
pelo governo, por fabricantes de agrotóxicos
e por representações do setor
produtivo, como o Instituto Paranaense de
Assistência Técnica e Extensão
Rural (Emater), a Organização
das Cooperativas do Estado do Paraná
(Ocepar) e a Federação da Agricultura
do Estado do Paraná (Sistema Faep).
O uso intenso desses defensivos
no estado ocorreu até o fim dos anos
1970, quando o Paraná era apontado
como um dos principais produtores de café
do país e os defensivos eram usados
para evitar pragas resistentes nessas plantações.
Com a geada que afetou as lavouras em 1975,
queimando milhões de pés de
café, os produtos excedentes ficaram
guardados nos imóveis.
“O estado tinha um problema
com produtos obsoletos. Esses defensivos foram
banidos em 1985, mas ainda tinham registros
no estado e estavam escondidos nas propriedades.
Se o agricultor declarasse a posse, teria
que se responsabilizar pela disposição
final do produto, que é cara e pouco
conhecida. Sem solução, ele
deixava aquilo na propriedade”, contou João
Rando, diretor-presidente do Instituto Nacional
de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV),
que representa a indústria fabricante
do produto e o sistema de logística
reversa de embalagens do produto, conhecido
como Sistema Campo Limpo.
A tentativa de recolher
os defensivos começou em 2009, quando
os agricultores que tinham essas substâncias
estocadas começaram a declarar a posse
do material com a garantia de isenção
de qualquer penalidade, já que as substâncias
não poderiam ter sido guardadas. Mais
de 2 mil agricultores e instituições
declararam a existência de mais de 600
toneladas do produto inicialmente.
“A partir daí, estabelecemos
a logística para que o agricultor pudesse
devolver o produto, com as cooperativas, a
Federação de Trabalhadores e
as secretarias de governo [Meio Ambiente e
Agricultura]. Criamos armazéns temporários
para recolher tudo que, depois, foram desmontados.
Todo o produto foi incinerado em condições
adequadas”, disse Rando, lembrando que o programa
durou nove anos, desde os primeiros debates
sobre a situação no Paraná,
iniciados em 2004.
A quantidade de defensivos
entregue no ano passado superou as expectativas
iniciais do grupo e a nova estimativa passou
a ser a retirada de mais de 1,2 mil toneladas
do campo, que foi concluída neste mês.
O projeto tirou do meio ambiente esse volume
de produto que colocava em risco a questão
ambiental e a saúde”, completou.
Especialistas explicam que
os medicamentos e os agrotóxicos como
o BHC estão entre os mais persistentes
no ambiente, podendo ser absorvidos por animais
em toda a cadeia alimentar e alcançar
os seres humanos, provocando doenças
nervosas, imunológicas, reprodutivas
e câncer.
Segundo Rando, o estado
de São Paulo está desenvolvendo
um programa nos mesmos moldes do projeto paranaense.
Mesmo ocupando uma área maior, o uso
de defensivos pelos agricultores paulistas
não deve superar a marca do Paraná.
“Esse trabalho passa a servir
como modelo. O projeto de São Paulo
já tem quase dois anos e, como os POPs,
não são um problema exclusivo
do Brasil, esse programa pode ajudar até
outros países que têm que eliminar
essas substâncias”, concluiu.