Brasília (28/05/2013)
– Biólogos de várias instituições
acabam de realizar pesquisa de campo no estuário
dos rios Timonha e Ubatuba, entre os estados
do Piauí e Ceará, no trecho
que vai de Cajueiro
da Praia (PI) até Chaval (CE), para
identificar aspectos ecológicos que
subsidiem ações de conservação
do peixe-boi marinho, o mamífero aquático
mais ameaçado de extinção
no Brasil.
Durante dias, eles fizeram
monitoramentos e colheram dados sobre a presença,
sazonalidade e as áreas mais importantes
para a conservação do animal,
além de sua biologia e ecologia. O
resultado dos trabalhos deixou todos bastante
animados. Em alguns momentos, foram flagrados
mais de 20 exemplares do peixe-boi em pontos
distintos. Entre os animais avistados, havia,
inclusive, fêmeas acompanhadas por seus
filhotes.
“Essa quantidade nunca foi
avistada por aqui. O peixe-boi é um
animal de hábito solitário e
a formação de grupos acontece
em período reprodutivo da espécie”,
comemorou o analista Heleno Francisco dos
Santos, da base avançada do Centro
de Pesquisa e Conservação de
Mamíferos Aquáticos (CMA), do
Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio).
Projeto
O CMA mantém o projeto
Peixe-Boi. Com sede nacional em Itamaracá
(PE) e patrocínio da Petrobras, o projeto
desenvolve ações de proteção
e pesquisa. No momento, gestores do centro
fazem, entre outras coisas, o mapeamento genético
do peixe-boi marinho. Os dados servirão
para definir estratégias de conservação
do animal.
Segundo a pesquisadora Katherine
Fiedler Choi, doutoranda em Ciências
Marinhas Tropicais na Universidade Federal
do Ceará, que participou dos trabalhos,
a ideia é consolidar os estudos e pesquisas
de dinâmica populacional do peixe-boi
marinho, com ênfase em estimativa de
abundância, densidade e tendências
populacionais.
“Estamos promovendo estudos
sobre comportamento, determinação
de área e uso de habitat do peixe-boi
marinho com ênfase em alimentação
e reprodução nas principais
áreas de ocorrência. Isso vai
permitir definir as áreas prioritárias
para conservação do peixe-boi
marinho, além de avaliar e divulgar
os impactos das atividades de carcinocultura
e salinas sobre o animal”, explicou a bióloga
marinha.
Plano de manejo
Ainda segundo ela, os resultados
obtidos nesse trabalho também subsidiarão
a elaboração do plano de manejo
do Refúgio de Vida Silvestre do Peixe-boi
Marinho, unidade de conservação
(UC) que se encontra em processo de criação
na região e do plano de manejo da Área
de Proteção Ambiental (APA)
Delta do Parnaíba.
Dados do CMA indicam que
existam hoje na natureza cerca de 500 peixes-bois
marinhos. Eles habitam áreas do litoral
que vai de Alagoas ao Amapá, sendo
considerados extintos nos estados do Espírito
Santo, Bahia e Sergipe.
O estuário dos rios
Timonha e Ubatuba abriga uma população
de peixes-boi marinhos ainda pouco estudada.
O uso do sonar de varredura lateral de alta
definição, que possui GPS acoplado,
permite determinar as áreas de ocorrência
de peixes-boi marinhos e possivelmente o número
de animais que habita o estuário, respondendo
às questões sobre estimativa
de abundância, densidade e área
de vida.
A utilização
do sonar de varredura lateral é inédita
para o Brasil, com relação ao
peixe-boi marinho, e junto com os estudos
de bioacústica, proverão novas
metodologias para a conservação
da espécie, podendo ser utilizados
em outras áreas de sua ocorrência.
Um levantamento feito no início da
década 90 estimou que a população
de peixe-boi marinho localizada na costa do
Piauí era de um grupo de nove a 14
animais.